Capítulo 3 - A Última Tarde

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21 de Setembro de 2018
          
                                                           12:38h
Aliviado.
Os empregados de todas as mansões que já morei nunca foram tão incríveis como uma doméstica que conheci quando cheguei em Vancouver.
Todos os meus medos foram colocados para fora, e ela me ajudou muito. Mesmo assim, quando eu subi para meu quarto eu tive a sensação de observação novamente.
Eu sinto que segunda-feira será um dia diferente. Possivelmente meus pais irão chegar, e eu vou contar tudo que sinto para eles. Vou contar que me sinto rejeitado, e que eles não estão dando atenção para mim.

13:45

Após o almoço, Raul sobe para o quarto de seus pais, para procurar o cartão de crédito que eles sempre deixam para ele. Ele irá chamar Cordelia para sair e tomar sorvete de baunilha, o preferido dele.
Raul procura o cartão na primeira gaveta de um móvel que fica no quarto, mas acaba não achando. Ele então procura na gaveta de baixo, tirando todas as camisolas de sua mãe de lá.
Ele encontra um documento, aparentemente um laudo médico, com o nome dela nele; Rapidamente ele abre o documento.
Este laudo, na verdade é um exame de gravidez, que foi realizado no dia 15 de setembro daquele mesmo ano, com o resultado positivo.
Raul logo descobre a gravidez escondida de sua mãe, e possivelmente uma traição, já que Bennet não pode ter filhos desde os 30 anos, quando teve câncer.
Raul coloca o exame de volta na gaveta, e organiza todas as camisolas para sua mãe não descobrir que ele esteve lá.
Ele sai rapidamente do quarto, dá de cara com Hettel, seu motorista.
- O quê fazia aqui? – Pergunta Hettel.
- O que você faz aqui!? Eu estava no quarto dos meus pais, é proibido agora? – Responde Raul surpreso e com indignação.
- Sua mãe pediu para que eu viesse... (pensa ao responder) pegar meu pagamento, que foi deixado no quarto dela. – Responde Hettel.
Raul deixa Hettel conversando sozinho e vai para seu quarto.

16:29h

Cordelia vai até o quarto de Raul, que ficou o dia inteiro sozinho, em busca de saber se ele está melhor. Abrindo a porta que estava destrancada, ela encontra Raul conversando com alguém misteriosamente no celular, ele está falando baixo, o que faz com que ela não entenda.
Raul desliga o telefone e se assusta com Cordelia que está na porta.
- Com quem estava conversando? – Pergunta ela.
- Céus! Vocês empregados dessa casa me monitoram 24 horas por dia! A atenção que os meus pais não me dão vocês dão em dobro. Que saco! – Responde Raul.
- Me desculpe Raul, estou preocupada com o que você disse mais cedo.
- Pois não precisa se preocupar. É coisa da minha cabeça, meus pais fazem isso comigo. Saia do meu quarto, por favor... Aliás... Acabei de me lembrar... Mais tarde quero falar com você e ... Os outros empregados... Todos eles... Sem exceção... Do jardineiro ao motorista. TODOS!
- Ok Raul.
- Na área de lazer da piscina, ás 18:00.
Cordelia sai do quarto confusa, já que Raul não possui muitos amigos, e ele provavelmente não estaria conversando com os pais.
No avião, Lohany e Bennet conversam sobre o dinheiro que vão ganhar com a promoção, e Bennet á questiona sobre seu espanto.
- Você está com um comportamento estranho desde semana passada – Diz Bennet.
- Você sabe amor, estamos com esse problema financeiro, não consigo nem dormir direito – Responde Lohany aparentemente nervosa.

17:06h

Raul em seu quarto sozinho começa a chorar, e relembra todas as coisas que já perdeu, desde seu avô, aos amigos e ao carinho dos pai. Ele faz um instastorie no Instagram dizendo que está difícil, e coloca na legenda vários emojis de lágrimas. Instantaneamente, vários haters começam a tweetar coisas de ódio para ele.

"Eh rico, têm de tudo, quer o q +?"
"Mimado!"
"N aguenta ficar sem alguns dólares $$ na conta, deve estar frustrado pela família Murphy estar decaindo."
"Esse nunca vai se preocupar em como entrar pra faculdade."
"Imprestável."
"Num serve pra nada, jah nasceu em berço de ouro."
"Ás vezes me pergunto pq pessoas como vc nascem, soh eh um peso a mais na terra."

Raul se sente mal lendo os comentários
maldosos, e chora mais ainda. Ele desativa todas as redes socais, e antes disso tweeta:    " O adeus é para mais tarde."

Meu coração nunca palpitou tão forte assim.
Parecendo sair pela boca.
Em meu quarto há tanto silêncio
Que consigo ouvir meus batimentos cardíacos
Infelizmente, ainda tenho batimentos cardíacos.
Espero não poder ouvir mais nada.
Nem ver.
Nem sentir.
Estou morto, o que tenho que fazer para ficar à seis palmos da terra?

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