🗝E se você voar?🗝

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Acordei bem cedo para trabalhar, só que dessa vez não foi o despertador e, sim meu irmão que falava no telefone completamente irritado!
Tomei um banho e desci as escadas. Lá estava ele com a expressão frustrada e prestes a matar qualquer um que estivesse em sua frente.

— Natalie, eu não estou de brincadeira com você. Custava alguma coisa responder minha mensagem?

Joabe ainda não tinha me visto; recuei um poucos os passos e sentei no primeiro degrau para ouvir a conversa. Sei que  é falta de ética, mas queria ter certeza que aquele sentimento que ele odeia, está alojado em seu coração.

— Me desculpe, querido. Eu estava muito ocupada passando o Natal com minha família e numa ceia maravilhosa, na igreja. — a menina responde ironicamente.

Gostei dela.

— Vai me dizer agora que virou crentinha? Bem que eu já deveria ter descoberto.

— Eu acho que você sabe muito bem que ir à Igreja é bem diferente de ser a Igreja.  Se  não me engano, me contou que seus pais são cristãos, então, tenho certeza absoluta que te ensinaram sobre isso!

Essa garota tem que ser minha cunhada.

— Isso não importa Natalie! Quero que você pare de ser tão irônica. O que eu te fiz? Você não tem ideia de quanto passarei o Natal irritado! — vocifera.
Meu irmão é um tremendo dramático.

— Que pena. Se eu soubesse, teria levado você para esta viagem. Afinal de contas, precisa mesmo ir a Igreja. Para quê tanto estresse? És tão jovem. Me desculpa mesmo pelo seu péssimo Natal, mas o meu foi maravilhoso. Nada melhor do que estar na presença de Deus. — comenta.

Joabe bufa irritado. 
— Quando eu voltar de viagem, teremos uma conversa muito séria.

— Claro que teremos!  Precisamos terminar o trabalho da faculdade, apenas isso. E não invente de reclamar comigo, porque não tenho culpa dos seus problemas. Ah, antes que eu me esqueça Feliz Natal atrasado.

— Você é uma diaba!

— Eu te repreendo, amor. Sou um cordeirinho de Cristo. Beijos.

Vejo jogando o celular com força no sofá. Me apresso em descer antes que me veja sentado e seja o próximo a morrer.

— Bom dia, J. — caminho até a cozinha.

— Se meu dia for bom, mais tarde eu te digo.

Levo as mãos até a boca, abafando o riso.
— Olha só, quem deveria estar irritado seria eu por ter sido acordado de forma tão gentil. — digo ironicamente.

— Me desculpe, mas não sou Luana para te oferecer todo "amor" do mundo. — debocha. — Eu quero saber porque você vai trabalhar, sendo que já era para estar de férias, curtindo a sua família. Não acredito que vou ter que ficar nesse tédio!

— Hoje é meu último dia no trabalho e só retorno em Janeiro, então para de reclamar. Acredito que hoje, nossos pais irão dar uma volta pela cidade, porque você não aproveita para espairecer a mente, hum? E não é Luana o nome da minha namorada. Ela também deve ir com vocês.

— Dar uma volta na cidade? Pelo amor de Deus!

— Acabei de me lembrar que o parque será inaugurado hoje, às 13am. Não poderei ir com vocês, mas qualquer coisa passo lá,  caso saia cedo do trabalho.

— Só irei por causa de Eloá. — murmura.

— Bom dia tio, bom dia pai. — Maressa comprimenta descendo as escadas. — Não irei tomar café em casa. Karen me espera na lanchonete, beijos.

Não deu tempo de dizer nada, pois já havia saído. Confesso que não estou gostando nenhum pouco dessa ideia de estar tomando café todo dia nessa lanchonete.

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Maressa

Entrei na lanchonete e a procurei pelas infinitas mesas. Confiro meu smartphone que não parava de apitar. Era ela, dizendo que não poderia comparecer, pois aconteceu um imprevisto. Não respondi, apenas suspirei e sentei numa mesa.
Olhei brevemente o cardápio recheado de opções, porém acho que pedirei o de sempre. Minha cabeça não funciona mais como antes. Nem posso pensar demais, senão eu surto.

—Bom dia, vai querer o de sempre? — aquele garçom simpático pergunta.

— Sim. — sorrio fraco.

— Muito bem, trago já. — e se retira.

Tiro meu caderno de dentro da bolsa, puxo uma caneta e termino o texto que comecei antes. Porém o sentimento já não era o mesmo, então, assim que terminei, passei para outra folha.

📄 Estou tentando melhorar, sabe? Já me acostumei com a ausência e tenho aprendido a ser uma pessoa madura em relação a percas, mas ainda tô legal. Queria ser como aqueles que quando termina um relacionamento ou perde alguém, a volta por cima e aparentemente se torna uma pessoa nova, mais bonita, tanto por dentro como por fora. MAS VOU CONSEGUIR, SABE? Talvez não seja uma tarefa tão difícil suportar a ida de alguém ; talvez eu mesma esteja fazendo vista grossa. Gostando de ficar presa a solidão, esperando que alguém estenda a mão para me levantar. Tudo depende de mim e o problema está em mim. A mudança tem que partir de mim! Por onde começar?

— Prontinho. — vejo um prato pousar  na mesa.
Fecho o caderno e guardo novamente.

— Valeu.

— Está melhor? — seu olhar carregava solidariedade.

— Melhor que ontem, sim. Só não sei se amanhã estarei melhor do que hoje. — levo o sanduíche até minha boca.

— Nada é fácil superar, mas quando temos o Espírito Santo a recuperação é bem mais rápida. Talvez não tenha mudado completamente, mas já deve ter se acostumado com a ideia de que as coisas não são mais como antes. E rapidamente o Espírito Santo te faz enxergar coisas novas, por mais pequenas que sejas; um simples amadurecimento, talvez.

Ele é tão sábio nas palavras. Parecia que sabia ler perfeitamente meus olhos.

— Como é seu nome?

— Ethan; Ethan Malik.

— Lindo. — sorrio. — Meu nome é Maressa.

— Diferente. É bíblico?

— Bom, eu já encontrei uma cidade, no livro de segunda Crônicas com esse nome e meu pai disse que achou, no mesmo livro. Porém, era o nome de uma menina, filha de não sei quem. Chamou tanto a sua atenção que colocou em mim. — explico e ele solta uma risadinha. — Tem como você sentar? Eu odeio comer e ficar olhando para cima. Meu pescoço já está doendo.

— Me desculpe. Não posso ficar muito tempo, só queria saber se estava realmente bem. — senta-se.

— Acho que sim. — mordo mais um pedaço do meu sanduíche. — E se eu não conseguir me...

— Maressa, e se você voar?

Aquela pergunta me deixou perplexa.

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Lo-RuamaOnde histórias criam vida. Descubra agora