VIII

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Foi uma dor lancinante. Seus próprios gemidos agora se somavam ao choro longínquo. Os espinhos, como longas e cinzentas seringas de madeira, rasgando sua roupa e pele, perfurando sua carne, sem misericórdia. Não queria nem olhar para os seus pés, sequer pensar neles, pois sabia que ao fazer isso acabaria desmoronando. Um rastro de sangue demarcava cada um de seus passos. O pupilo fez o melhor que pôde para proteger o rosto enquanto abria caminho pelos arbustos, mas não era fácil. Os sussurros sínicos soprados aos seus ouvidos não o deixavam em paz. Queriam suscitar o desespero em seu coração, aquele desespero que lhe toma o restante de sanidade. Mas o choro da criança não deixava. Aquela dor que ele ouvia nos lamentos dela doíam nele também. Foi o que o manteve ali, compelido a atravessar o inferno para buscá-la, mesmo quando já não tinha força alguma.

De que modo obteve êxito, o pupilo nunca saberia explicar, mas por fim encontrou uma clareira onde, embrenhada entre troncos retorcidos daquela mesma planta espinhenta, havia uma menina que chorava.

Devia ter uns doze ou treze anos de idade, a menina. Estava toda suja, esquálida, tremendo de frio. Vestia um pedaço de pano fino de algodão: um vestido velho e esfarrapado com uma estampa desbotada de flores. Ferimentos leves cobriam todo seu corpo, mas um de seus braços dobrava na altura do cotovelo num ângulo estranho. Havia sangue seco encrostado por entre suas pernas finas, das coxas aos joelhos. Mas foi quando o pupilo retirou o cabelo desgrenhado de sobre o seu rosto delicado que teve vontade de chorar também. Onde deveria haver as feições de uma menina havia no lugar nada além de sangue, pus e lágrimas. Hematomas, edemas e escoriações. Um de seus olhos não abria, o supercílio inchado não o permitia. O outro olho, arregalado, o pupilo viu, era castanho.

— Quem fez isso com você, pequena?

— Foi... você! — ela disse, aterrorizada.

Caminhos de Céu e InfernoWhere stories live. Discover now