Capítulo Onze

3 1 0
                                    

Após o jantar, os homens e as mulheres se dividiram. Os homem foram para o salão, conversar, fumar e beber, e as mulheres foram para o quarto da R. Ana.  Ao chegarmos, havia poltronas para todas, em circulo. As damas da rainha a aguardavam, de um lado, para auxiliá-la se preciso. Srta. Sara estava mais a frente, atenta. 

Algumas afrouxaram o espartilho, outras tiraram os sapatos, de modo a ficar mais confortáveis. Eu me sentei ao lado da rainha, em meu refúgio, e Sra. Laura sentou-se do outro. Havia outra mulher grávida, que ao tirar os sapatos, suspirou aliviada. 

-Não aguento mais! - ela riu, acariciando o ventre. -Ainda bem que está no final. 

-Torça para ter mais um menino. - disse a rainha. - Assim teu marido te deixará em paz. 

-Creio que não, majestade. Ele já disse que quer um quarto filho logo, para garantir. 

-Os homens nunca estão satisfeitos. - disse a moça de vestido rosa. - Sempre querem mais. 

-Quando eu me casar com Arthurzinho, terei quantos filhos Deus quiser. Não reclamarei.- Camila deu um sorriso enorme. 

-Céus, és muito tola! - A rainha a fitou e Camila ficou chorosa. - Parece que tem problemas sérios. 

-Até porque o rei já disse ter planos para Sr. Arthur. Um belo casamento diplomático. 

-E este ano muitas moças vão debutar.  

-Quase todas já noivas. - A rainha mãe disse. - Mas há uma que me parece adequada para ele.  

-Quem? - todas a fitaram, ansiosas. 

-Saberão quando for a hora. - ela riu. -Arthur ficou encantado com ela.

Então ele já tinha visto ela? Estava praticamente noivo e flertando comigo? Bufei, contrariada. 

A conversa fluiu, até alguém reparar em Beatriz, silenciosa no canto do quarto. Até eu tinha me esquecido dela. 

-Está ansiosa, majestade? - perguntou uma das senhoras. 

-Não. - ela disse, mas percebi que mentia. - É só um casamento.

-Eu no lugar da senhora, estaria roendo as unhas. - disse uma moça chamada Elma. -Um homem desejável daqueles. 

A última frase incentivou o lado ciumento de Beatriz. Seus olhos ficaram em labaredas. Rapidamente eu me encolhi. 

-Como ousa falar assim do meu marido? - ela gritou. 

-Como se você se importasse. - disse a Rainha Ana. -Tenho pena do meu menino.  Já estou torcendo para ele escolher logo uma amante.

Não sei se foi impressão minha, mas várias das moças ali endireitaram a postura, como se para chamar a atenção da rainha.  Beatriz se levantou, contrariada, e saiu do quarto batendo a porta. 

O silencio tomou conta do quarto por um momento, até a rainha quebrá-lo falando sobre os tecidos que havia encomendado do reino de Balia. 

Horas se passaram, e logo os maridos vieram buscar as esposas. Por último os príncipes e o rei vieram desejar uma boa noite para a mãe, beijando-lhe a face com carinho. 

-Eu ainda não vou dormir, querido. - disse a rainha mãe ao rei, indo até a porta comigo.  - Tenho que ver se o traje de Carolina está pronto.

Rei Afonso fez uma expressão preocupada, como se antecedesse alguma reclamação da mãe. E logo vi que ele estava certo. Ao ver o vestido lilás que foi escolhido para mim, ela ficou extremamente incomodada. 

-Deve ser vermelho! - ela disse, olhando para Sr. Afonso, que aguardava na porta do meu quarto. -Todos sabem que a realeza usa vermelho em casamentos!Lilás? É brincadeira, não?

Por não pertencer a realeza, eu não poderia usar vermelho em nenhuma ocasião. Era uma cor muito simbólica para a nobreza. 

-Eu... - ele ficou sem palavras, e eu rapidamente pensei em algo.

-Senhora, as pessoas pensarão que estou comprometida e que estou usando a cor do brasão do meu futuro marido.  Assim não receberei propostas de casamento. Por enquanto, a senhora quer que eu fique aqui, não? 

Ela ficou pensativa por um momento e me abraçou. 

-Ainda bem que me avisou! - ela disse. - Será bom que pensem que está comprometida mesmo. Não quero que fique longe de mim.

No reflexo do espelho, pude ver o rei agradecer mais uma vez, com um sorriso. 

Além dos Muros do PalácioWhere stories live. Discover now