Epílogo

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Edward

Sentia meu corpo balançar contra a minha vontade, as vezes era rápido e me dava fortes ondas de ânsia e outras lentas que me lembravam vagamente quando minha mãe balançava comigo no balanço do pequeno bosque do castelo.

Só que o cheiro de flores e terra molhada era sobreposto por um forte odor de peixe, suor e rum.

Pensamentos desconexos invadiram minha mente quando o momento de lucidez se fazia presente.

Rosemary... Ivna... O espelho... Rosemary... Ivna... O espelho... Rosemary... Ivna... O espelho... Navio... Cordas...

Acho que dormi por horas e em certo momento uma dor alucinante me fez acordar suando e gritando, o barulho fez com que eles tivessem que me encher de remédio e depois a dor sumiu e voltei ao reino da inconsciência. Quando consegui manter os olhos abertos tudo o que via eram barris empilhados em um canto, amarrados por cordas grossas e longas. Caixas com peixe e batatas.

O chão de madeira estava imundo e jurei que vi um rato grande passear por cima dos barris de rum. Uma escada levava ao outro andar do navio.

Era grande, mesmo estando na parte inferior. Já estive em barcos antes e a experiência nunca me agradou. Odiava ficar enjoado e ver Leon sem sofrer mudanças na cor do rosto era angustiante.

Tentei levantar a cabeça, mas o esforço exigia energia que eu não possuía. Parecia ter sido drenada de mim.

Abri a boca ou tentei já que algo, impedia o movimento. Um pano putrido estava amarrado na minha cabeça e tampava minha boca.

Ouvi passos na escada e fingi dormir.

— Ele ainda não acordou — resmungou a voz de um homem.

— Traga assim mesmo. Nos já chegamos — falou uma mulher e não era Ivna.

Sou puxado bruscamente pelas amarras e abri os olhos. Meus pulsos estavam doloridos e minhas pernas queriam voltar ao chão. Me mantive firme, ou tentei desajeitadamente. Não havia comido nada ou bebido fazia tempo.

O homem era o mesmo que havia me sequestrado. Alto e com olhar entretido. Usava uma túnica dourada pesada e calças de algodão da mesma cor e botas pretas.

A mulher era alta, quase da altura dele e tinha a cabeça raspada. Seus olhos castanhos claros eram serenos e meigos, mas somente possuía essa característica suave. Pois ela era uma guerreira com expressão fechada. Tinha músculos fortes e visíveis sob a túnica branca e calça preta.

Letal e poderosa.

Tatuagens delineavam sua cabeça e não consegui descobrir o que eram, pois ela me encarou erguendo a sobrancelha com a minha súbita parada para analisá-los. Tentei não corar e falhei miseravelmente.

— Vamos, princesinha — gracejou o homem me puxando pelas cordas que prendiam minhas mãos.

Não tinha muita escolha e tentei acompanhar seus passos. Subimos até o outro andar e o sol quente machucou meus olhos. Os fechei cambaleando quando ele parou abruptamente. Tentei abri-los e vi o mar azul claro. Tão diferente do de Mountsin que era azul escuro, sombrio.

Um cais com várias tendas estavam a frente do navio e logo en seguida uma vila com casas coloridas e vibrantes, depois montanhas e mais montanhas.

— Bem vindo ao meu reino, Edward — disse a pessoa que me trouxe ali. Nada de títulos, apenas meu nome e pareceu sem graça quando ela o disse.

Ivna estava deslumbrante usando uma túnica verde. Seus cabelos cacheados estavam presos por tranças pequenas. E ela não tinha mais o olhar doce que usava quando me via no castelo. Seu olhar era indiferente, quase frio.

Estava em um lugar estranho, um reino que não fazia idéia de como era ou como as pessoas eram. Sequestrado e não sabia como estavam as pessoas que me eram importantes depois do ataque com fogo ao castelo.

Rosemary, será que Leon a salvou? Ou as competidoras? Como estariam?

Penso no meu pai e sabia que ele resolveria tudo e temo pela minha mãe, mesmo sabendo que Mountsin era um reino forte, havia uma inquietação em mim, como se algo ruim tivesse acontecido. Deixei a preocupação com eles de lado. Tinha que pensar em como voltaria para eles. Como fugiria.

Espero que todos estejam bem.

Sou empurrado pelo homem e voltei a andar, ou melhor, tropecei em meus pés quando caminhei pela rampa de madeira. E finalmente desci do navio.

Princesa de VidroWhere stories live. Discover now