Capítulo 25 -POV Lindsey Black

2K 327 40
                                    

Larguei Scarllet na praça para ver aquele bando de idiotas dançarem, tocarem e beberem, mas sei que daqui a pouco ela se cansa e volta. É claro que La Fiesta de Invierno é divertida, mas apenas nos primeiros quatro dias. A música é enjoativa e particularmente, me dá dor de cabeça.

Passo pelo mercado e vou em direção à padaria de Jacques.

Quando estou prestes a passar por uma esquina, um peso é pressionado contra meu busto e eu sou lançada contra a parede com uma espécie de violência delicada. Instintivamente agarro minha 38 e com a mão esquerda pego a faca curvada na minha cintura.

O homem, que para o meu desprazer, tão bem conheço, sorri presunçoso. Ajeita os cabelos cinzas como fumaça para trás e tira o cigarro da boca, arruma o sobretudo e encosta num poste. Me fita com seus olhos pretos como carvão que carregam uma expressão indescritível.

- Você já foi absolvido, Eneyas. - cuspo as palavras mas querendo cuspir em seu rosto. - Não tem mais nada a tratar comigo. Suma.

Ele sorri e pega um isqueiro no bolso, acende o cigarro e diz com voz mansa:

- Mas é claro que temos, gatinha.

- Suma. - rosno para ele.

- Sabe gatinha, me fizeram uma ótima proposta. - ele começa ignorando minha ordem.

- Eu onde eu entro nisso? - sibilo para o idiota.

- Você pode não saber, gatinha. Mas todo mundo que precisa do Coração para viver está louco atrás da garota que não sai de perto de você. - ele sorri e abre os braços como se quisesse um abraço. - Somos amigos não somos? Talvez mais do que isso, gatinha...

- Vá pro inferno. Não somos amigos, nem aqui, nem em lugar nenhum. - ergo a faca na direção dele. - Agora saia do meu caminho e fique longe da minha aluna.

Ele ergue as mãos me dando passagem, fazendo pouco caso da ameaça.

- Toque nela e você vai ver a 'gatinha' mostrando as garras. - finalizo caminhando em direção à padaria.

- Mal posso esperar.

Não respondo e caminho a passadas largas e pesadas, entro na tenda e sento num tapete. O cheiro de queimado sugere que a lareira está acesa ou que o fogão à lenha foi concertado.

Esse cheiro me traz lembranças que não poderão ser esquecidas.

"Rápido! Rápido! Rápido!" Grito para o imigrante que entra no vagão. O trem vai partir a qualquer segundo e não há nem sinal de Jacques. A procuro por todos os lados e ela não está aqui. Ouço o som costumeiro, o apito de partida faz PIUÍÍÍÍÍÍ, e quase estoura meus tímpanos. Droga, droga, droga! O trem começa a acelerar, e com ele se vai escapada de Jacques. Não posso deixar a filha da minha tia para trás, não quando sou a sua única chance. "Feche a porta, Lindsey!" Um dos fugidos grita temendo que sejamos sugados para fora. " Vai dar tempo!" Grito para ele. Se não fecharmos essa porta logo seremos descobertos e o plano irá por água abaixo. Mas uma pontada de esperança minúscula me instiga a arriscar. Ao longe a avisto, ela corre o mais rápido possível. Levando um menininho no colo. Ela o estende na minha direção para que entre no vagão. Sacrificaria sua chance de escapar por essa criança. Não sei se isso é compaixão ou burrice. Puxo o menino e o jogo para dentro. Estendo a mão para Jacques. "Não consigo mais correr!" Ela choraminga. " Você vai entrar nesse trem." Digo convicta. Seguro seu antebraço e ela agarra o meu, usamos toda nossa força, mas a velocidade, o vento e o tempo parecem não querer colaborar. O impacto nas minhas costas denuncia que conseguimos. "Quem é essa criança?" Pergunto ainda deitada, me recuperando. Ela sorri e segura o menino no colo. "Thadeu, seu primo. Meu filho" Levanto a cabeça e a observo incrédula.

As Crônicas de Rayrah Scarlett: Mistérios em Mondian [RETIRADA EM 25/01/22]Onde histórias criam vida. Descubra agora