Capítulo 9

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- É melhor vermos se ela vai continuar aqui - ele falou para Brianna, enquanto se dirigia à porta.
Encontrou Claire no quarto dela, olhando, pela janela do chão ao teto, para o quintal dos fundos. O cômodo estava limpo e arrumado.
Ela havia feito a cama e sua única bagagem estava aos pés da mesma. Além de um par de chinelos, não havia sinal de que ela havia se instalado. Ele sabia que ela era organizada.
- Você está indo embora? - perguntou ele da porta. Sem se virar, Claire deu uma risada sem humor.
- Eu não tenho para onde ir e preciso deste emprego. Usarei o carro enquanto estiver aqui,
mas realmente quero o meu de volta. Tenho meus motivos.
- Chão - disse Bree, contorcendo-se contra ele.
- Podemos entrar?
Claire olhou por sobre o ombro.
- É a sua casa, Jamie.
Ele entrou no quarto e fechou a porta, confinando o bebê a uma área onde poderia observá-la e conversar com Claire ao mesmo tempo.
- Eu nunca imaginei que lhe comprar um carro lhe causaria tantas emoções. Fechando o espaço entre eles, parou na frente dela.
- Providenciarei para que seu carro seja consertado e trazido para cá. Mas você ainda usará o novo. Sem discussões.
Ela o olhou por um longo momento, antes
de falar:
- Um dia desses, alguém irá lhe dizer não.
- Não, não, não, não - cantarolou Bree, enquanto andava em volta do quarto, balançando sua boneca no ar.
Claire riu, e Jamie não pôde evitar um sorriso.
- Ela é a única que pode se safar com isso.
Ele aproximou-se ainda mais, enquanto lhe prendia o olhar.
- Não posso evitar sentir que você está escondendo alguma coisa - continuou ele. - A checagem em seu passado me disse que seus
negócios sofreram um golpe e que você está sozinha agora.
Claire assentiu.

- Eu estou enfrentando desafios, mas nada que irá afetar meu trabalho aqui. Prometo. Apenas não quero ficar em dívida com você porter consertado meu carro.

Dinheiro não era a raiz de todos os males, como o velho ditado dizia. O malvado era a pessoa que possuía muito dinheiro e não fazia
nada para ajudar os outros.
- Acho que vou levar Brianna para um passeio lá fora. - Claire passou por ele, cuidando para não
tocá-lo. - Fique à vontade para ir conosco, se quiser.
Jamie riu ao virar-se para encará-la, ela havia cortado a conversa sem pensa duas vezes, Ela ergueu Bree nos braços e sorriu. O jeito com que foi diretamente para a porta, como se não tivesse acabado de colocá-lo no lugar dele, irritou e divertiu Jamie ao mesmo tempo.

Claire era perfeita com Brianna, independente e o virava do avesso com cada atitude.
Quando seu casamento começou a fracassar, Ele culpou a si mesmo. Fez Elisy sofrer com sua lesão, suas cirurgias, não estava lá para
ela como um marido deveria estar. Nunca imaginou que sentiria desejo por outra mulher novamente, mas lá estava ele, consumido de
desejo por ninguém menos que sua babá temporária.
Se ele não mantivesse a cabeça no lugar, perderia o foco do motivo pelo qual estava na América. Não estava mais perto de decidir se ficar longe de Lallybroch era o melhor para ele e para Brianna, ou se retornar para o estilo de
vida seguro, embora exposto, da realeza era o caminho que deveria seguir. Ali, ele tinha mais liberdade para sair em público com sua filha. Eles haviam ido ao parque na semana anterior, e foi tão gratificante não ter guardas pairando à sua volta. Quanto mais tempo Jamie ficava em Boston, mais temia nunca querer partir.
Só havia uma decisão certa. Ele apenas gostaria de saber qual era.

Brincar ao ar livre era sempre tão divertido para Claire. Ela adorava ouvir os gritinhos de deleite de Brianna, e ver o espírito livre da
garotinha. Claire já estava lá havia um mês, e passou facilmente pelo período de teste. Cada segundo que passava com Bree a fazia se sentir mais grata por ter lutado por aquele cargo.
Segurar a mãozinha da menina parecia tão certo. Tudo sobre estar com aquela criança doce parecia certo.
Sem mencionar que trabalhar para um homem que emanava sexualidade, poder e controle era altamente excitante.
Entretanto, Claire não podia evitar querer saber o que havia acontecido com a esposa falecida de Jamie. Ele não a mencionava, nem mesmo tinha fotos pela casa. Parecia estar fugindo ou se escondendo de alguma coisa,
mas ela não imaginava do quê.
Brianna afastou-se de repente e começou a correr em direção à paisagem que emoldurava o pátio. Claire observou enquanto a garotinha corria atrás de uma borboleta que havia pousado numa das flores vibrantes. No momento que Bree chegou lá, a borboleta já tinha voado.
Ela olhou ao redor, e quando percebeu que o inseto não estava mais por perto, seu queixinho começou a tremer. Fechando o espaço entre elas, Claire ajoelhou-se na frente
da menina e afastou seus cachinhos da testa, lembraria de comprar
alguns acessórios de cabelo para a garotinha..
- Está tudo bem, querida. A srta. Borboleta teve de ir para casa para uma soneca. Aposto
que ela voltará outra hora. Vamos
entrar e deitar? Eu vi um livro de borboleta no seu quarto. Que tal se lermos a história?
- Não - Brianna respondeu, chorando. - Não,não, não.
A palavra que as crianças aprendiam cedo e usavam para quase todas as respostas, especialmente quando estavam precisando de
uma soneca. Claire podia ter trabalhado com crianças mais velhas nos últimos anos, mas certas manhas ela jamais esqueceria.
Quando ela a pegou nos braços e dirigiu-se para a casa, as lágrimas de tristeza se transformaram em raiva, e Brianna começou a agitar os braços num verdadeiro ataque de nervos. Talvez, Claire não devesse tê-la levado para o pátio. Aparentemente, a oportunidade se perdeu, e a soneca deveria ter vindo primeiro.
Acariciando as costas da menina e tentando esquivar-se dos pequenos braços em movimento, Claire entrou na casa.
Obviamente, os gritos ecoaram no espaço fechado. Jamie veio correndo do escritório, o celular na orelha, preocupação na fisionomia.
- O que aconteceu? - perguntou ele,
afastando o telefone da boca.
- Ela só está cansada - explicou Claire. -Lamento tê-lo perturbado.
Jamie não retomou a ligação depois que Claire passou. Talvez, ele estivesse se perguntando por que sua filha estava tão infeliz. Esta era a primeira vez que Bree tinha uma explosão de raiva diante de Claire, mas
todas as crianças tinham seus momentos, e uma babá precisava aprender a se ajustar às necessidades da criança. E, no momento, Bree necessitava de sua cama e de algumas horas de paz e tranquilidade.
Ao chegar ao topo da escada, Claire não precisou olhar para trás para saber que Jamie a estava observando.
Depois de entrar no quarto, fechar as persianas, pegar o cobertor e a boneca de pano dela, Claire sentou-se na cadeira de balanço e começou a cantarolar, ocasionalmente. Os olhos de Bree começaram a pesar.
Claire sabia que a regra básica era pôr crianças pequenas deitadas enquanto elas ainda estavam
acordadas, mas embalar um bebê foi uma tentação à qual ela não pôde resistir. Hoje, justificaria isso dizendo a si mesma que estava
apenas esperando que Bree se acalmasse.
Claire segurou o pacotinho precioso em seus braços e levantou-se, colocando a bela
adormecida na cama.

Com as mãos na grade, olhou para os cílios molhados descansando nas faces coradas da menina. Momentos atrás, a garotinha estava tendo um acesso de nervos, e agora dormia pacificamente. Quando ela acordasse, não lembraria que esteve aborrecida, e era como Claire queria levar sua vida.
Seguir em frente era o único jeito de provar que existia vida após a morte de um sonho. Ela não podia permitir que o fato de não poder ter filhos a definisse. Descobrir que a família que sonhou ter um dia não existiria foi um golpe duro, mas ela perseverou, forçando-se a se tornar mais
forte que suas decepções.

Engolindo um nó na garganta, saltou da cama e dirigiu-se para o corredor. Acabava de fechar a porta, quando se virou e colidiu com o
peito sólido de Jamie.
A força da colisão tirou seu equilíbrio. Mãos grandes imediatamente seguraram seus braços para firmá-la. Seu coração disparou. Um flash do beijo ardente deles preencheu sua mente, e tudo em que ela podia pensar era como eles se encaixavam com perfeição. Os olhos dele estudavam seu rosto, sua boca. Excitação a percorreu... excitação que ela não deveria estar sentindo por seu chefe.
- Nós precisamos conversar.
A declaração, feita com tanta autoridade, foi como um soco no estômago de Claire. Seria
uma conversa profissional? Ou pessoal? Ele estava aborrecido com alguma coisa que ela havia feito?
Ou a queria por razões carnais e egoístas? Quando ele se virou e começou a andar, Claire o seguiu.

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