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Não houve qualquer conversa estranha ou extraordinária entre nós dentro do carro.

Para ser exata, meu psicólogo e eu apenas permanecemos em silêncio, enquanto uma música dos The Beatles era tocada no rádio em altura ambiente, quebrando um pouco aquele clima que, embora não fosse incômodo, soava um pouco estranho, afinal de contas, eu ainda era sua paciente.

Uma paciente que estava indo para a sua casa.

A sua muralha. Seu ambiente mais seguro na face da terra.

E por mais que tentasse colocar em minha cabeça que era apenas isso e nada mais, que Jackson Wang só estava tentando ajudar, sentia esse incômodo dentro do meu corpo, pedindo que eu fosse um pouco menos ingênua.

Talvez ele realmente quisesse me ajudar, mas o psicólogo não era idiota. O garoto também estava se aproveitando daquela situação. Pensando em formas de analisar minhas  ações, meus comportamentos, minhas reações, mesmo inconscientemente.

E principalmente por ainda não saber muita coisa sobre mim, talvez sua curiosidade tivesse se aguçado um pouco mais. E qualquer atitude minha próxima a ele, da maior ou mais simples, contariam como anotações mentais para as  nossas próximas sessões.

Portanto, eu precisava ser muito cuidadosa, para não fazer disso uma droga de consulta imaginária.

Assim que chegamos, Jackson estacionou seu carro em uma das vagas disponíveis no térreo e descemos. Haviam algumas sacolas soltas nos bancos de trás, provavelmente com comida dentro, e ele as pegou rapidamente, antes de trancar o automóvel e caminharmos até o elevador.

— Qual andar? — indaguei para ele, quando o mesmo se fechou.

As compras em suas mãos o impediam de fazer isso com facilidade.

— Décimo terceiro — respondeu e, outra vez, uma densa onda de silêncio se fez presente entre nós.

E era tão diferente da faculdade. Tão diferente do consultório, quando ele praticamente insistia que eu falasse algo.

Foi então que percebi, pela expressão fechada em seu rosto: o psicólogo estava finalmente começando a se dar conta de suas atitudes. Dizendo palavras curtas, sendo indiferente ou respondendo somente o necessário, sem brincadeirinhas ou insinuações, como um profissional.

Será que tinha se arrependido da sua escolha em me ajudar? Era possível, já que eu também estava invadindo seu espaço pessoal, o que também era demasiado antiético.

Mas eu não poderia fazer nada além de me manter quieta e esperar que a noite passasse o mais rápido possível, para enfim voltar ao meu dormitório. A ideia tinha sido dele, não minha. Então eu não deveria sentir culpa alguma por estar aqui.

— Por que você está tão calado? — indaguei, após apertar o botão e voltar para perto dele. — Não é assim que geralmente se comporta na Universidade. Pelo contrário, sempre parece ter algo a dizer.

Encarando-me pelo vidro do elevador, Jackson soltou um meio sorriso, sem mostrar os dentes.

— Sabe muito bem porque estou agindo assim.

— Será que sei? — cruzei os braços.

— Isso é errado, Samyra.

Falar comigo?

— Me aproximar de você. Fora das sessões.

— Não é como se não tivéssemos feito isso outra vezes.

— É diferente. Ainda estávamos dentro da Universidade, com várias outras pessoas. Você como paciente, eu como psicólogo...

— Então por que me trouxe até aqui, para início de conversa?

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⏰ Última atualização: Aug 14, 2022 ⏰

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The last goodbye ❄️ Jackson WangOnde histórias criam vida. Descubra agora