Preparação - Ren

111 8 2
                                    

Depois de chorarmos a morte de Kadam por três dias, começamos nossa busca final para encontrar a Cidade de Luz através da ilha do vulcão chamada Poço do Inferno.

Nilima já estava mais calma e resiliente, mas eu ainda não gostava de deixá-la sozinha. Ela nos acompanhou até Visakhapatnam, e em seguida para o Golfo de Bengala, então finalmente o Port Blair. Um carro estava esperando por nós quando pousamos.

Dirigimos até a bela casa que Kadam havia providenciado. Nilima contou histórias sobre ele durante o caminho, nos fazendo sorrir ao lembrar dele.

Kelsey e Kishan tinham realmente assumido um relacionamento e não havia a menor dúvida de que eram namorados. Eu estava devastado. Eu sabia que Kelsey estava feliz, e isto deveria bastar. Mas não bastava. Resolvi ficar o mais longe dela quanto fosse possível.

Fiquei no meu quarto o dia todo. Eu havia me alimentado como tigre antes de sair de casa e estava sem fome. Coloquei uma música e me sentei na varanda do meu quarto. Então Kelsey chegou.

— Posso me juntar a você? — Perguntou em voz baixa.

A presença dela era sempre reconfortante. Mas eu estava magoado, triste. Kishan havia saído e Nilima estava ocupada, então Kelsey deve ter se sentido sozinha. Eu quis mandá-la embora, mas não consegui.

— Se desejar. — Respondi sem me virar ou abrir os olhos.

Eu tentei ignorá-la, mas a brisa suave trazia o cheiro doce de Kelsey, perturbando meus sentidos. Ela começou a cantarolar enquanto a música tocava. Eu estava confuso. Adorava tê-la ao meu lado, sentir seu cheiro, ouvir sua voz. Mas eu a queria longe de mim. Ou precisava querer isto. Quando a música parou, ela falou comigo.

— Você não toca seu violão há muito tempo. Sinto falta disso.

Virei-me para ela e falei sem pensar:

— Temo que não tenha restado música em mim.

— "O homem que não tem a música dentro de si e que não se emociona com um concerto de doces acordes é capaz de traições, de conjuras e de rapinas".

Levantei-me incomodado e fui para o outro lado da varanda, debruçando-me no parapeito. Pensei se Kishan não merecia mesmo que eu o traísse.

— Desculpe-me — Ela se aproximou e tocou de leve o meu braço.— Eu não percebi que você estava falando sério.

Seu toque me desarmou e acalmou meu coração, como sempre fora, desde que nos conhecemos. Apertei sua mão e brinquei com seus dedos.

— A música me faz lembrar muito do que não posso ter, e ainda sim, não posso deixar de escutá-la — Eu ri da ironia— Nunca entendi a conexão até que você me deixou e voltou para o Oregon. Percebi então que a música era uma ligação com você, um caminho para nos manter próximos, assim como minha poesia.

Eu me virei, quase desesperado e coloquei a mão dela sobre meu coração, para que ela o sentisse disparando.

— Kelsey, meu sangue pulsa e meu coração dispara quando você está por perto. Eu tenho que fazer um esforço para me conscientizar e me conter para não te tocar. Para não tomá-la em meus braços. Não te beijar. Eu quase prefiro Lokesh me torturando novamente a ser atormentando todos os dias ao te ver com Kishan.

Ela desviou os olhos para sua mão sobre meu coração e engoliu em seco, falando com tristeza:

— Sinto muito Ren — e deslizou a mão para fora.

Ela tremia. Eu podia sentir seu coração batendo forte e sua respiração acelerada. Seu peito subia e descia rapidamente e o calor emanava de sua pele. A paixão era tangível. Ainda assim, ela me olhou nos olhos e disse:

— Sinto muito. Mas não posso deixar Kishan.

Eu me virei para o parapeito, resignado e citei Noite de Reis:

— "Se a música é o alimento do amor, não parem de tocar. Deem-me música em excesso; tanto que, depois de saciar, mate de náusea o apetite".

Eu não me virei, mas soube que ela havia ido embora.

O destino do tigre - POV tigresOnde as histórias ganham vida. Descobre agora