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Soltei uma careta inconsciente ao entrar no quarto e observar Layla fazendo um tipo de movimento estranho. Parecia aeróbica. Ela estava com sua perna esquerda elevada para trás e tentava tocar em sua cabeça.

— Deixe-me adivinhar — murmurei, jogando minha mochila no chão e me sentando na cama. — Você cursa dança?

— Ballet — disse, encarando-me. Seu pé ainda estava elevado e em poucos centímetros, ele alcançaria sua cabeça. — Me desculpe por fazê-la presenciar algo assim.

— Não é tão ruim. Seria pior se eu chegasse aqui e encontrasse você e seu namorado juntos.

— Devo proibi-lo de vir aqui então? — ela perguntou, num tom brincalhão.

— Eu agradeceria.

Layla revirou seus olhos.

— Espero que esteja emocionalmente preparada para uma cena dessas aqui no quarto.

— Contanto que não seja na minha cama e de preferência em um dia que eu não esteja mais vivendo no planeta terra, por mim tudo bem.

Minha colega de quarto gargalhou. Estava prestes a dizer algo, quando sentiu sua perna tocar a cabeça e então deu um gritinho animado, voltando ao normal. Observei um pingo de suor escorrer de sua testa mas ela logo a secou com uma toalha amarela, que estava na cabeceira da cama.

— Isso é cansativo — murmurou, respirando fundo. Seu rosto um pouco vermelho e seus olhos cansados.

— Por que está fazendo isso no quarto?

— Minha professora disse que eu estava com pouco elasticidade em alguns movimentos, então me pediu para treinar no quarto algumas vezes — respondeu, sentando-se na beirada da cama.

— Isso é realmente importante? Digo, se contorcer toda...

— Gera equilíbrio e coordenação motora. Além de praticidade, sabe? — perguntou. Seus olhos emanando um brilho diferente, como se ballet fosse realmente algo que ela amava com todas as suas forças. — No final do ano acontecerá uma apresentação no teatro e as melhores bailarinas irão dançar. Terá uma principal, óbvio, e ela está apostando em mim. O mínimo que posso fazer é não desapontá-la.

Ontem de manhã, quando entrei no quarto e observei-a completamente desorientada, pensei que talvez minha colega de quarto ladra fosse apenas uma garota que não ligava para nada na vida. Uma garota despreocupada. Mas ela se importava. Ela queria algo. Ela parecia amar algo. Isso me fez sorrir. Ver que pessoas conseguiam ser felizes e sentirem algo independente de tudo. Tão diferente de mim...

— Todos da universidade serão convidados?

— Sim — respondeu. – Alunos, professores, funcionários... Você vai, não vai?

— Se eu não tiver compromisso no dia, quem sabe? — sorri.

— Caso tenha, é só cancelar. Que tipo de compromisso seria mais importante do que ver sua colega de quarto apresentando uma bela dança?

— Deixe-me pensar... Todos os tipos de compromissos possíveis? — provoquei. Layla jogou um travesseiro da sua cama em minha direção, rindo, mas eu apenas desviei. — Estou brincando, estou brincando! Eu irei.

Eu não era uma pessoa compromissada. Na maior parte do tempo, o único compromisso existente na minha vida era unicamente e exclusivamente de mim para eu mesma. Tudo o que o existisse depois eram meros acontecimentos que eu me via constantemente o obrigada a viver para tentar me encaixar diante dos outros. Para me apresentar em algum local da sociedade, mesmo que nenhum deles fossem de fato interessante para mim. Os cinemas, as festas, ciclos sociais, apresentações... nada era importante. Nada parecia ter significado. Essas coisas apenas fazia parte da vida e conseguiriam ser facilmente descartadas da existência humana se precisassem, assim como eu.

The last goodbye ❄️ Jackson WangOnde histórias criam vida. Descubra agora