• Fríada Ethelu •

224 24 87
                                    

Após a conversa com Jason, voltei ao palácio. Lá enfim encontrei com Ellyna e tio Ray e conversamos sobre o ocorrido. No dia seguinte fizemos uma reunião geral e infelizmente não havia solução para o problema do inverno.

Os dias se passaram dolorosamente lentos, nos confinando nas fronteiras da cidade, que gradualmente saiu das cores vivas para o mais puro branco da neve.

Como Yedryn disse, a barreira protege a cidade do fenômeno das fadas, mas a vegetação precisa do ciclo das estações, assim, o fenômeno fica fora, mas o inverno normal tem que acontecer.

Como eu fiquei com isso tudo? Vocês já devem imaginar, cientes do meu problema com "nãos".

Estou aqui nos portões, no limite da barreira protetora, me preparando pra tentar uma ligação com a natureza, e fazer com que passemos a área de atuação do Fríada Efhelu, nome dado ao acontecimento que significa "Inferno congelado" em Kieruh antigo.

Eu já havia mencionado isso na reunião, mas minha ideia foi recusada sob o argumento de ser muito perigoso, não só para mim como pra todo o território de atuação do Fríada. Em outras palavras, eu poderia desestabilizar todo o ecossistema, bagunçado minha mente, e ganhar a ira das fadas. Em minha interpretação, eles estão todos acovardados.

Portanto sim, estou aqui escondida dos outros. Os guardas não tem nenhuma ordem contra minha passagem, ou seja, posso ir e vir livremente.

Assim que cruzo os portões, o cenário muda. Se dentro da barreira tudo é branco, o vento é manso, e a temperatura agradável se você estiver agasalhado, do lado de fora o cenário é de um azul transparente.

Não é mais a neve que há aqui, é o mais puro e cristalino gelo. O vento que sopra é forte e sinto ele ferir meu rosto, não existe som algum, a não ser minha respiração, que inclisive lança fumaça branca a medida que expiro a brisa congelante.

É realmente macabro você não ouvir nada além do sopro sussurrante do vento. Ele parece mandar que eu vá embora. É como se todo resquício de vida existente nesse lugar tivesse ido embora, ou estivesse em um sono eterno, do qual não há sinais de que vá acordar algum dia. Jogo o capuz felpudo em minha cabeça para ao menos impedir que o ar cortante machuque minha pele.

Deixo minha mente se esvaziar por completo. Aos poucos não há problemas, não há Ellyna, não há Lucian, tio, Jason, Yedryn, não há guerra nem batalhas, nem mortes. Não há exatamete nada. Apenas eu, e a atmosfera como uma neblina a me rodear.

A imagino tomando forma, aos poucos a névoa em minha imaginação se torna uma sombra. Tento alcançá-la, me aproximo e estico a mão para tocar a sua. Cada vez mais próxima, tudo é denso como se estivesse em baixo d'água e meus movimentos limitados e lentos.

A poucos centímetros de sua "mão", uma luz irradeia dela e me cega ao passo que uma lancinante dor de cabeça me atinge, e acordo do transe levando as mãos a cabeça e involuntariamente soltando um grito.

Abro os olhos, vejo que tudo continua normal ao menos. Bem, primeira tentativa falha. Vamos a segunda.

Me reestabilizo, volto a me concentrar, e como da primeira vez, a luz novamente me atinge junto a dor e me empurram a força de volta a realidade.

Terceira tentativa. A mesma coisa. Quarta, sem sucesso algum, quinta, não há êxito.

Passaram-se muitos e longos minutos se não horas desde a última vez que contei em qual tentativa estava. A cada uma delas, eu ficava mais cansada, ao ponto que estou completamente exausta.

Não arrisco sentar ao chão, do jeito que está a puro gelo, não me surpreenderia se não levantasse mais devido a roupa se congelar ali.

Ofego trêmula. Mais uma vez.

 Rainha Negra: A Guerra Where stories live. Discover now