CAPÍTULO I

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O calor estava insuportável. Ninguém, absoluta­mente ninguém, se casava em Manhattan no meio de julho. Ou seja, ninguém exceto Anastasia Steele.

O organista fez uma pausa cheia de suspense, e a congregação reunida na Catedral de St. Paul pareceu se erguer em perfeito sincronismo. Todas as quatrocentas e cinqüenta cabeças viraram-se para olhar Anastasia, em sua posição na entrada da igreja, usando um vestido de noiva de vinte mil dólares.

Seu vestido de noiva branco.

Assim como as ligas, as meias de seda, a lingerie que usava e as flores da decoração brancas... tudo branco para uma noiva virgem.

Para uma noiva virgem de vinte e cinco anos, que sabia tão pouco sobre a vida e os homens, que estava prestes a caminhar em direção ao altar sem nunca sequer ter sido beijada.

Bem, fora beijada uma vez, pessimamente beijada, na sétima série, quando Rufus Jones praticamente enfiara a língua pela goela dela abaixo numa festa de aniversário. Ela ficara tão enojada que fora a muito custo que não vomitara em seguida e, portanto, aquele beijo não contava.

E, agora, Anastasia estava prestes a se casar com o amor de sua vida. Mas o problema era que ele não a amava, nunca a beijara, e ela, na verdade, assinara um contrato concordando com aquele hor­rível casamento de aparências que não significava nada para ele.

O que, afinal, ela estava pensando? O que estava fazendo?

Como poderia se tornar uma esposa antes mesmo de ter tido um encontro com alguém?

Anastasia fechou os olhos, respirou fundo e tentou se acalmar, mas estava perdendo o controle, sabia que estava. Tremia tanto que mal podia impedir que seus dentes batessem. Era curioso como os dentes podiam bater quando se estava morrendo de calor. Uma camada de transpiração cobria-lhe a pele. O coração estava dispa­rado no peito. O ar parecia lhe faltar.

Que tola era. Que grande e completa idiota!

Sim, amava Christian Grey. Sim, estava perdidamente apaixo­nada por ele, mas como poderia se vender daquele jeito? Como pudera entregar sua vida assinando na linha pontilhada?

Um contrato.

Assinara um contrato para se tornar a esposa dele.

Como podia amar tão pouco a si mesma e tanto a Christian?

O organista recomeçou a tocar com ímpeto. As notas musicais preencheram a catedral, quatrocentas e cinqüenta pessoas pare­cendo respirar fundo de uma só vez, aguardando que ela desse o primeiro passo em direção ao altar.

Anastasia sentiu a cabeça girando. As pessoas tornaram-se uma névoa obscura, os murmúrios abafados e a música uma cacofonia estridente. E estava tão quente ali. Havia pessoas demais e pouco ar. Ela sentiu-se como se estivesse sufocando. Não conseguia res­pirar. Nem pensar. E todos estavam à espera de que se movesse. De que desse aquele primeiro passo. Christian estava à espera de que o desse.

E, portanto, Anastasia o fez. Deu o primeiro passo... Em seguida, deu meia volta e correu.

Ela largou o buquê de lírios, rosas e orquídeas no vestíbulo, passou por entre as portas adornadas de vitrais da catedral, desceu os degraus de mármore e saltou para dentro de um táxi que passava.

A secretária de Christian GreyWhere stories live. Discover now