Amor Falso - Série Endzone - Livro 3

6

Você não pode sentir nada,
Que o seu coração não queira sentir.
(Broken Strings - James Morrison)

2016 - setembro
Will

Depois de um verão onde fui obrigado a participar de uma viagem da família para um acampamento zen, voltar pra escola não foi um martírio e sim um presente dos deuses. O acampamento foi uma ideia da minha psicóloga para eu ter um tempo para refletir sobre a minha vida, só não achei que "um tempo" eram duas semanas.

— E aí, Victor? — cumprimentei o cara.

Ele olhou para o armário, para mim, armário novamente e então eu.

— Opa, espera aí, isso é Williams Bradbury animado? Cadê a imprensa para cobrir o fim do mundo? — brincou — Senti falta desse lado seu, cara.

— Percebi que haviam outras coisas ruins no mundo, como por exemplo: ficar duas semanas calado, longe de qualquer civilização e ouvindo a Talita discorrer sobre o sabor de chiclete favorito dela, mesmo com o monge pedindo silêncio gestualmente toda hora. Ela faltou na aula do que era silêncio quando Deus estava preparando ela para nascer, não é possível. Cadê o capitão? Preciso falar com ele que vou continuar no futebol.

No final do ano letivo, com todo o inferno que aquela garota de olhos lilases armou, eu escolhi deixar o esporte. Perdi a final, mas o Zack enviou uma medalha pra mim mesmo assim. Olhar para ela no fim de semana todo, quando voltei pra casa, me fez pensar melhor. Eu não vou deixar as péssimas escolhas da Heaven interferirem na minha vida.

— Graças a Deus, Will. Já estava me desesperando por achar que o Trey seria nosso único cornerback. Ele é bom, mas vocês dois juntos derrubam tudo. O Zack está com o Marcus na diretoria, eles estão olhando a papelada da nova jogadora do time.

— Aquela garota do Legion? — assobiei. — Como conseguimos esse feito?

Ele deu de ombros.

— Não sei, mas o Marcus está tão feliz quanto quando a Heaven passa de ano.

Rosnei ao ouvir o nome daquele inferno que me acompanha desde o início do ensino médio.

— Ela não se mudou pra Califórnia ainda? Podia ir morar com aquele engravatado que chama de namorado logo.

— Cara, não deixa o Marcus te ouvir dizer isso. Ela é filha dele, se você esqueceu.

Balancei a cabeça irritado, e joguei o que precisaria na mochila, indo pra sala. Minha primeira aula foi com o nojento do Robert, o sanguessuga do jornal da escola que cedeu a coluna dele para a Heaven publicar aquela matéria. O jornal é todo dividido entre colunistas, e a blasfêmia ocupou mais do que a parte dela podia, ganhando a parte desse fotógrafo irritante.

— Você acha que esse ano eu consigo uma matéria com o Derren na capa? — perguntou atrás de mim.

— Eu acho que esse ano você finalmente ganha seu passe para fora da escola.

— Vocês jogadores são todos metidos assim?

— Quando você ajuda as pessoas a invadirem nosso espaço pessoal? Sim.

Já fiquei nervoso por aquele babaca estar na turma, quando o professor anunciou que teríamos um trabalho pontuado sobre um livro que, aparentemente, todos os americanos tinham lido, me desesperei.