Capítulo Sete

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Acordei com pessoas sussurrando ao meu redor, mas esperei alguns minutos para abrir os olhos. 

-Estas roupas parecem novas. - disse a rainha. 

-São novas, majestade. - disse sra. Laura. - O rei pediu que eu escolhesse um vestuário novo para a princesa. 

 -Tu tens ótimo gosto. - sua voz estava doce. - Obrigada por fazer este favor para minha menina. No Internato para Moças elas usam apenas o uniforme. É raro quando deixam usar outra coisa.

A R. Ana havia criado em sua mente uma história completa sobre a falta da princesa Carolina. Era como uma peça de teatro: Eu só precisava entrar em cena. 

Ouvi o farfalhar no vestido de alguém, e ela se debruçou sobre mim:

-Raio de Sol. - A rainha chamou, em um sussurro. Afastou o cabelo do meu rosto. -É a mamãe. 

Finalmente abri os olhos e lá estava ela. R. Ana tinha um largo sorriso e parecia anos mais jovem. 

-Bom dia, majestade - eu disse. 

-Meu amor, é a mamãe. - ela riu. - Deve estar sonolenta. Seu banho está te esperando, água bem quentinha. 

Quando sentei na cama, me vi rodeada de damas. Cada uma com uma tarefa.  Sra. Laura estava sentada na poltrona, me olhando carinhosamente. 
Depois do banho, Bartira começou a me vestir. Era um vestido mais lindo que o outro, e escolhi o verde claro. Deixei o cabelo solto e o alisei com os dedos. 

-Vais cavalgar mais tarde, não? Teu irmão me disse. - R. Ana se postou ao meu lado e eu assenti. - Quando chegar a hora, suba para colocar a vestimenta apropriada. Ficará mais confortável. 

Mais uma vez fiz que sim com a cabeça. R. Ana repassou a lista de afazeres, que eram leves comparadas ás que eu fazia no palácio da R. Beatriz. Nada de lavar, passar e limpar. Devíamos dar um olhar minucioso no bordado do novo tapete do Quarto de Nupcias, revisar o cardápio, ter certeza de que todos os convidados estavam confortáveis e orientar os criados para o dia seguinte. 

-Poderá cavalgar a tarde toda. - disse a rainha, quando finalmente saímos do quarto. -Espero resolver tudo o mais cedo possível. Por mais que eu não goste da noiva do meu filho, quero que tudo esteja perfeito. É incrível como ela é acomodada. Não levantou um dedo para ajudar. Onde já se viu. 

Entramos no quarto da rainha, onde uma mesa de café da manhã nos esperava. R. Beatriz estava sentada, de mau humor.  Ao me ver, franziu a testa e deu um sorriso maldoso. Me analisou de cima a baixo o tempo todo, procurando um defeito para incomodar-me. 
Perto dela estava Camila, com cachinhos perfeitos balançando ao lado de sua cabeça. 

Pronto.

As duas pessoas que mais antipatizavam comigo estavam lado a lado e logo perceberiam seu ódio em comum por mim. 

Senti alguém tocando em meu cabelo e primeiramente pensei que era a R. Ana, e não olhei de imediato. Apenas quando ela surgiu na minha frente, para sentar-se, que me virei. Arthur enrolava uma mexa em seus dedos, admirado. Seus olhos encontraram os meus e nós sorrimos.

-Tens os cabelos muito bonitos. - Ele disse. Eu agradeci, sentindo meu rosto ficar vermelho. 

-Sente-se querida. E se alimente bem. - disse R. Ana. -Mandei que preparassem seu prato favorito. 

Olhei para onde ela gesticulava e vi uma porção de pastéis que cheiravam a frango e queijo. Ou era muita coincidência ou a rainha havia pedido para prepararem o MEU prato favorito? Se de fato R. Ana acreditava que eu era Carolina, ela não devia fazer as vontades dela e não as minhas?

Olhei para ela, me perguntando se ela sabia, lá no fundo. Se ela tinha mandado me buscar, já com a intenção de me 'adotar'.  Mas depois me lembrei que Sra. Bartira havia me dito que era um rapaz. 

-Não, deixe meu menino em paz! - me dei conta que estava no meio de uma discussão. R. Ana apontava para Camila, ameaçadoramente. -Ele não te quer. 

Ela choramingou e me encarou, o que deixou a rainha ainda mais incomodada. 

-Vá já para teu quarto e só desça quando eu mandar.  - Camila abriu a boca para se defender, e ela foi dispensada com outro gesto com as mãos. 

Ela saiu e o silencio tomou conta do quarto. 

-Comam bem, temos muitos afazeres. - disse R. Ana, como se nada tivesse acontecido. -Logo os convidados chegam, muita gente. 

Arthur se inclinou e sussurrou no meu ouvido:

-Não querendo te assustar nem nada, mas Camila é bem ciumenta. Acha que sou propriedade dela e gosta de ameaçar as moças que eu gosto. Ficou banida alguns meses e jurou que estava bem. Tome cuidado. 

Por mais que as palavras dele devessem me preocupar, eu só conseguia pensar no calor em meu pescoço. Eu podia jurar que ele beijaria atrás da orelha.

-Não somos namorados, alteza. - respondi, baixinho. 

Ele apenas riu. Ele sabia que eu me desmancharia por ele. Céus, nunca tinham me dito que era difícil controlar esses sentimentos.  Olhei para frente e vi Beatriz me encarando, com sarcasmo. 
"Prostituta" ela sibilou, como se nunca tivesse caído em tentação. 

Além dos Muros do PalácioWhere stories live. Discover now