As Crônicas de Adhelar - Livro 1 [DEGUSTAÇÃO]

CAPÍTULO 1

Alee'Na Stryd estava sentada diante do bar. O copo em sua mão direita já estava pela metade, e ela não sabia dizer se a leve vibração sob sua pele era causada pela bebida ou pela antecipação. Ou os dois.

Ela era como uma atriz prestes a entrar no palco, ou uma acrobata diante da corda bamba. Não importava quantas vezes ela já tivesse feito aquilo, a sensação era sempre inebriante. Mas ela não estava nervosa. Não, não era nervosismo.

Era... entusiasmo. Empolgação. Excitação.

Ela ansiava pela sensação do poder, pelo frenesi da batalha, pelos gritos da multidão. E o peso do dinheiro em seu bolso no fim da noite também seria bastante agradável.

As Covas eram enormes cavernas subterrâneas localizadas sob um mercado de especiarias. Três arenas escavadas no chão de terra batida eram palco das maiores lutas entre magos de toda Kalamar. O longo bar se estendia por uma das paredes e, acima dele, três andares formavam os camarotes, de onde os espectadores dispostos a pagar mais caro tinham uma vista privilegiada das batalhas nas arenas abaixo.

O grande quadro na parede ao lado da entrada mostrava a programação de lutas da noite para cada uma das arenas. Alee'Na era a próxima a lutar na Arena III contra um homem que se apresentava como Gigante de Pedra.

Alee'Na tinha lutado contra ele há aproximadamente um mês e perdido por pouco. Mas aquela havia sido sua última derrota desde então.

—Não me parece uma boa ideia beber antes de uma luta— disse a voz vinda de trás dela.

Alee'Na não precisou se virar para saber que se tratava de Meltian, seu velho amigo. A pele escura do rapaz brilhava com o suor, resultado da batalha que ele tinha acabado de vencer na Arena II.

—Ajuda a relaxar— ela disse, girando o líquido azul dentro do copo.

Meltian se sentou ao lado dela e pediu a mesma bebida.

—Alee'Na Stryd está nervosa para uma luta? — ele zombou.

—Você me conhece melhor que isso, Meltian.

Ela virou o restante do conteúdo do copo ao som dos gritos da multidão ao redor.

—Eu ficaria nervoso no seu lugar — ele disse. — Você perdeu sua última luta contra ele e não quer perder novamente.

—Eu não vou perder. —Alee'Na olhou no fundo dos olhos negros de Meltian.

— Sei que não vai— ele sorriu levemente —,mas não tem nada de errado em estar nervosa.

Alee'Na apenas suspirou e não disse mais nada.

Mais uma onda de gritos anunciou o fim da batalha que acontecia na Arena III, o que significava que era chegada a vez de Alee'Na.

Ela sorriu para o amigo, deixando o copo vazio sobre o balcão, e atravessou a massa de corpos frenéticos.

— Alee'Na Stryd contra o Gigante de Pedra, arena número três! — anunciou uma voz reverberante.

Cada arena era um buraco retangular de aproximadamente três metros de profundidade, dez de largura e vinte de comprimento. Em cada aresta ficava uma tocha acesa. No chão havia um estreito canal escavado rente às paredes do buraco, por onde passava água corrente.

Água, ar, fogo e terra. Os quatro elementos estavam presentes ali para serem usados pelos lutadores, mas cada mago só poderia escolher um elemento para usar a seu favor na batalha.

Alee'Na se posicionou na borda da arena enquanto uma mulher amarrava as tiras da armadura no corpo dela.

A armadura cobria o tronco, deixando braços e pernas expostos, e era obrigatória para todos os lutadores. O capacete era opcional, e qualquer outra forma de equipamento de proteção era proibida.