Capítulo 8: Lorena

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Aquilo estava difícil de aturar.

Era a quinta vez que eu xingava no meio da música por ter errado uma nota. E não que soubesse disso, para mim eu estava perfeita cantando, mas todas as vezes que errava, Dominic fazia um barulho engraçado com o piano, e aquilo sempre trazia a parte mais cruel de mim para fora, me deixando vermelha de frustração e doida de vontade de bater com a muleta na cabeça dele. Mas eu havia prometido ser legal, até porque o cara estava perdendo o tempo me ajudando na minha insanidade do momento.

— Você precisa se concentrar mais. — Ele falou enquanto tocava baixinho uma música que eu conhecia, mas que não recordava de onde.

— Mas esse trecho é simplesmente horrendo de cantar! A nota é muito alta e minha voz não vai. — Protestei me largando em uma cadeira de madeira que fez barulho no assoalho do palco.

— Se eu permiti que você escolhesse essa música, é porque eu tinha certeza de que você conseguiria. Sua voz é maravilhosa, Lorena! Você só precisa acreditar nisso e se esforçar mais um pouco.

Sei que ele tinha dito uma porção de coisas importantes, mas só reparei na parte onde ele disse que eu tinha uma voz maravilhosa. As pessoas não costumavam me elogiar. Nunca. Normalmente elas babavam meu ovo para obter alguma coisa que queriam ou para que eu ficasse distante delas. Mas ali estava aquele menino, cheio de sardas no rosto, com uma aparência totalmente nerd e despreocupada elogiando minha voz. Eu não sabia ser agradecida nesses momentos.

Aprendi a não ser frágil porque ia de encontro com o que acreditava ser certo, mas tudo o que quis naquele instante foi abraça-lo, o que era ridículo, visto que eu não abraçava pessoas. Sorri para mim mesma tentando fazer com que ele visse que era para ele. Não saberia mostrar meu sorriso sincero conscientemente para que Dominic visse.

— Porque você escolheu essa música? — Ele perguntou e me tirou do meu devaneio.

Lembrei-me de quando era criança e Diego solfejava aquela canção para mim, dizendo que ela parecia comigo. Eu adorava dormir embalada por ela em seus braços magros e confiantes. Era o cinto de segurança da montanha russa que era minha vida.

— Meu irmão. — Falei rápido escondendo a melancolia. — Ele dizia que ela se parecia comigo.

Dominic parou de tocar, levantou os olhos surpreso e eu me senti desconcertada. Nunca falava de Diego. Falar dele era o tiro do início de uma guerra emocional que eu esperava não entrar. Quis de todo coração que Dominic não tivesse percebido isso, mas a expressão dele me dizia que era mais esperto do que desejei que fosse.

— Seu irmão deve ser um cara inteligente.

Foi a única coisa que ele comentou antes de voltar para o piano, e eu agradeci aos céus por ele ser tão perspicaz.

— Ele é. — Falei tirando a sujeira da unha e me sentindo uma idiota de estar falando sobre isso de uma forma tão insegura e desconfortável.

— E parece que é uma coisa genética.

— Como assim? — Perguntei

— Você também é bem inteligente.

E ele me desarmou pela segunda vez em menos de uma hora. Se ele continuasse, eu pediria para meu pai cancelar o psicanalista, o qual eu nunca ia, e contratar Dominic. Engraçado como a gente tem facilidade de falar dos nossos problemas com pessoas desconhecidas. Falar sobre eles com pessoas que realmente se importam é quase um trabalho desumano. Até porque eu não tinha muitas pessoas que pareciam se importar comigo ao meu redor. Nenhuma, para falar a verdade.

— Está dando em cima de mim, Dominic?

Eu sabia que ele não estava, mas brincar era sempre o jeito mais fácil de sair de uma situação embaraçosa. Eu costumava usar a agressividade nesses casos, mas não rolava fazer essa barbaridade com um garoto que era tão legal comigo.

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