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Eu tinha nove anos de idade quando tentei meu primeiro suicídio. Algumas pílulas de calmante e goles absurdos de álcool. Me fizeram vomitar tudo assim que meu irmão chegou da escola e deparou-se comigo no chão. O frasco já caído, o copo em pedaços, minha pele gelada e respiração já quase inexistente... É, apesar da pouca idade, eu conseguia causar estragos quase que irrevogáveis.

Não lembro o que estava sentindo na época. Talvez não sentisse nada. Talvez não quisesse nada. Mas, essa minha atitude, causou gritantes mudanças em minha vida. Primeiro porque agora sou obrigada a ter consultas com psicólogos todos os dias. Sim, psicólogos, pois ninguém nunca durou mais de três meses comigo.

No início, tudo é legal. Eles me lançam aquele olhar compreensível, como se todos os meus problemas ou atitudes irresponsáveis fossem algo consideravelmente normal e tentam me ajudar, mas com o tempo, é sempre a mesma droga: eles fogem. Me acham uma louca inconsequente que não tem salvação, e dizem, como uma desculpa fodida: sinto muito, tenho pacientes demais e seu caso... bem, acho que ele não é a minha especialidade no momento. Se não for de incômodo, posso encaminhar você para um amigo meu? Ele saberá resolver melhor.

Apesar de parecer triste, não ligo para isso. Na verdade, eu também concordo. Estou viva a quase vinte e dois anos e tudo que consegui fazer durante esse tempo foi enlouquecer aqueles que me querem bem. Aqueles que desejam veemente me ajudar. Mas o que eu posso fazer? Não sinto como se precisasse de ajuda. Só me sinto... bem, na verdade, como eu disse, não sinto nada. É por isso que viver ou morrer para mim não faz diferença. É por isso que todos os anos, na data do meu aniversário, eu tento suicídio outra vez. Uma pena sempre ser interrompido por algo. Uma pena eu nunca conseguir de fato, concluir.

— Você está nervosa? — Jaebum perguntou, ao descer do carro.

Dando de ombros, fiz o mesmo e apenas respondi, meio desinteressada:

— Não. Não estou. Isso acontece sempre, então por que agora seria diferente?

— Por que agora você é uma universitária?

— Uma universitária que é obrigada a ir às consultas duas vezes na semana, caso contrário, será obrigada deixar a universidade e viver no centro psiquiátrico pois todos acham que ela é louca? É, isso realmente muda muita alguma coisa, você não acha?

— Poderia ser pior.

— Não vejo como.

— Você poderia ser obrigada a ter consulta todos os dias da semana, como antigamente, lembra? Além disso, será que você pode apenas fingir que está feliz? Mamãe se sentiria melhor.

Mentir... essa palavra já era tão frequente na minha vida, que eu sequer ligava mais quando utilizava-a.

— Você sabe, mesmo que eu mentisse, isso não mudaria nada. Ela vai continuar me achando uma louca. Ela vai continuar...

— Se preocupando — interrompeu. — E você deveria se preocupar também.

— Com ela? — perguntei.

— Consigo mesma. — respondeu, indo em direção ao porta malas. Eu o segui. — Sabe o quão difícil foi para ela deixar você vir para cá? Nossa mãe ficou pensando que talvez isso fizesse... bem... o seu estado piorar.

— Não consigo entender. Desde quando liberdade já piorou alguém?

Ele retirou as malas do porta-malas e fechou-o  rapidamente antes de responder, me encarando com toda atenção do mundo:

— Desde quando ela é utilizada de forma inconsequente. Seja responsável, está bem?

Suspirando, eu acenei.

— Vou tentar.

— Samyra...

— Não posso prometer. Você sabe, eu...

— Odeia promessas porque são vazias, eu sei, eu sei — ele balbuciou.

— Exatamente.

— Bem, posso confiar em você então?

Encarando-o, não quis dizer nada. Odiava fazer pessoas criarem expectativas boas sobre mim tanto quanto odiava promessas. Isso porque, assim como meu irmão havia dito, era tudo vazio. Era tudo feito numa tentativa de tranquilizar alguém. Mas não necessariamente aquelas coisas de fato, eram feitas.

— Eu vou tentar — repeti a frase novamente e ele revirou seus olhos, como se já estivesse esperando por aquilo.

— Quer ajuda com as malas ou já posso ir embora?

— Apesar de eu querer uma entrada triunfal na universidade, com meu querido irmão sendo um cavalheiro e carregando minhas coisas, eu posso me virar sozinha — brinquei, segurando minhas duas malas pretas.

— Então tá senhorita independente, já entendi, essa é uma deixa para eu ir embora.

Jaebum sorriu, caminhou em alguns passos em minha direção e me abraçou. O ato me deixou surpresa, até porque ele sabia que eu não era muito chegada a abraços, mas apenas deixei que aquilo acontecesse pois talvez, se meu plano finalmente dessem certo esse ano, algo assim não iria acontecer nunca mais.

— Vejo você nas férias — murmurei, vendo-o adentrar o carro e ligá-lo e ir embora, antes de dizer um rápido "se cuida".

Observei seu carro afastar-se lentamente até perdê-lo de vista. Em seguida, respirei fundo e virei-me para trás, onde minha mais nova universidade me aguardava. Não que  eu estivesse ansiosa para começar; Na verdade, tudo o que eu queria era uma oportunidade de ficar sozinha. Sozinha de verdade. Era uma oportunidade de planejar meus últimos meses de vida, sem minha família me vigiando vinte e quatro horas por dia, sem meus professores e diretores no meu pé durante todos os dias, como se a qualquer momento eu fosse cometer um crime, sem todos os olhares estranhos. E, bem, que lugar seria melhor do que esse? Eu pelo menos não conhecia.

— Acho que vai ser suportável — disse, olhando melhor ao redor. O campus parecia espaçoso e várias pessoas conversavam em baixo de árvores, banco e até mesmo em pé. Além disso, o clima também era agradável. — Só espero que dentro seja tão bom quanto.

Comecei a caminhar em direção a entrada da universidade, quando alguém disse, ao meu lado esquerdo:

— Oi... por acaso você é a novata?

Olhando para o lado, meio desinteressada e surpresa, um garoto alto e que aparentava ter a mesma idade que eu, sorria. Tentava soar simpático, mesmo que estivesse notavelmente incomodado. Como eu sabia disso? Por suas mãos, que não paravam de bater levemente na agenda que ele segurava  como se fosse a coisa mais importante do mundo. Ou do seu mundo, ao menos.

— Samyra, muito prazer — disse, neutra.

— Oh, ainda bem, eu acertei — o garoto suspirou, aliviado. — Estava preocupado com a possibilidade de falar com a pessoa errada,já que o diretor não me entregou sua foto, ele apenas me deu características suas.

— Para quê?

— Como assim?

— Minhas características. Por que ele informou você sobre algo assim?

— Ah, ah sim! Bem, ele me pediu para te achar. Aparentemente ele quer falar com você.

— Tá. Obrigada pelo aviso — disse, voltando a caminhar.

Só queria encontrar meu quarto, arrumar minhas coisas e descansar. Amanhã quando acordasse, passaria na sala dele e conversaria

— Senhorita... Quer dizer, Samyra, acho que você não entendeu — o garoto correu em minha direção, parando ao meu lado quando virei para encará-lo outra vez.

— É óbvio que entendi. Ele quer falar comigo.

— Sim.

— E então?

— Ele quer falar com você agora.

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estou postando essas fanfics novas, pois são histórias que encontrei no meu caderno do colégio, que eu escrevia principalmente nas aulas de exatas ahahahahahaa, então pensei: por que não reescrever e postar?

The last goodbye ❄️ Jackson WangWhere stories live. Discover now