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LUNA

Ok, então. Por essa eu não esperava.

Como é que eu não havia percebido antes? Tipo, primeiro o cara estava de óculos escuros, em um dia nublado e dentro do prédio. Então, ele pediu desculpas pra mim, enquanto olhava para uma máquina de refrigerantes. Fora que, desde o início, ele estava com um Labrador, dentro de um condomínio onde não eram permitido animais.

O silêncio entre nós parecia deixar ele aflito.

— Por favor, não comece a me tratar diferente agora que sabe a verdade — Harry pediu, depois de alguns minutos.

Balancei a cabeça, então lembrei que ele não podia me ver.

Quando cheguei aqui e o vi usando óculos escuros, tive que me segurar para não fazer piada sobre o fato, mesmo com frases estúpidas como "nossa, como está sol aqui dentro, não é?" ou "eu sei, eu brilho bastante" brotando na minha cabeça. Também pensei que ele podia estar de ressaca, mas não disse nada a respeito. Então ele tentou disfarçar, mas percebi quando ele andou encostando na parede.

Ele estava sem camisa, e seu corpo me deixou embasbacada por alguns segundos. Ele não era musculoso, mas também não era magrelo. Seu peitoral era magro, mas definido, e seu abdômen também não era trincado, mas tinha seu charme. Sua v-line era bem destacada, principalmente por causa do shorts que ele usava, e de todas tatuagens que eu podia ver ali, minhas favoritas foram as folhas de samambaia indicando sua entrada, no fim de sua barriga. Eu não estava acostumada em ver homens sem camisa, então eu estava mais que besta enquanto observava aquela beldade.

Agora que ele realmente confirmou ser cego, eu tinha várias perguntas, mas só fiquei em silêncio, não querendo ser indelicada ou intrometida. Ele bufou baixinho.

— Por favor, diga alguma coisa. Eu sempre odiei quando as pessoas ficavam em silêncio em meio a uma conversa, mas agora que eu não posso mais ver as expressões faciais, eu odeio ainda mais.

Olhei pra ele, observando suas feições. Agora, observando seu rosto mais tranquilamente, de bom humor e sem ser distraída pelo seu corpo, percebi o quanto ele é bonito. Seus cabelos castanhos estavam bagunçados de uma maneira sexy, seus lábios eram tão rosas que eu até diria que ele usa batom, e seu nariz era um pouco grande, mas se encaixava perfeitamente em seu rosto, o deixando ainda mais bonito. Seu maxilar era marcado e, mesmo ele não estando sorrindo, eu ainda me lembrava de seus dentes alinhados, que combinavam perfeitamente com ele.

Mano, ele é lindo. Mas tudo o que eu queria ainda era ver seus olhos.

— O que você quer que eu fale? — cruzei minhas pernas no sofá, ainda observando cada detalhe de sua aparência.

Ele encolheu os ombros e entrelaçou os dedos em frente ao corpo. Suas mãos também eram muito bonitas, de fato.

— Eu não sei. Você parece ser interessante — ele jogou no ar, então suas bochechas coraram levemente quando ele sorriu, parecendo despreocupado, e disse — me conte mais sobre você.

Suspirei. Tema difícil, pra falar a verdade.

— O que você quer saber? — me inclinei, me apoiando no braço do sofá.

— Bom, você trabalha aqui, certo? — ele perguntou, e eu murmurei afirmativamente. — E, depois do episódio do suco, assumi que você estuda. Mas não sei o quê você estuda.

— Entendo. Eu estou cursando letras na UCL, e estou no terceiro ano. Antes que você pergunte, eu amo essa área, desde o mais básico ao mais avançado, desde Inglês à linguagem de sinais. Sempre gostei muito de ensinar minha irmã e outras crianças, então acho que seria legal trabalhar com isso.

Harry estava com o cenho franzido, enquanto me ouvia. Seus dedos alcançavam e brincavam com seus lábios de tempos em tempos, e eu me perguntava se ele tinha consciência disso.

Ele assentiu e se mexeu no sofá. Antes que eu mandasse a pergunta de volta, Harry falou:

— Você tem uma irmã?

— Sim. O nome dela é Leticia, mas ela prefere ser chamada de Letty. Ela tem dezessete anos e é fanática por boybands e atores bonitos, fica ouvindo música o tempo todo e ama a vida. Ugh.

Harry gargalhou baixinho, e eu amei aquele som.

— Ela ama a vida? Ugh, que nojo eu tenho dela — Harry fez piada, me fazendo rir.

Falamos sobre mim mais um pouco, então eu precisava ir.

— Você está no seu horário de almoço, não é? Então por que não come por aqui? Tenho certeza que a dispensa está abarrotada de comida — Harry ofereceu, tranquilo.

Cogitei a ideia. Ele não era um babaca, e era bastante legal até. Olhei meu relógio, calculando. Eu tinha só mais alguns minutos, então não teria tempo de comer em outro lugar.

— É, pode ser — sorri um pouco. — Se não for te incomodar, claro.

— Não seja idiota, é claro que não vai me incomodar — ele sorriu, se levantando. — Mas eu vou precisar de uma ajudinha, se você não se importar — ele sorriu, sem graça.

— Não, tudo bem — sorri, esticando meu braço e entrelaçando com o dele.

Harry respirou fundo, e eu prendi a respiração enquanto andávamos até a cozinha. Era como se meu braço estivesse em chamas. Até olhei algumas vezes, pra conferir, mas não estavam.

— Bem, estamos na cozinha — tentei parecer tranquila.

Harry clareou a garganta.

— No armário ao lado da pia ficam os pratos, e ao lado ficam os copos. Garfos e facas na primeira gaveta, e deve ter algo pré-pronto na geladeira. Pode ficar à vontade.

Assenti. Era estranho estar aqui, na casa de um estranho, mexendo nos armários atrás de coisas para fazer sanduíches pra nós. E o silêncio estava começando a me constranger.

— Não é esquisito, ter uma estranha vasculhando os armários da sua cozinha? — perguntei, sorrindo levemente.

— Era pra ser, mas não — olhei pra ele, vendo aquele sorriso de lado que só ele dá.

Isso tá muito estranho. Tipo, eu nunca fui de fazer amizade com caras como ele. Mas então, do nada, eu chego na casa dele, ele me convida pra entrar, eu descubro que ele é cego, então ficamos conversando por vários minutos. Meu Deus, isso não tem nexo algum.

— Você é a primeira pessoa fora do meu círculo íntimo com quem eu falo em, sei lá... anos. — A voz de Harry me fez erguer os olhos.

Engoli seco, enquanto mordia meu sanduíche. Entreguei um prato pra ele, e ele pegou.

— Por que?

Harry coçou a nuca, encostado no armário da cozinha. Vi que ele tinha uma tatuagem em forma de estrela na parte debaixo do braço, e sorri.

— Uhh... é uma longa história — ele encolheu os ombros, dando uma mordida em seu sanduíche. — Ah, a propósito, esse sanduíche está muito bom.

— Obrigada — sorri levemente, enquanto terminava de comer. — Olha, eu até diria pode me contar, eu tenho muito tempo sobrando — retomei o assunto do qual ele se desviou. — Mas não vou te pressionar, e também não tenho tempo — ri um pouco, desviando o olhar de sua boca enquanto ele comia.

Ele mastigou e engoliu, então deu um sorriso fechado, me fazendo notar as covinhas que eu não havia visto antes.

— Que tal amanhã?

Good Years || Harry StylesWhere stories live. Discover now