PRÓLOGO

285 50 55
                                    

O primeiro choro de uma criança é o símbolo do nascimento, do início da vida.

Era dia de festa em Adhelar. A alegria já havia se espalhado pela capital, Kalamar, pelas vilas, enfim, por todo o reino. O nascimento da princesa era o motivo da festa.

Pouco depois das dez badaladas do relógio, com o sol brilhando no céu e festividades tomando as ruas, Valenttia veio ao mundo.

Mas toda a alegria foi quebrada por uma notícia: a princesa tinha uma doença desconhecida. Ou seria uma maldição? Não chorava, não emitia sons, quase não se movia. Mal se alimentava.

As semanas se passaram e a alegria abandonou as ruas. Meses se seguiram e o povo se tornava cada vez mais apreensivo. O que seria da frágil e pequena princesa?

Com pouco mais de seis meses, Valenttia já tinha seus dias contados. Começou a rejeitar o leite da mãe e seus cabelos negros começaram a ralear. Ela estava magra e sem cor. Todos os sábios, curandeiros e feiticeiros tentavam descobrir a cura, mas os esforços foram em vão.

As notícias se alastraram como fogo, e logo uma multidão começou a se aglomerar ao redor do palácio. Pessoas vindas de todos os cantos de Adhelar pelo que já parecia inevitável.

A rainha chorava com a filha doente nos braços. O rei, secretamente, já fazia os preparativos para o velório da pequena princesa.

Era tarde da noite quando o coração de Valenttia parara de bater. Sua pele, já pálida, tornou-se branca como papel quase instantaneamente.

A princesa estava morta.

A rainha chorava tanto que teve de ser tirada de perto do corpo da filha, que foi deixado sozinho por poucos minutos, ainda em seu berço de ouro.

A multidão, ainda cercando o palácio, mergulhou em um enorme silêncio, iniciando as semanas de luto que viriam a seguir, como dizia a tradição. A rainha, por outro lado, gritava nos braços do rei, que também estava desolado.

Foi uma criada que ouviu o som vindo do quarto da princesa. Um choro agudo, estridente, cheio de vida.

A rainha foi a primeira a correr para o quarto da filha, seguida de todos aqueles que os cercavam naquele momento. O que encontraram foi tão surpreendente e tão incrível, que poucos foram capazes de, ao menos, tentar descrever.

A princesa não chorava mais, mas estava com os grandes olhos escuros abertos, encarando intrigada uma moeda de ouro que segurava na mãozinha direita. Havia cor em seu rosto. A princesa estava viva. E mais do que isso, estava curada!

Porém, o mais incrível de tudo eram os cabelos da princesa. Antes ralos e negros como a noite, haviam se tornado espessos e vermelhos como sangue.

—Minha filha está viva! — gritou o rei, seguido pelo choro de alegria da rainha, que foi logo tomar a filha nos braços.

—A princesa está viva! —o rei anunciou para o povo diante do castelo, e sua voz se fez escutar com a magia das centenas de magos e feiticeiros que ali se reuniam em meio ao povo. Mais uma vez a alegria se instalou por toda Adhelar e suas terras sem fim.

Ninguém sabia quem ou o que havia salvado Valenttia. Perguntas foram feitas, histórias foram criadas, contadas e recontadas, mas nunca se descobriu a verdade. Com o passar do tempo, aquilo não importava mais. A princesa estava viva e qualquer que tenha sido o milagre, permaneceria um mistério por muitos e muitos anos.

Tudo o que se sabia era que Valenttia, a Princesa dos Cabelos de Fogo, havia tapeado a morte.

As Crônicas de Adhelar - Livro 1 [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now