•Batalha final parte 2•

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O dia amanheceu fúnebre.

O odor dos corpos em deterioração invade nossas narinas carregado pela brisa gélida da alvorada. Os abutres e corvos dividem o café da manhã espalhando ainda mais o cheiro forte do sangue de tantas espécies misturadas.

Ninguém dormiu. A preocupação em se manter vivo foi maior que qualquer sono que ousasse bater à porta. Apesar da alegria da primeira vitória, o cenário não é muito inspirador para que nos sintamos confortáveis e completamente confiantes. O que de certa forma é até bom, afinal confiança demais gera erros em demasia.

Além do nosso aconchegante local de descanso, muitos perderam amigos e irmãos ontem a tarde, e a vitória não os traz de volta. Até mesmo o céu, acaba por se cobrir em manto escuro como em sinal de respeito e luto pelos falecidos.

- Em que nossa comandante tanto pensa?

- Em nada importante. - respondo ainda sem tirar os olhos das nuvens cinzentas.

-Hm. Sabe, estou muito orgulhosa de você minha irmã. Se mostrou uma excelente líder ontem. Nos conduziu a vitória, e nossas baixas foram mínimas! Já vi generais experientes e renomados sucumbirem de formas humilhantes.

- Obrigada Cassandra. Mas ainda não acabou. E tenho péssimos pressentimentos sobre os próximos momentos. - começamos a caminhar entre as tropas.

- Qualquer que seja o problema, sei que resolverá - ela me vira de frente pra si e põe a mão em meus ombros - você é uma das pessoas mais capazes que já conheci Samhara. Olhe tudo que fez com apenas dezesseis anos! Não poderia me sentir mais feliz com a irmã que tenho.

- Agradeço a cada um que se juntou a mim. Sozinha não conseguiria nada.

- Duvido disso e duvido muito. Mas já que tocamos no agora, falemos do futuro. Já pensou no que vai fazer quando tudo isso terminar?

Na verdade sim. Só não sei o que fazer ao certo.

- Não me preocupei com isso ainda. Cheguei a vaguear algumas ideias, mas a única certeza é que não quero a vida de antes. Fingindo ser quem não sou. Cansei de bancar a humana disfarçada Cass.

- Sei como é. Era o que eu sentia antes da vida que levo hoje. Não irei lhe propor formalmente que venha comigo, sabe que assim que quiser tem um lugar a meu lado.

- Sei sim. E seria ótimo.

- "Seria", mas essa bruxa ai já está acorrentada a um certo lobo com síndrome de traça de biblioteca. Não é isso? - diz e me manda um olhar brincalhão acompanhado de um sorriso maroto.

- Completamente. Eu já senti na pele que não sou eu mesma sem aquela traça.

- É lindo ver que encontrou seu par tão cedo. Eu já observei tempo suficiente pra saber que o que há entre vocês não é nada superficial, muito menos passageiro.

Apenas sorrio com suas palavras. Não tenho muito o que dizer sobre isso, nem algo que ela ou todos já não tenham notado.

- Sabe quanta gente procura o que você encontrou a seis anos? O mundo inteiro. Essa ligação de alma, de espíritos que é tão forte e densa entre vocês dois. - ela suspira resignada - Então, pensa em voltar pra Wallya, ou ir a Illidya talvez?

- Para Wallya jamais. E em Illydia novamente eu fingiria a humana. Enfim, deixarei isso pra outra hora. Tenho preocupações mais urgentes.

- Claro, voltarei pra perto de algumas colegas. E Sam, adoraria tê-la comigo, caso mude de ideia, mesmo que por um tempo de experiência.

Ela some em meio as armas e armaduras.

Parece que não sou só eu a sentir essa sensação inquietante. A tensão é palpável enquanto cada um revisa suas armas, confere seus pertences, afiam lâminas e outras atividades.

 Rainha Negra: A Guerra Where stories live. Discover now