Após o jantar, os homens e as mulheres se dividiram. Os homem foram para o salão, conversar, fumar e beber, e as mulheres foram para o quarto da R. Ana. Ao chegarmos, havia poltronas para todas, em circulo. As damas da rainha a aguardavam, de um lado, para auxiliá-la se preciso. Srta. Sara estava mais a frente, atenta.
Algumas afrouxaram o espartilho, outras tiraram os sapatos, de modo a ficar mais confortáveis. Eu me sentei ao lado da rainha, em meu refúgio, e Sra. Laura sentou-se do outro. Havia outra mulher grávida, que ao tirar os sapatos, suspirou aliviada.
-Não aguento mais! - ela riu, acariciando o ventre. -Ainda bem que está no final.
-Torça para ter mais um menino. - disse a rainha. - Assim teu marido te deixará em paz.
-Creio que não, majestade. Ele já disse que quer um quarto filho logo, para garantir.
-Os homens nunca estão satisfeitos. - disse a moça de vestido rosa. - Sempre querem mais.
-Quando eu me casar com Arthurzinho, terei quantos filhos Deus quiser. Não reclamarei.- Camila deu um sorriso enorme.
-Céus, és muito tola! - A rainha a fitou e Camila ficou chorosa. - Parece que tem problemas sérios.
-Até porque o rei já disse ter planos para Sr. Arthur. Um belo casamento diplomático.
-E este ano muitas moças vão debutar.
-Quase todas já noivas. - A rainha mãe disse. - Mas há uma que me parece adequada para ele.
-Quem? - todas a fitaram, ansiosas.
-Saberão quando for a hora. - ela riu. -Arthur ficou encantado com ela.
Então ele já tinha visto ela? Estava praticamente noivo e flertando comigo? Bufei, contrariada.
A conversa fluiu, até alguém reparar em Beatriz, silenciosa no canto do quarto. Até eu tinha me esquecido dela.
-Está ansiosa, majestade? - perguntou uma das senhoras.
-Não. - ela disse, mas percebi que mentia. - É só um casamento.
-Eu no lugar da senhora, estaria roendo as unhas. - disse uma moça chamada Elma. -Um homem desejável daqueles.
A última frase incentivou o lado ciumento de Beatriz. Seus olhos ficaram em labaredas. Rapidamente eu me encolhi.
-Como ousa falar assim do meu marido? - ela gritou.
-Como se você se importasse. - disse a Rainha Ana. -Tenho pena do meu menino. Já estou torcendo para ele escolher logo uma amante.
Não sei se foi impressão minha, mas várias das moças ali endireitaram a postura, como se para chamar a atenção da rainha. Beatriz se levantou, contrariada, e saiu do quarto batendo a porta.
O silencio tomou conta do quarto por um momento, até a rainha quebrá-lo falando sobre os tecidos que havia encomendado do reino de Balia.
Horas se passaram, e logo os maridos vieram buscar as esposas. Por último os príncipes e o rei vieram desejar uma boa noite para a mãe, beijando-lhe a face com carinho.
-Eu ainda não vou dormir, querido. - disse a rainha mãe ao rei, indo até a porta comigo. - Tenho que ver se o traje de Carolina está pronto.
Rei Afonso fez uma expressão preocupada, como se antecedesse alguma reclamação da mãe. E logo vi que ele estava certo. Ao ver o vestido lilás que foi escolhido para mim, ela ficou extremamente incomodada.
-Deve ser vermelho! - ela disse, olhando para Sr. Afonso, que aguardava na porta do meu quarto. -Todos sabem que a realeza usa vermelho em casamentos!Lilás? É brincadeira, não?
Por não pertencer a realeza, eu não poderia usar vermelho em nenhuma ocasião. Era uma cor muito simbólica para a nobreza.
-Eu... - ele ficou sem palavras, e eu rapidamente pensei em algo.
-Senhora, as pessoas pensarão que estou comprometida e que estou usando a cor do brasão do meu futuro marido. Assim não receberei propostas de casamento. Por enquanto, a senhora quer que eu fique aqui, não?
Ela ficou pensativa por um momento e me abraçou.
-Ainda bem que me avisou! - ela disse. - Será bom que pensem que está comprometida mesmo. Não quero que fique longe de mim.
No reflexo do espelho, pude ver o rei agradecer mais uma vez, com um sorriso.
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Além dos Muros do Palácio
RomanceAnastácia nunca pensou que sairia do reino onde havia nascido e crescido. Tinha em mente que viveria para sempre isolada do mundo, desde a queda social de seu pai. Quando sua instável Rainha tem seu casamento finalmente marcado com o Rei Afonso e s...