Capítulo Doze

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Acordamos bem cedo na manhã seguinte. O casamento estava marcado para o meio-dia, e a festa duraria o fim de semana todo.
Mal tinha amanhecido e eu já estava de pé, com uma moça ajustando meu espartilho nas costas. Rainha Ana estava sentada na poltrona perto da escrivaninha, usando um elegante vestido vermelho de seda.  A ponta de seus dedos finos deslisavam despreocupadamente pela mesinha, onde estavam as cartas que eu ainda não havia enviado á Olívia. 

-A senhorita acha que está bom? - perguntou Cíntia, quando acabou. -Ou deseja apertar mais?

-Está ótimo, obrigada. - Sorri para ela. Eu tentava demonstrar o tempo todo que não estava tentando me aproveitar da situação, mas ainda não sabia se estava obtendo sucesso. 

Enquanto eu colocava o vestido, Rainha Ana virou a cabeça para mim:

-Tu estás escrevendo para alguém? - ela perguntou, curiosa. 

-Sim. Para uma amiga. Porém ainda não obtive resposta. A senhora sabe me dizer quando as cartas são enviadas?

-O mensageiro viaja ás sextas-feiras. Acho que ontem já saíram algumas cartas. Qual o nome da tua amiga? Eu a conheço?

Não soube se diria a verdade ou inventaria uma história. Não sabia se ela investigaria e descobriria que eu estava trabalhando no palácio de Beatriz. Ela poderia ficar muito confusa.  Optei por selecionar as informações. 

-Olívia Fonseca. -Sua expressão se iluminou.

-Os Fonseca? Eu os conheço. Grande família, bem antiga. Ela é filha de Abigail? Foi a mais recente notícia de casamento que acompanhei deles. 

Assenti com a cabeça.

-Oh, aquela mulher é desagradável. - ela balbuciou algo que não consegui ouvir.  - Coitado do marido dela. Viveu no inferno. Deve ter morrido de desgosto.

Aquilo era verdade, era de conhecimento geral o desgosto daquele casamento.

Fiquei feliz que a Rainha não me perguntou mais nada e ficou de pé, fazendo questão de escovar meu cabelo. 

Tomamos café no salão, com quase todos os convidados.  Arthur sentou-se ao meu lado, vestindo um casaco sobretudo vermelho. Seus cabelos estavam impecavelmente escovados para trás, e usava uma coroa reluzente.  Ele cumprimentou a mãe,  se virou para mim com aquele olhar de tirar o fôlego e sorriu:

-Está linda. - ele disse. 

Abri a boca para responder, mas voltei a fechá-la. Lembrei que ele era comprometido, e sabia disso. Então apenas acenei com a cabeça, com um agradecimento abafado. Ele notou minha reação. 

-Está brava comigo? - ele perguntou, preocupado.

-Desculpe-me senhor, mas não acho adequado que ande comigo sendo comprometido. Sua noiva pode ficar chateada comigo. Não quero problemas. 

-Que noiva? - ele riu. -Acreditou na história do jantar de ontem?

-Sua mãe confirmou mais tarde. Disse até que o senhor já a viu. 

-Mamãe inventa histórias. Tanto que ela até conta aos outros sobre você no internato, como se fosse minha irmã. Ninguém me apresentou noiva alguma. - olhei para ele e de repente vi seu olhar cintilar, como se algo tivesse sido compreendido só agora. - Está enciumada?

-Não! - exclamei, um pouco alto demais. -Claro que não. 

Mas ele parecia muito satisfeito consigo mesmo. 

-Ah... - tentei pensar em algo para sair daquele assunto. - Onde está o rei?

-Ele vai ficar no quarto até chegar a hora do casamento,  assim como a Sra. Beatriz. -ele respondeu, mas seus olhos me analisavam com curiosidade. 

Me virei para frente e logo depois algumas pessoas passaram atrás de mim e cumprimentaram Arthur.  Um rapaz apertou a mão de Arthur e cumprimentou a rainha com uma mesura profunda. 

-A senhora fica mais radiante a cada dia! - ele se curvou e beijou a mão dela. 

A rainha riu de seu galanteio:

-Leonardo, guarde os elogios para as mocinhas que estarão no casamento hoje. Já pensou em se casar? Já está na idade.

-Papai já me mostrou algumas moças, majestade. Ameaçou cortar minha mesada se eu não casar logo, mas não achei ninguém com...

Ele me fitou, abismado:

-Quem és tu, donzela? - ele beijou minha mão.  Ouvi Arthur se mexer ao meu lado e eles trocaram olhares, como se conversassem em silencio. - Então essa é a ladra de corações?

-Eu? - olhei para os dois. - Como assim?

Sr. Leonardo sentou-se ao lado de Arthur, que o fuzilava com o olhar. 

-Arthur me escreveu falando de ti. - ele sussurrou.

-Cale a boca! - Arthur o cutucou, incomodado. 

-A senhorita deve ser um anjo, pois ele nunca escreve.  - o rapaz riu. 

-Ele está inventando. Ele é um mentiroso. - Arthur disse, envergonhado, evitando me olhar.

-Ele disse que tu és tão bela quando o nascer do sol. - Sr. Leonardo se divertia com o que dizia. 

-Quer morrer? - Arthur perguntou ao amigo, de um jeito tão engraçado, que me fez cair na gargalhada. 

Eles me olharam com surpresa, e Arthur sorriu encantado. 

-Vamos, meus amores.  - A rainha ficou de pé, alheia ao assunto, nos chamando para subir até o quarto do rei. -Vamos ver como está o irmão de vocês. Esse casamento é um fardo demasiado pesado para meu querido. 

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⏰ Last updated: May 17, 2020 ⏰

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