• Monstro •

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Dor.

Uma fisgada de dor me despertou. Abri os olhos pesados, estava em algum lugar escuro, no chão, vi alguns pequenos buracos no teto, o que fazia com que uns filetes de luz adentrassem o cômodo, mas ainda sim não eram suficientes para iluminar. Não havia janelas ou se haviam estavam muito bem fechadas.

Estava tudo meio que denso...acho que me drogaram...Tentei me mover e soltei um gemido ao sentir a tensão de meus músculos. Notei que estava com mãos e pés atados.

- Sam...- escuto a voz de meu tio.

- Estou aqui tio - respondo meio grogue e com a voz arrastada - Onde estamos?

- Depois que você levou a pancada e desmaiou eu tentei lutar, mas eles eram muitos então acabei nocauteado. Eles nos arrastaram pela rua e nos jogaram nesse galpão.

- Então estamos dentro da cidade?

- Infelizmente sim.

- Mas é algum lugar afastado o suficiente pra eu explodir isso aqui?

- Infelizmente não, esse galpão velho fica no fim de um beco. Se colocar fogo aqui, pega os estabelecimentos ao redor.

- Merda...aii - tento me mecher, mas minha perna está doendo muito.

- O que foi?

- Nada não.

Me arrastei vagarosamente para onde imaginei ser uma parede. Com os olhos já acostumados ao escuro me orientei melhor. Com minha cabeça falhada do jeito que estava não era seguro arriscar nada.

As dobradiças rangeram e um homem surgiu na porta. A claridade vinda de fora feria meus olhos. Ele jogou uma bandeja com dois pães secos no chão.

- Aproveitem o banquete - Diz gargalhando.

- Espera! O que vão fazer com a gente? - rosno.

- Acho que posso falar..., seu papaizinho vai ser vendido como escravo. Já você lindinha talvez vire nosso brinquedo pessoal...ou talvez a vendamos também. Depende do quanto pagarem por ele - aponta com a cabeça pro meu tio indo embora em seguida. Ele não sabe com quem está mechendo.

- Não vai comer? - Meu tio pergunta.

- Pra que? Provavelmente isso está drogado também.

- Também acho.

Estou encostada na parede, recostei a cabeça e me permiti um suspiro. Um, dois, inspira, três ,quatro, expira. Pensa Samhara, pensa.

Na verdade não pense. Sinta, inspira, expira, sinta o ar, isso garota, sinta você, a atmosfera.

As coisas pareciam ficar menos densas a medida que repetia esse processo. Foco e concentração...não estava cem por cento, mas já era algo.

Procure uma saída...sinta uma saída...sinta o que está ao seu redor...na frente, atrás, dos lados, em cima, em baixo.

Em baixo.

O chão! O chão não é de madeira. O chão é só terra. Me permiti um sorriso.

Sinta o solo.

Respirei fundo, me concentrei como se eu mesma fosse o solo. Como se eu fosse a terra e as pedras...

Consegui sentir a movimentação de minhocas e outros insetos como se fosse em minha pele. Me acostumei a agonia do início. Isso é difícil, se eu não tomar cuidado posso afundar tudo e soterrar nós todos. Ou causar um tremor na cidade inteira.

É como mover um braço...não, grande demais. Talvez uma mão...ainda grande demais. Mecher apenas o dedo mínimo...isso. Ali naquele canto...por baixo da porta...bem embaixo...bem fundo...

 Rainha Negra: A Guerra Where stories live. Discover now