Nove

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(Desculpem os errinhos)

Mariana D'Ávila

  — Mari, eu estou falando com você— ouvi minha chefe tentar pela milésima me manter concentrada.

Por que o coração só quer aquilo que não é pro nosso bico?

Eu não conseguia parar de pensar no beijo de Valentim. 

  — Justine ainda não voltou, e duas meninas estão doentes. Eu preciso de você aqui hoje.   

— Pauline— adverti— Eu te expliquei que Saulo não é um homem fácil de driblar. 

— Estou ciente, minha flor. Não vou prejudicar você, deixarei todos os seguranças da casa avisados. E já que vocês dois não têm nada marcado para essa noite, quebra essa pra mim? 

Fechei meus olhos e respirei fundo, ela sorriu e me abraçou.

— Obrigada, Mari. Você sempre salvando a Le Luxe— Pauline veio me abraçar e beijou meu rosto.

— Mas não se esqueça da condição, eu só vou dançar e depois ir embora. Não posso correr o risco.

 — Combinadíssimo. 

Não podia de forma alguma transar com outro cara. Só de pensar no olhar perigoso de Saulo eu me senti intimidada. 

Desci para o salão e tomei um suco enquanto ajudava as meninas com a coreografia das apresentações noturna. Tentei de tudo para me distrair e esquecer da reação angustiante de Valentim. Se eu fechasse os meus olhos podia reviver a sensação dos seus lábios nos meus, do calor de sua pele e do seu toque preciso. 

Saí do devaneio quando meu celular começou a vibrar no bolso da calça, peguei e vi Charlotte escrito. Falamos sobre o evento beneficente que a oficina de teatro realizaria para arrecadar agasalhos e brinquedos para as crianças. Ela e Sol estavam empolgadas e sinceramente, eu me sentia muito acolhida por ambas. Temi que algum dia a irmã de Valentim descobrisse qual era a minha fonte de renda e decidisse cortar vínculo comigo. Gostava tanto de Sol que pensar em me afastar dela me dava vontade de chorar. Eu andava muito emotiva, na verdade. 

Minha vida estava uma montanha de coisas ruins, que eu não via a hora de escalar, atravessar e chegar no final. 

  — Não fique com essa carinha, amiga. Agora as coisas vão começar a se ajeitar, você vai ver— Carlie me abraçou de lado e abriu um sorriso sincero para mim.

Não é porque Saulo pagaria bem pela minha companhia que as coisas se ajeitariam. Até quando eu viveria nessa vida que me causava desgosto? Até quando lidaria com todos os tipos de homens sem sentir o mínimo prazer em estar com eles? 

Passei em casa pegar o macacão que usaria a noite, tomei banho e voltei para a Le Luxe com a Carlie. Estava no camarim com as meninas e na maioria das vezes eu ficava responsável por maquiá-las. 

  — Amores, a casa está ficando lotada. Não demorem— Pauline falou após dar dois toquinhos na porta.

— Sim senhora— a maioria respondeu em uníssono. 

— Prontinho Kalani, só esfumace um pouco aqui— apontei o cantinho do olho de uma colega e ela concordou com a cabeça— Estou atrasada, preciso me arrumar. 

— Teríamos ainda mais público se você deixasse esses cabelos enormes soltos— Kalani passou as mãos pelos meus fios e eu balancei a cabeça me gabando e brincando.

— Pauline só quer que mantenhamos o padrão e a nossa privacidade.

— Porque a dignidade eu tô deixando aqui agorinha mesmo— Carlie terminou de passar um batom vermelho e deixou em cima da penteadeira.

Princípio Vital DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now