nove

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CAPÍTULO NOVE

Quando Harry volta, ele responde à nota que eu tinha escrito, mas não faço movimento algum para ver o que ele escreveu. Vejo-o a cozinhar galinha numa panela no fogão e comê-la em silêncio, depois colocar um prato e um copo de água e ao seu lado a nota. Eu não sorrio ou mesmo reconheço o gesto. Fico debaixo da cama e mesmo quando ele está debaixo do seu edredom, coloca o seu livro na prateleira e apaga a luz, eu continuo debaixo da cama, não vou comer a galinha ou beber a água ou ler a nota ou escrever um agradecimento de volta. Eu fico no meu lugar e olho para as molas, imaginando o que aconteceria se elas entrassem em colapso.

No segundo dia, Harry acorda e caminha até a cozinha, olha para o prato cheio de frango e o copo cheio de água, um pouco maior do que estava ontem à noite devido ao derretimento do gelo. Ele parece magoado, mas eu não me importo, porque eu também estou muito magoada. Porém, não da mesma forma, ele está ferido de rejeição, eu estou ferida do medo. 

Ele pega o prato e infelizmente deita o frango para o lixo, colocando o prato na pia. Ele senta-se na mesa e toma um gole da água que está ligeiramente maior do que estava ontem à noite. Ele relê  a nota, e então acrescenta algo nela. Então sai e eu não o vejo até ao fim da tarde. 

De noite ele cozinha uma refeição diferente. Parece que é massa,  ele retira uma grande parte para um prato e come, em seguida, coloca uma parcela menor em outro prato, coloca a nota ao lado dele e um copo de água. Em seguida, ele vai para a cama sem ler e eu não me levanto. Em vez disso, eu olho para as molas e penso sobre a metáfora do gelo em relação à minha vida.

No terceiro dia, quando Harry se levanta, ele está realmente triste. Mais triste do que estava ontem. Ele coloca o prato na pia e bebe a água, caminha e senta-se no armário a falar com as paredes sobre como elas não gostam de frango ou massa ou água e ele fala sobre como tu não podes viver sem água na tentativa de fazê-las rir, mas elas simplesmente olham para ele, da mesma forma que eu olho para ele. 

Ele não sai no terceiro dia. Ele lê e anda ao redor, trabalhando em jornais e, ocasionalmente, falando com as paredes novamente. 

Naquela noite, quando ele vai para a cama, coloca o seu livro na prateleira e apaga a luz reparo que ele deixou um prato de panquecas e bacon na mesa, eu olho para as molas e pergunto-me sobre a sanidade de Harry.

É no quarto dia que eu saio debaixo da cama depois de Harry sair para algumas aulas. Ele disse que não estaria de volta até depois da uma, mas eu não sei se essa informação era para as paredes ou para mim. 

Eu olho para a carta que escrevi para Harry e pergunto-me se eu deveria dar-lhe agora ou esperar como fiz antes. Esta manhã, eu pensei que tinha superado os meus medos, mas parece que eles estão a engolir-me novamente. 

 É quando eu penso sobre o derretimento do gelo e da minha vida, e se eu esperar muito tempo, tudo vai derreter e eu não vou ter mais tempo para pensar em tudo o que eu decidi que eu deveria dizer. Coloco a carta sobre a mesa, encho um copo com água e adiciono um pouco de gelo, bebo toda a água e vejo o derretimento do gelo. Mas não derrete todo o gelo antes que seja uma e eu volto para debaix da cama,  vendo quando Harry entra. 

 É aí que tudo se foca; Harry vai realmente ver a carta completa que eu lhe escrevi e eu vou ter que agir de acordo com isso, ou então o gelo vai derreter e vai ser tarde demais. 

Eu pulo para fora da minha neblina de zombie e vejo o Harry a entrar e ver o copo cheio de gelo que está metade derretido.Observo como ele pousa a sua mochila no chão ao lado da cama, e depois vai para a mesa, pegando no copo e vendo o carta sobre a mesa também. 

touch [PT]Where stories live. Discover now