Capítulo Oito

4 0 0
                                    

Tirei os olhos de Beatriz e olhei para Sra. Laura. Perguntei a ela quantos meses ela estava, o que deixou Beatriz profundamente incomodada. 

-Cinco meses. - respondeu ela, timidamente. 

-Estou preparando tudo para o nascimento do meu primeiro neto. - disse a rainha, abrindo um largo sorriso ao olhar para o ventre da Sra. Laura. 

-O mano disse que vai ser uma semana de festas. - disse Arthur, animado.

-Mas é claro. - A rainha se mexeu na cadeira e fitou Beatriz. - Talvez seja o próximo rei, do jeito que Beatriz é devagar. 

Ela pulou e estalou a língua. Inspirou profundamente e tentou fazer uma expressão amável.

-A senhora deve saber porque demorei a marcar a data. Papai morreu, precisei do luto. Depois fiquei doente, depois...

-Não sei como uma moça doente frequenta festas em plena madrugada. - Rainha Ana sorriu sarcasticamente. 

-Foram rumores maldosos. - a voz de Beatriz saiu aguda. -Mas eu ouvi dizer que a senhora demorou quase dez anos para ter o primeiro filho.

Olhei para Arthur, pedindo ajuda com a força do pensamento. Ele encarava Beatriz, preparado para defender a mãe de qualquer sinal de ofensa. 

A rainha não perdeu a pose:

-Me casei aos treze anos, era quase uma criança. Para minha sorte me mandaram para o castelo mais distante, a espera da idade certa para a consumação. Meu marido era jovem e tolo também. - ela riu. Ela fez uma pausa e me serviu suco de laranja. - Ele se esqueceu durante muito tempo que tinha uma esposa. - Mais uma pausa. Ela inspirou profundamente. - Meu sogro teve que obrigá-lo...

Ela ficou pensativa, e alguém entrou no quarto. Srta. Sara se aproximou, fez a mesura e entregou uma caixinha de madeira para a rainha. Ela pareceu satisfeita:

-Conseguiu tudo, querida?

-Sim, senhora. - ela respondeu.

-Ótimo. Sente e tome café conosco. Saiu tão cedo. - A rainha deu uma olhada discreta em sua caixinha e sorriu. 

Passamos a manhã analisando o tapete bordado mais lindo que eu já tinha visto na vida.  Havia os brasões das duas famílias: O leão, da família do rei, e a águia, da família de Beatriz. O tapete ficaria na sala do trono, simbolizando a união das duas famílias e tornando o reino Saream ainda mais poderoso. Beatriz era a unica filha do rei Henrique de Malude e como 'apenas' uma mulher, não poderia reinar sozinha. O próximo na linha de sucessão de Malude seria Fernando, pai do Rei Afonso. Para manter o reino na família, os reis fizeram um acordo para que os filhos se casassem. Se o casamento não acontecesse, Beatriz teria que entregar o reino e se contentar com uma pequena pensão e quase nada de luxos. Tudo isso especificado no contrato, o qual o atual rei, Afonso, não poderia alterar nada.
E mais: Beatriz teria que ter um filho saudável dentro de um ano. Do contrário, o casamento seria anulado. E essa última tarefa parecia a mais difícil para ela cumprir...

Além dos Muros do PalácioWhere stories live. Discover now