Capítulo Dez

9 0 0
                                    

Hoje

Beatriz fez todas as tarefas que a rainha praticamente a obrigou e foi a seu quarto. Não parecia nem um pouco interessada no restante dos preparativos para seu casamento. 
Os convidados chegavam e se dirigiam para as torres, e nem os víamos. 

Me troquei, colocando uma roupa mais confortável para cavalgar. Calças folgadas e grossas e um colete azul e ouro.  Fiquei feliz em lembrar que já era aceito que uma dama cavalgasse com uma perna de cada lado e não as duas de um só lado.
Meu cabelo estava preso em um coque embaixo de um chapéu com uma fita presa no queixo.  
Arthur me esperava ansioso na porta do meu quarto, como se nunca tivesse cavalgado com uma moça antes.

-Cuidado! - disse a rainha, mais de uma vez. - Cavalos se assustam ás vezes e podem fazer vocês caírem. 

-Sim, senhora. Fique tranquila, tomaremos cuidado. - disse Arthur, beijando o rosto da mãe. 

Olhei para Srta. Sara, lembrando de sua promessa de me falar de mamãe. Mas eu sabia que o tempo estava tão corrido, e que eu não podia perguntar nada agora. 
Meu cavalo era marrom, com as crinas negras. Acariciei o pescoço dele, para que ele se familiarizasse comigo antes que eu o montasse.  

-O nome dele é Mistério. - disse Arthur, se aproximando. -Um dia ele apareceu do nada.

Nós rimos.

Arthur me ajudou a montar, e rapidamente mudei minha postura, Minhas costas estavam retas e o sentimento familiar de liberdade tomou conta de mim. 

Olhei para trás, onde R. Ana estava sentada sob a sombra de uma árvore, ao lado da Sra. Laura e Srta. Sara. A rainha acenou, animada. 
Voltei minha atenção para frente, e Arthur indicou um ponto adiante para irmos devagar. 

-Qualquer coisa você me avisa, que paramos. - ele disse. Eu assenti. - Está gostando daqui?

-Sim, senhor. - o olhei. Ele riu.

-Não sou senhor. 

-Alteza? - O provoquei. De repente me sentia confiante. Ele deu um sorriso charmoso.

-Não perdeu todo o jeito de cavalgar. E o Mistério gostou de ti. 

-Gostei dele, também. - alisei o pescoço do cavalo. 

-Qual era o nome do seu? 

-Era uma égua. A Lua. - senti saudades dela. - Ela foi vendida, para pagar parte das minhas dívidas. 

-Ah... - Arthur ficou pensativo. - Desculpe-me se for uma pergunta desagradável, mas como foi isso? Como pode ter tudo um dia, e nada no outro?

Olhei para o horizonte, onde as árvores tinham o céu límpido ao fundo. Tudo parecia tão mais bonito aqui. E era.

-Quando meu pai morreu, fiquei sob a guarda do meu padrinho, o rei Henrique. Ele me deu tudo, sempre. Só que quando ele morreu, Beatriz reviu as contas e descobriu que meu pai devia uma fortuna á coroa. O rei ignorava a dívida. Tudo que era meu, foi para ela. Terras, ouro, jóias, vestidos...
A pessoa que ficou responsável por mim confirmou tudo. Ele teve que me deixar com ela. E trabalhei até hoje para continuar pagando. 

-Você não recebia nada pelo seu trabalho? - Arthur franziu a testa. -Isso não pode. 

-Mas eu devia.  Devo.- argumentei. Era mais forte que eu defender Beatriz.

-Mesmo assim. Uma dívida com seu patrão não pode tomar mais que a metade do salário, ou isso é quase escravidão. 

-Meu responsável disse que assim era o certo, por isso fiz sem reclamar. 

Além dos Muros do PalácioWhere stories live. Discover now