• Brigas e estrelas •

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Saímos do local dando no beco que meu tio havia falado. Andamos pelas  ruas até chegar em uma loja de roupas.

Escolhi uma calça de couro, uma blusa de mangas longas, um corpete com as fivelas trabalhadas na prata. Em meu próprio mini arsenal peguei duas cotoveleiras e as coloquei. Um par de meias luvas de couro  que deixavam meus dedos a mostra.

Coloquei em cada uma de minhas coxas um suporte para adagas, onde deixei os punhais que encontrei com os bandidos. Voltamos para o galpão, pois na frente dele haviam quatro cavalos. Meu tio pegou um marrom escuro com a crina branca, e eu peguei o completamente negro.

- Acho que você precisa de um nome -  digo de frente para o cavalo - que tal Devan? - perguntei acariciando seu focinho. Ele pareceu ter gostado.

- Devan? Vai dar um nome tão, sério pra ele? Ele parece tão mansinho. - Meu tio menciona. 

É a primeira vez que fala comigo desde sairmos do galpão.

- Não o subestime tio. Todos parecem inofensivos a primeira vista não? - montei.

Soltamos o outros cavalos e troquei o arco curto pelo longo. Tio Ray montou também e partimos lentamente pela cidade. Era por volta do meio do dia e andamos pelas ruas um pouco movimentadas até acharmos uma taverna para almoçarmos.

E cá estamos nós seguindo estrada a fora. O silêncio de meu tio é um tanto quanto desagradável, ele que é sempre alegre o carismático está simplesmente mudo, quieto.

Ele está mesmo chateado comigo?
Ele age como se eu tivesse massacrado criançinhas inocentes e não marginais.

- Tio?

- Sim?

- Aconteceu algo? O senhor está estranho, calado - perguntei emparelhando os cavalos.

- Só estou pensativo...- olhou para um ponto qualquer á frente.

- Eu sei que está decepcionado - suspirei - posso ver o pesar e a angústia estampadas em seus olhos. Sei que f...

- Sam - ele me interrompeu - eu sei que você estava se defendendo.

- Não eu não estava só me defendendo - o encarei.

Apesar das palavras ditas a pouco, eu vi em seus olhos que eram mentira. Ele sabia que não foi.

- Eu poderia tê-los matado rapidamente e eu não o fiz. Eu quis os ver gritar, eu quis os ver implorar. Eu os fiz sofrer simplesmente pela minha vontade e aproveitei cada instante de dor e agonia em seus rostos. Em cada grito, mas agora me diga: O senhor acha que eles não mereciam?

- Não somos ninguém para dizer quem merece o que - ele me encara de volta.

- Eram ladrões e estupradores! Eles destroem dezenas de vidas. Eles destroem dezenas de mentes. Um trauma, uma maldição que a pessoa carrega por toda a vida! - rosno de volta.

- O que você fez foi brutal. Foi selvagem!

- Eles também foram! - perco o controle e grito - eles iam me violentar...assim como fizeram com os Céus sabe quantas outras. Eles mereceram.

- E você se rebaixou ao mesmo nível - ele cospe as palavras com amargura.

- Jamais repita isso. Eu não sou igual a eles.

- Você agiu como uma bruxa negra - ele atira as palavras em mim.

Agora sim. Essas eram as palavras entaladas em sua garganta. Ele me comparou como uma bruxa negra. Eu era?

O encarei de volta.

- Sinto muito se eu sou o monstro dos seus pesadelos ao invés da princesa dos seus sonhos - cuspi as palavras com raiva e atiçei Devan que saiu em disparada.

 Rainha Negra: A Guerra Where stories live. Discover now