quatro

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CAPÍTULO QUATRO

 

Harry coça a parte de trás da sua cabeça e olha mais de perto o pedaço de papel. Em seguida, mostra alguma emoção e logo está com a cabeça entre as mãos a soltar soluços suaves.

O meu coração cai e tudo o que posso fazer é ver como ele começa a chorar mais, ficando no balcão há frente da nota. Eu tento buscar na minha mente por qualquer coisa que poderia corrigir isto, mas a única coisa em que posso pensar fazer é claro, escrever uma nota.

Mas porque ele está a chorar? A nota foi muito assustadora? Eu estava apenas a dizer que sei quem ele é. Ele não pode ser tão inconsciente que não sabe que alguém está por aqui.

Mas talvez seja apenas esta coisa. Ele não está alheio, mas quer estar. Ele não me quer aqui e tem medo de mim, mais uma vez, antes mesmo de apresentar-me a ele.

Não posso culpá-lo, porém, os meus sonhos são muito assustadores e eu não gosto deles. Eles assustam-me e eu chorei por causa deles. A mesma coisa acontece com o Harry. Ele não sabe o que está a acontecer e ele não gosta disso.

Eu quero mostrar-lhe quem eu sou, eu quero dizer-lhe que tudo vai ficar bem, mas eu sei que não posso. É muito cedo. E aqui está ele, parado em frente da ilha, a chorar por uma nota.

Oh, como eu gostaria que ele soubesse que eu estou aqui. Eu desejo que pudesse ir até ele e consolá-lo e mostrar-lhe que está tudo bem e que eu não vou magoá-lo.

É engraçado como tudo isso funciona. A única coisa que tenho de fazer é tornar alguém como eu. Eles estão com medo, claro, quando me mostro digo-lhes que não vou magoá-los. Mas a próxima coisa que tu sabes, é que eles estão fora da porta e a magoar-te.

Harry continua a chorar, e eu não sei se são apenas as hormonas ou a realização. Silenciosamente espero que seja apenas por causa das hormonas, a escola e o seu novo apartamento, mas tenho a sensação de que não é isso. Eu sei que ele é inteligente. Ele sabe que eu estou aqui.

Sem pensar mais, estalo os dedos e caminho para ficar ao lado de Harry ao pé da ilha. O meu primeiro pensamento é acalmá-lo, esfregando as suas costas, mas eu apenas iria cair através dele.

A sua cabeça está nas suas mãos, os cotovelos apoiados no balcão, e ele provavelmente está a ignorar a minha presença, mesmo que eu seja invisível para ele.

Então, viro as costas e calmamente abro a gaveta. É silencioso em comparação com os soluços vindos de Harry, então continuo. Pego uma caneta e um bloco de papel, e verifico mais uma vez atrás de mim.

Os meus olhos arregalam-se em choque quando vejo Harry a começar a limpar os olhos e a tomar respirações profundas. Rapidamente, pouso a caneta e o bloco de papel e assisto, impotente, enquanto Harry se vira e olha diretamente para os itens.

“Não, não, não.” Murmura sob a sua respiração e os olhos enchem-se mais uma vez de lágrimas, “Aquilo não estava ali! Eu não escrevi esta nota!” Ele grita furiosamente  para o ar, e tudo o que eu posso fazer é olhar e ver como a cena se desenrola.

Lágrimas caem pelo seu rosto enquanto ele novamente olha para trás, para o balcão, “Provavelmente ali.” Ele ri. “Eu aposto que estava ali!” Ele ri de novo e aponta um pouco à minha direita.

Eu aceno, extremamente envergonhada. Eu sei que ele não pode ver-me, mas eu posso, e sinceramente desejo que não precisasse.

“Seja o que for, seja quem for. ‘V’ ou ‘I’.” Ele murmura novamente, olhando ao seu redor. “Ele provavelmente quer roubar mais dos meus livros. Ou talvez quer arruinar todos os meus trabalhos e projectos!” Ele está a gritar novamente e a atirar coisas em todos os lugar por onde passa.

touch [PT]Where stories live. Discover now