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LUNA

Tá legal, talvez eu deva ir falar com ele. Certo? Certo.

Mas e se ele não quiser nem ver minha cara?

E se ele estiver bolando um plano maligno pra que eu seja demitida na frente de todos e passe a maior vergonha da minha vida? Ele mora no apartamento número 38, então ele faz parte da elite de quem mora aqui.

Mas acho que não. Eu já vi ele em algum lugar, disso eu tenho certeza. E a voz dele... a voz dele não me era estranha. Talvez, se ele estivesse sem aqueles óculos...

— Olá? Moça?

Levantei minha cabeça, vendo um rapaz com olhos azuis vibrantes. Caraca, que lindo!

— Uh... sim?

Ele sorriu.

— Você pode ligar para um apartamento pra mim? Eu esqueci minhas chaves.

Assenti. Heitor, o porteiro, não veio agora de manhã, então estou cobrindo sua função até ele chegar.

— Ah, sim, claro. Qual o número do apartamento que você quer que eu ligue?

— 38.

Opa, para tudo que eu conheço esse número.

— Espera. Eu posso te perguntar uma coisa antes?

O rapaz de cabelos castanhos sorriu e assentiu.

— Qual o nome daquele cara, digo, rapaz que mora nesse apartamento? — a curiosidade era nítida em minha voz.

— Espera, você não sabe quem ele é? — ele deu um meio sorriso confuso.

Franzi a testa.

— Eu deveria?

Ele fez um biquinho.

— Não, não é isso. Bem, o nome dele é Harry. — O rapaz de olhos azuis estendeu a mão pra pegar o telefone que eu dei a ele. — Alô? Oi, tia Anne, é o Niall. Eu esqueci as chaves, será que você pode abrir pra mim? Claro, tudo bem. Ok. Desde quando? Oh, sim. Tudo bem então, vou subir daqui a alguns minutos.

Ele me devolveu o telefone e eu coloquei no gancho.

— Niall? Você é irlandês? — perguntei, e ele sorriu. Eu também tenho a ridícula impressão de conhecer ele em algum lugar.

— Sim — ele riu levemente. — Achei que tivesse percebido pelo sotaque. Geralmente, é o que chama mais atenção, morena.

— Luna — corrigi com um sorriso. Gostei dele.

— Luna. — Ele repetiu, me mandando uma piscadinha, enquanto se afastava com um sorrisinho fofo. — Obrigado. Acho que te vejo mais tarde, então. — Assenti, sorrindo de volta. — Eu tenho que ir logo, parece que Harry não está nada bem.

Meu sorriso murchou.

— O que? Por que?

Minha preocupação parece ter pegado ele de surpresa um pouco.

— Bem, pelo que Anne me disse, ele estava meio mal desde ontem a tarde.

Mordi o lábio, nervosa.
Então o rapaz dos cachinhos voltou ao meus pensamentos. Será que foi por minha causa?

Eu ainda tenho que me desculpar com ele. E eu ainda não sei como.

Bem, eu sei o nome dele e o número do apartamento onde ele mora, já é um começo. Certo? Certo.

— É, eu vou subir. Até mais, Luna.

Ele sorriu e foi até o elevador.

— Tchau, Niall.

Passei a manhã toda ali, tentando pensar em uma maneira, uma desculpa pra subir lá e falar com ele, ver se ele está bem e pedir desculpas pelas minhas maneiras no dia anterior, e nada me ocorreu. Depois de algum tempo, Heitor chegou cheio de sacolas e bolsas amarrados em seus braços e com um sorriso enorme debaixo de seu bigode grisalho. Ele tirou sua boina e seus cabelos brancos estavam desarrumados.

— Olá, doce Luna — ele sorriu e eu o abracei.

— Oi, Heitor. Como vai?

Eu amava ele como um pai, o que ele realmente era pra mim, mesmo nós tendo uma aparência quase completamente oposta. Ele era bem velhinho, já com a idade na casa dos oitenta, bem branco, olhos azuis, tinha cinco filhos, dos quais três são mulheres, e nenhum deles jamais visita os pais.

Burros, eu digo. Se eu ainda tivesse meus pais comigo, eu os visitaria sempre que pudesse.

Enfim, já eu, sou morena chocolate. Meus cabelos são crespos, tenho vinte e três anos. Nada demais. Talvez até algo de menos, para alguns.

— Vou bem, e você? — ele colocou um de meus fios de cabelo rebeldes atrás da minha orelha e examinou meu rosto. — Seus olhos estão cor de mel e preocupados hoje.

Dei um sorriso suave e segurei a mão dele por um segundo. Balancei a cabeça, dando o sorriso mais brilhante que eu tinha.

— Nada demais, só o cansaço de sempre. Que sacolas são essas?

Desenrolei as alças de seus braços e o ajudei a levá-las pra trás do balcão.

— Bem, essas aqui são suas — ele me estendeu quatro sacolas, e eu franzi a testa.

— Minhas?

Ele sorriu.

— Sua e da sua irmã. Na hora que vocês abrirem, vocês vão saber o que é de quem. Estou entregando agora, porque não vou estar aqui no natal, e nem você, então...

— Mas, Heitor, você não precisava...

— Claro que eu precisava! Você é como uma filha pra mim, o mínimo que eu poderia fazer era te presentear nesse natal. Mesmo que eu esteja te entregando quase dois meses adiantado — ele gargalhou levemente.

Respirei fundo, não querendo chorar. Assenti e abracei ele novamente.

— Obrigada, Heitor. Eu te amo. E essas outras sacolas aqui?

Ele sorriu, separando nosso abraço.

— Essas daqui são pra um jovem muito doce que mora nesse prédio, preciso que você leve no apartamento dele depois, se não for pedir demais — ele sorriu e eu balancei a cabeça. É claro que não é nada demais. — Essas aqui são pra minha esposa e... talvez para minhas filhas, se elas forem me visitar esse fim de ano — ele deu um sorriso triste.

Meu coração se apertou, e eu o abracei novamente.

— Eu queria muito, muito mesmo ser sua filha. Eu passaria todos os natais com você e com a Soraya, em frente à lareira trocando presentes à meia noite, comendo porcarias e maratonando todas os filmes da sequência Esqueceram De Mim. E tenho certeza que a Letty também. A culpa não é sua se seus filhos não conseguem ver o quanto vocês são maravilhosos.

Senti ele soluçar em nosso abraço, então ele me apertou um pouco mais forte antes de soltar.

— Eu sei, eu sei. Agora vai lá levar o presente para o garoto, e aproveite seu horário de almoço estendido hoje. Diga a ele que mandei um abraço. — Ele limpou as lágrimas rapidamente e me deu um sorriso brilhante.

Assenti, pegando as duas sacolas que ele me estendeu, uma delas da Gucci. Caraca.

— Qual apartamento?

— Oh, verdade! Entregue para Harry Styles, no apartamento número 38.

Good Years || Harry StylesWhere stories live. Discover now