Prólogo

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Capa feita pela LaisMaria07

Ela era um cadeado difícil de abrir, mas ele possuía todas as chaves dentro de si.

Valentim Del Torre

Não creio que o filho da puta do Álvaro havia me convencido de entrar em um puteiro. Meu casamento era insustentável? Sim. Eu estava vivendo uma recente desilusão? Estava, mas não era adepto a traições e nem a pagar mulher para descontar frustração.

O lugar até era elegante, limpo e organizado, mas não deixava de ser uma casa onde mulheres se vendiam para desconhecidos. 

O meu amigo e também gastroenterologista do hospital, estava em um universo paralelo, bebendo destilados há horas. Eu me mantive em um Grant's Scotch desde que saímos do PUB e viemos para cá. Os chopes haviam deixado minha visão turva. Para ser sincero, estava ficando louco mesmo. Bebia raramente.

  — Agora sim vai ficar bom — Álvaro comemorou virando toda a vodca do seu copo e o colocou em cima do nosso mezanino. 

 — Bom pra você que não usa um bambolê de ouro no dedo — resmunguei de volta.

Olhei curioso em direção ao palco, onde algumas luzes vermelhas se acenderam focalizadas no centro, o resto da casa noturna estava apagada. A sensação de estar em um prostíbulo era de ser um animal em período de caça, isso me fazia sentir mal ou sem integridade alguma por compactuar com algo tão desrespeitoso. Aquelas mulheres eram tratadas com completo impudor, não precisava ser inteligente para saber disso. Mas eu estava bêbado e queria extravasar.

Músicas repletas de luxúria invadiam o ambiente. Homens agiam instintivamente, levantando-se e colocando dólares nas poucas peças de roupas das prostitutas. Dois homens de preto faziam a segurança nas laterais do palco, caso algum imprevisto acontecesse. 

  — Estou no céu, Valentim. Estou no céu— meu amigo faltava se afogar na própria baba ao admirar as danças sensuais. 

Eu estava incomodado, confesso. Um incomodo dentro da calça, sendo mais específico. Minha vida sexual com Vivian era um fiasco, e ver aquelas mulheres cheias de volúpia despindo-se estava começando a me inquietar. Era um detalhe que todas estavam com o mesmo corte de cabelo no comprimento do pescoço, os fios pretos lisos e uma franja que cobria as sobrancelhas. Seria uma forma de oferecê-las privacidade? Perucas?

Virei mais dois, três, quatro copos de uísque. Estava indo para o céu junto com Álvaro quando o espetáculo foi interrompido, as poucas luzes vermelhas foram desligadas. Ouvi reclamações dos presentes ali, e me senti injustiçado também, logo quando estava ficando bom.  

Um coro de assovios e gritos se misturava com aplausos eufóricos quando duas beldades pisaram no palco. Ou eu estava bêbado ou aquela atração era digna de ser a principal. As duas brilhavam, um macacão preto reluzia chamando toda a atenção, e um vermelho fazia o mesmo trabalho. Elas eram um pecado, dois pecados. 

  — São duas mesmo?— Álvaro me questionou. E eu gargalhei.

Mas demorei também para me convencer que uma perdição poderia ser duplicada daquela forma, e que eu não estava alcoolizado a esse nível de não conseguir distinguir.

  Cada uma se agarrou a uma barra de ferro, e iniciaram movendo seus corpos impecavelmente no compasso da música. Na realidade eu não estava ouvindo som algum, os meus olhos permaneciam compenetrados na dama de preto. Estava enfeitiçado, como uma criança apreciando um doce na vitrine. 

Sua bunda era um desenho feito a mão, seu quadril largo acentuava-se ao chegar na cintura fina, e os seios volumosos formavam duas montanhas redondas no majestoso decote. 

Princípio Vital DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now