Capítulo quatro

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Acordei, porém continuei de olhos fechados. Alisei a cama para sentir a leveza do lençol e a maciez do colchão. Há muito tempo eu não tinha esse conforto. Rainha Beatriz tirou o máximo que podia dos criados, com a desculpa de reduzir custos. 

Pensei no quanto Olivia amaria tudo isso. Ela se jogaria no colchão e rolaria sem parar, como se fosse uma criança. 

-Senhorita? - ouvi Bartira chamar. -Está na hora. 

Sentei-me e bocejei, olhando ao redor. Bartira estava de pé, colocando um vestido azul-celeste sobre a poltrona ao lado da cama. Ele era lindo.  Justo na cintura, com uma saia volumosa e um decote discreto.

-Minha cor favorita! - eu disse, me aproximando. 

-A pessoa que fez questão de tua presença contou ao rei. -Bartira disse. -Maria veio me trazer e contou. 

Refleti por um instante. Como a pessoa sabia minha cor favorita?

Lembrei que ainda não sabia o porquê de estar aqui. E se eu aceitasse tais mimos e depois fosse cobrada de um modo desagradável? 

-Não sei se devo aceitar... - olhei para Bartira. -E se a pessoa achar que terá liberdades comigo por causa disso?

-Não te preocupes. - ela sorriu. - O rei jamais deixaria isso acontecer. Qualquer coisa, pode falar comigo. 

-Sim, senhora... - suspirei, olhando para o vestido mais uma vez antes de vesti-lo. 

-Aproveite a oportunidade!- ela começou a ajustar o espartilho em minha cintura. - Quantas moças gostariam de um vestido bonito, sapatos forrados de seda e joias. Se o rapaz lhe pedir favores, diga-lhe que não lhe prometeu nada. - nós rimos.

-E se ele me chamar de oportunista? - fitei sua face pelo reflexo do espelho. 

-Mande ele plantar batatas! - ela sacudiu a cabeça. - A senhorita não pediu nada, eles que quiseram dar. 

Bartira começou a desenrolar as histórias de sua juventude animada enquanto eu me encarava no espelho. Eu parecia outra pessoa, com toda aquela pompa. O vestido contornava perfeitamente minha cintura e a saia arrastava no chão. 

Achei tão injusto Olivia não estar aqui comigo. Já estava ansiosa por vê-la. 

Passei óleo nos meus cabelos e os deixei soltos. Ouvi batidas e Bartira abriu a porta sem aviso prévio. Me virei a tempo de ver Arthur entrar, com seu sorriso arrebatador. Como prometido á Bartira, ele estava bem arrumado. A farda impecável e os cabelos penteados para trás perfeitamente alinhados. 

Ele abriu a boca por alguns segundos e voltou a fechá-la quando me viu. Se virou para Bartira e para mim novamente. 

-Para o bem de todos, devia jantar aqui em cima. - ele finalmente disse. 

-Algo errado comigo? - perguntei, olhando-me no espelho da penteadeira mais uma vez. - Devo trocar o vestido? Achas exagerado? Ou os cabelos, eu posso prendê-los e...

Ele riu. Bartira o fitou, confusa.

-Ao descer, fará com que todos os rapazes se apaixonem perdidamente pela senhorita. Já roubaste meu coração. Quer o de todos os outros também? - ele perguntou, seriamente. 

-Senhor! - eu ri, aliviada. 

-Comporte-se, menino! - disse Bartira. 

-E as moças? - ele fez um gesto exagerado para a porta. - Morrerão de inveja. 

Bartira sacudiu a cabeça, rindo. 

-Desçam. Logo o jantar será servido. É bom chegar na hora.

-Não digas que eu não avisei. - ele estendeu o braço para mim. - Me daria a honra?

Assenti.

Caminhamos até metade do corredor com a companhia de Bartira. Depois descemos as escadas em silêncio e paramos na porta do salão de jantar.

-Pronta para a festa? - ele riu.

-Não sei dizer...

Fomos anunciados e entramos. O rei estava sentado na outra ponta da mesa, ao seu lado estava Beatriz, o primeiro príncipe e a esposa. Do outro, uma senhora que rapidamente reconheci como a rainha Mãe,  Elizabeth, e ao seu lado uma jovem pequena, que ao ver Arthur, começou a se contorcer na cadeira como uma criança ao ver um doce.  Devia ser Camila. 

A rainha Mãe foi a única a não nos olhar, como se não se importasse. 

-Ora, está ainda mais bonita! - disse Rei Afonso com um sorriso, deixando Beatriz furiosa.-Sente-se ali. - ele indicou o lado do irmão. 

Então ouvi o som da cadeira caindo no chão e um segundo depois a Rainha mãe estava me abraçando forte e chorando.

-Filha, há quanto tempo! - ela disse, chorando de alegria. - Finalmente minha filha voltou para casa. 

Além dos Muros do PalácioWhere stories live. Discover now