Seis

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(Fortes emoções rs Escutem a musiquinha, babys)

(Ps: Está sem revisão)

(O que acharam da capa nova?)

Valentim Del Torre

Eu tinha a impressão de que o cheiro da colônia de jasmim permanecia dentro do quarto, principalmente na cama rosa em forma de carruagem. Os adesivos de coroa estavam começando a descascar nas paredes lilás. O guarda-roupas continuava intacto, com inúmeros vestidos e sapatilhas brilhantes que nunca mais seriam usados. Os brinquedos em caixas dispostas no tapete de princesas da Disney não eram mexidos há anos. 

As cortinas brancas abafavam um pouco o cômodo. Decidi abri-las para iluminar e deixar o sol entrar. Sentei-me na poltrona ao lado de uma escrivaninha, onde tinham laços, maquiagens infantis, um livro da Alice No País das Maravilhas, e algumas bonecas. 

Ana me pediu para cuidar dos cabelos delas, e não deixá-las sozinhas porque sentiam medo. Era só uma divagação da mente de uma criança. Minha filha tinha muita criatividade, um dom só dela de imaginar.  Era generosa, levava seus brinquedos para o hospital e dava para as crianças menos favorecidas. Ela era linda, tão linda que diversas vezes me emocionava só de observá-la. 

Há dois anos tinha se tornado um anjo, e junto com ela, levado meu coração. 

Eu queria ser evoluído o suficiente para aceitar a perda de Ana, aos seus cinco anos de idade. Queria acreditar nas suas palavrinhas consoladoras "Eu estou bem papai, não estou triste". Ela era muito mais forte do que eu. Mesmo doente, com meses contados, pedia para eu descansar do trabalho, mas eu não saía do hospital porque não queria perder nenhum minuto, desperdiçar qualquer momento estava fora de cogitação. Ana dizia "Vai para casa, cuida da mamãe porque ela gosta muito de você. Eu sei que ela também gosta de mim, mas está muito triste de você não ficar com ela".

Quando notei, já estava com a garganta doendo com o desespero entalado nela. As lágrimas tomavam conta da minha face, mas a revolta adormecida permanecia como uma ferida aberta causando-me uma dor aguda dentro do peito. 

  — Venha para cá, querido— ouvi a voz baixa de Vivian me chamar.

Sequei meu rosto com as costas da mão e levantei da poltrona. Minha esposa estava com os braços cruzados em frente ao corpo, escorada no batente da porta. Me aproximei dela e recebi um abraço pouco confortante.

— Ela está bem, você precisa compreender isso— suas mãos encaixaram-se em meu rosto e suas íris pararam nas minhas. 

— Eu sei— disse somente. 

Na realidade sabia mesmo. Acredito piamente que existe algo melhor depois daqui, um lugar mais justo, mais bonito, menos sujo. 

— Vamos tomar café— ela deslizou as mãos na extensão dos meus braços, na tentativa de relaxar o meu corpo— Passei no Starbucks e peguei o roll de canela que você adora.

Vivian tirou a torta de canela da sacola da cafeteria e também um copo com café. 

  — Obrigado— agradeci e ela sorriu— Nem vi que tinha saído— comentei.

— Você não vê nada do que eu faço— e um sorriso triste apareceu em sua boca.

Me senti mal, eu realmente não sabia sobre nada do que Vivian fazia. Não tinha mais interesse. 

Me senti pior ainda quando o roll na minha mão lembrou-me da sensação boca de Mariana encostando nos meus dedos. Suas bochechas coradas pouco sardentas e os mirantes azuis me fitando.

Princípio Vital DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now