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— O que você falou? — perguntei, encarando-o surpresa. Dormir do lado de fora da universidade, ainda mais nos primeiros dia de aula, era tudo o que eu menos queria fazer.

— Perguntei o que está fazendo aqui.

— Não, antes disso.

— Informei o horário. São quase onze horas.

Pensava tê-lo escutado falar ao meu lado direito, mas a verdade era que Jackson estava em minha frente, agachado de modo curioso e me encarando confuso. Além de próximo. Jackson estava muito próximo.

Olhei ao redor, confusa. Não tinha tanta pessoas quanto antes, e a maioria das lojas encontravam-se fechadas, incluindo a que Layla e Mason estavam jantando horas antes. Por acaso haviam ido embora sem mim? Que puta falta de consideração.

— Eu vim com alguns amigos — comecei a explicar. — Mas por algum motivo, eles não estão mais aqui.

— Devem estar em alguma loja. Vamos, podemos procurá-los e...

— Não perca seu tempo.

— Como assim?

— Acho que foram para casa.

— E deixaram você aqui? Sozinha?

— É, me deixaram — eu dei de ombros.

Jackson ergueu uma de suas sobrancelhas. Estava me analisando.

— Isso é sério?

— Isso o quê?

— Os seus amigos. Realmente veio com eles? Se está aqui sozinha, sabe, não precisa mentir para mim.

Soltei uma risada incrédula. Ele era louco?

— E por que diabos eu mentiria sobre algo assim? Fala sério.

— Eu não sei, mas no seu histórico...

— Sinto muito atrapalhar, mas não estamos em uma sessão — o interrompi, antes que o mesmo começasse a fazer mais perguntas. — E agora estou indo para casa. Passar bem, doutor. Até amanhã.

Fiz um sinal de adeus com a mão direita e levantei-me do banco, começando a andar. Estava prestes a tirar meu celular do bolso e ligar para Layla, num objetivo de perguntar se ela ainda estava por aqui ou se passava algum táxi, quando notei que meu celular não estava no bolso. Em nenhum deles.

Droga. Será que tinha sido roubada enquanto dormia?

— Era só o que me faltava — murmurei, passando a mão pelo cabelo. — Eu não acredito nisso.

— O que houve? — atrás de mim, meu psicólogo perguntou.

— Roubaram meu celular — falei. — Por acaso você sabe se passa algum táxi por aqui? Ou um ônibus, tanto faz, eu só preciso voltar para universidade.

— O último ônibus passou há dez minutos atrás e táxis não costumam andar muito por aqui — respondeu, pondo a mão no bolso de sua calça jeans, meio sem jeito. — E, não é querendo desanimá-la, mas acho que você não pode mais entrar no seu dormitório.

Estava prestes a perguntar o motivo, quando recordei-me do horário de recolher. Era por isso que eu havia negado ir a festa com Jinyoung. Eu não queria ultrapassar o maldito horário. E, ainda assim, aqui estava eu, em qualquer outro lugar do mundo, menos em meu dormitório. Que merda de vida.

— Por que não vai para casa? Posso levá-la até lá — Jackson murmurou, ao notar meu pequeno incômodo.

— Aí é que está o problema, doutor, não posso ir para casa.

— Por que não?

— Se viu realmente meu relatório, deveria saber que moro há exatas quatro horas da universidade. Nós iríamos chegar apenas três horas da madrugada e você ainda precisaria voltar para casa. Não iria compensar.

Eu poderia ligar para Layla e pedir-lhe para abrir a porta do dormitório por dentro, mas eu não sabia seu número. Além disso, as possibilidades de encontrar alguma garota lá embaixo num horário desses eram poucas. Elas geralmente reuniam-se em um quarto aleatório e conversaram sobre seus paqueras.

— Pode dormir na minha casa, então — ele disse, encarando-me.

Instintivamente, cruzei meus braços, observando-o.

Qualquer tipo de pessoa aleatória tinha a total consciência de que não era correto criar qualquer vínculo mais que profissional com seus pacientes.

Ele não lembrava disso?

Porque eu lembrava.

Lembrava perfeitamente.

— Não, não posso — falei.

Ele pareceu confuso por alguns segundos, mas logo recordou-se de seu erro.

— Se está com medo de mim, não fique. Isso não vai pra sua ficha.

— Eu não estava, mas agora estou ficando. Você não deveria anotar meu comportamento?

— Como você mesma disse, não é minha paciente hoje, Samyra.

Jackson olhou ao redor tranquilamente. Só agora eu havia parado para observar suas roupas, que não eram nada parecidas com sua típica formalidade dentro da universidade. Ao invés de uma blusa branca e blazer preto, atualmente ele usava roupas normais. Ou melhor, até que descoladas, embora fossem todas pretas. Mas combinavam com ele. Na verdade, ele ficava bem melhor assim. 

Calça jeans preta, botas pretas, blusa preta e um jaqueta de couro, também preta. Combinavam com ele. Com sua áurea. Então ele voltou novamente a me olhar, fazendo-me perceber que já o encarava por tempo demais.

— E então, vem comigo? — perguntou.

— Não — respondi, o que fez Jackson retirar seu celular do bolso e começar a discar números que eu desconhecia. — O que está fazendo?

— Ligando para o diretor. Não posso deixar que fique aqui sozinha.

— Ei, prometeu que não iria contá-lo!

Instintivamente, me aproximei dele e tentei pegar seu celular. Entretanto, Jackson foi mais rápido e levantou-o com a mão direita, me impedindo de capturá-lo.

— Na verdade, prometi que não iria colocar isso na sua ficha médica — explicou. — E tenho liberdade para informá-lo sobre isso, caso sua vida esteja em risco.

— Minha vida está completamente bem no momento, não está vendo? — eu soltei um sorriso forçado para ele, enquanto minhas mãos ainda seguravam seu braço levantado, por puro impulso. — Estou até sorrindo.

Jackson me encarou por alguns segundos e por fim respirou fundo, desligando a ligação e baixando seus braços novamente. Considerei o ato estranho, mas não disse nada. Tudo para não levar uma bronca do diretor amanhã, pensei. Tudo para não ser expulsa da universidade. 

— Olha, se quer ficar aqui, tudo bem. Mas eu não me responsabilizar se algo bizarro ocorrer de madrugada e não tiver ninguém para ajudar você — falou, sério.

Foi quando eu finalmente me dei conta que era loucura querer ficar aqui. Eu só estava tentando soar corajosa. Só estava tentando fazer parecer que coisas ruins não existiam, quando a verdade era totalmente o oposto disso.

Eu não estaria segura se continuasse aqui.

Jackson começou a andar em direção a rua e notei que um carro preto estava parado do outro lado da estrada, perto de um restaurante já fechado. Estava tarde. Muito tarde.

— Espera! — eu gritei, fazendo-o parar de caminhar e me encarar.

— Mudou de ideia? — ele perguntou.

Acenando a cabeça lentamente, me rendi ao fato que essa era minha única opção.

— Sim. 

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Pra quê inimigos quando se tem a Layla? ahahahaaha


The last goodbye ❄️ Jackson WangWhere stories live. Discover now