O dia amanheceu fúnebre.
O odor dos corpos em deterioração invade nossas narinas carregado pela brisa gélida da alvorada. Os abutres e corvos dividem o café da manhã espalhando ainda mais o cheiro forte do sangue de tantas espécies misturadas.
Ninguém dormiu. A preocupação em se manter vivo foi maior que qualquer sono que ousasse bater à porta. Apesar da alegria da primeira vitória, o cenário não é muito inspirador para que nos sintamos confortáveis e completamente confiantes. O que de certa forma é até bom, afinal confiança demais gera erros em demasia.
Além do nosso aconchegante local de descanso, muitos perderam amigos e irmãos ontem a tarde, e a vitória não os traz de volta. Até mesmo o céu, acaba por se cobrir em manto escuro como em sinal de respeito e luto pelos falecidos.
- Em que nossa comandante tanto pensa?
- Em nada importante. - respondo ainda sem tirar os olhos das nuvens cinzentas.
-Hm. Sabe, estou muito orgulhosa de você minha irmã. Se mostrou uma excelente líder ontem. Nos conduziu a vitória, e nossas baixas foram mínimas! Já vi generais experientes e renomados sucumbirem de formas humilhantes.
- Obrigada Cassandra. Mas ainda não acabou. E tenho péssimos pressentimentos sobre os próximos momentos. - começamos a caminhar entre as tropas.
- Qualquer que seja o problema, sei que resolverá - ela me vira de frente pra si e põe a mão em meus ombros - você é uma das pessoas mais capazes que já conheci Samhara. Olhe tudo que fez com apenas dezesseis anos! Não poderia me sentir mais feliz com a irmã que tenho.
- Agradeço a cada um que se juntou a mim. Sozinha não conseguiria nada.
- Duvido disso e duvido muito. Mas já que tocamos no agora, falemos do futuro. Já pensou no que vai fazer quando tudo isso terminar?
Na verdade sim. Só não sei o que fazer ao certo.
- Não me preocupei com isso ainda. Cheguei a vaguear algumas ideias, mas a única certeza é que não quero a vida de antes. Fingindo ser quem não sou. Cansei de bancar a humana disfarçada Cass.
- Sei como é. Era o que eu sentia antes da vida que levo hoje. Não irei lhe propor formalmente que venha comigo, sabe que assim que quiser tem um lugar a meu lado.
- Sei sim. E seria ótimo.
- "Seria", mas essa bruxa ai já está acorrentada a um certo lobo com síndrome de traça de biblioteca. Não é isso? - diz e me manda um olhar brincalhão acompanhado de um sorriso maroto.
- Completamente. Eu já senti na pele que não sou eu mesma sem aquela traça.
- É lindo ver que encontrou seu par tão cedo. Eu já observei tempo suficiente pra saber que o que há entre vocês não é nada superficial, muito menos passageiro.
Apenas sorrio com suas palavras. Não tenho muito o que dizer sobre isso, nem algo que ela ou todos já não tenham notado.
- Sabe quanta gente procura o que você encontrou a seis anos? O mundo inteiro. Essa ligação de alma, de espíritos que é tão forte e densa entre vocês dois. - ela suspira resignada - Então, pensa em voltar pra Wallya, ou ir a Illidya talvez?
- Para Wallya jamais. E em Illydia novamente eu fingiria a humana. Enfim, deixarei isso pra outra hora. Tenho preocupações mais urgentes.
- Claro, voltarei pra perto de algumas colegas. E Sam, adoraria tê-la comigo, caso mude de ideia, mesmo que por um tempo de experiência.
Ela some em meio as armas e armaduras.
Parece que não sou só eu a sentir essa sensação inquietante. A tensão é palpável enquanto cada um revisa suas armas, confere seus pertences, afiam lâminas e outras atividades.
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Rainha Negra: A Guerra
FantasyCapa por @AmericaConnorAC OBRIGADA FADA! Uma guerra esta para eclodir. Samhara , uma jovem de dezesseis anos, tem sua vida virada de cabeça pra baixo após ter de fugir de sua própria vila para não ser queimada viva em uma fogueira. Sim, ela é uma fe...