Ouvi sussurros atrás de mim e quando me virei, percebi que a dama de companhia da Rainha dava instruções para as outras.
-Devem tratá-la como uma princesa na frente da rainha, enquanto seu declínio durar.
Elas assentiram e me encararam, como se eu fosse uma intrusa. E de fato eu era.
Ela se aproximou de mim e eu rapidamente fiquei de pé. Ela era alta, e sua expressão parecia severa, apesar do sorriso que ela me dava.
-Fazia muito tempo que ela não ficava tão alegre. - ela disse, finalmente.
-Não sei se vão brigar comigo, se fiz certo em aceitar tal tratamento. Mas não queria vê-la chorar.
-Fez certo. Ela já teve isso algumas vezes desde que a Princesa Carolina faleceu ainda criança, mas as pessoas ficavam assustadas. É natural, mas...
Ela se calou e olhou para R. Ana, que murmurou alguma coisa enquanto dormia.
-Então ela realmente existe? - perguntei, e ela voltou a me olhar e assentir.
-Irmã gêmea do rei. Morreu aos seis anos. - ela desviou o olhar.
-Sinto muito. - disse, sinceramente.
-É a primeira vez que ela escolhe uma moça da sua idade. Quero só ver o alvoroço amanhã. Será interessante. - ela riu. -Vamos, vou acompanhá-la a teu quarto. Ah, perdoe-me. - ela estendeu a mão. - Sou Srta. Sara Martins. Tu és filha de Sofia, não?
A mera menção do nome de minha mãe me agitou. Eu não havia a conhecido, então qualquer citação que alguém fazia dela, me deixava imensamente feliz.
-Eu a conheci, há muito tempo. Tu nem pensavas em nascer. -meus olhos se encheram de lágrimas.
-Me fale dela! - quase implorei.
-Agora está muito tarde. - ela disse. -Mas amanhã conversaremos. Teremos tempo para isso.
A segui até o corredor, onde Arthur surgiu apressado. Parou de repente e disse que o rei queria me ver. Fiquei nervosa, mesmo acreditando que o rei não estava chateado comigo.
-Não precisa ficar nervosa. - Arthur disse, quando já estávamos na metade do caminho.
-É que ele é um rei.
-Antes de tudo ele é uma pessoa legal.
A porta da sala de reunião ficava no fim de um corredor estreito, fazendo com que eu e Arthur ficássemos ombro a ombro, já que não era educado que um rapaz ficasse na frente de uma moça ou atrás quando estivessem sozinhos.
Ouvi a voz do rei comentando que cerca de cem convidados chegariam no dia seguinte e a segurança seria reforçada. A porta estava aberta, mas esperamos a autorização para entrar, por educação.
Príncipe Augusto e Sra. Laura estavam lá também. Ela me olhou e sorriu gentilmente, e até mesmo o príncipe parecia estar mais receptivo quando a mim.
-Sente-se, srta. Anastácia. - disse o Rei Afonso, e eu obedeci. Arthur sentou-se próximo ao primeiro príncipe. - Gostaria de lhe agradecer pelo que fez. Poucas moças tiveram a sensibilidade para tal situação. E não tiro a razão delas, deve ser assustador. Deves saber que já aconteceu algumas vezes antes.
-Não precisa agradecer, majestade. - baixei a cabeça.
-Claro que devo. Quando isso acontece e a pessoa nega, minha mãe fica dias sem falar, entristecida. Demora para ela voltar a ser como antes. Só saberemos amanhã como ela reagirá com tua aceitação, mas creio que será muito bem. Porém, eu não sei quanto tempo isto vai durar. Então, se a situação começar a incomodar-te, me avise. Tu não és obrigada a aceitar.
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Além dos Muros do Palácio
RomanceAnastácia nunca pensou que sairia do reino onde havia nascido e crescido. Tinha em mente que viveria para sempre isolada do mundo, desde a queda social de seu pai. Quando sua instável Rainha tem seu casamento finalmente marcado com o Rei Afonso e s...