Capítulo 31: Klaus

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O último dia de aula em Esperança parecia bastante com aqueles High School de filme americano. Só que invés dos alunos jogarem livros e canetas para cima, eram ovos e tomates podres.

O zelador não sabia como os produtos entravam na escola, já que sempre havia uma revista no último dia, mas era fato que quase todo mundo saia fedorento e pintado de vermelho e amarelo.

Os corredores pareciam uma zona de guerra, principalmente se você estava no último ano de escola e nunca mais pisaria ali. Raul, Tony e Adônis estavam no epicentro da bagunça, rindo e devolvendo ovadas nos mais novos. Estavam meio que protegidos por trás de uma lata de lixo, montando um esquema tátil e altamente funcional que consistia em jogar um ovo na direção contrária, desviando a atenção, e depois mandar ver.

Eu não estava no clima, e preferi me esconder em um dos banheiros até que o diretor aparecesse e os fizesse limpar cada milímetro dos corredores. Samuel e Dominic estavam comigo. Jogávamos cartas em cima da pia do banheiro e ríamos quando qualquer pobre coitado entrava depois de ter sido surpreendido por uma gema de ovo no olho.

Eu não era bom com jogos de azar, visto que tinha perdido no pôquer pela décima vez consecutiva só naquele pedaço de dia. Eu não sabia blefar, ao contrário de Samuel que me surpreendeu quando ganhou a oitava partida. Ultimamente meu amigo pacato estava se revelando uma caixinha de surpresas. Na semana anterior nos disse que estava saindo com Rany, o que provocou um alvoroço no nosso meio social. Adônis teve uma crise de riso descontrolada e Tony ficou de boca aberta por tempo suficiente para entrar uma comunidade de moscas. Eu estava feliz por ele. Rany era louca, mas maravilhosa e merecia o cara incrível que ele era.

Estava pensando nisso quando uma voz de fada chamou da porta.

— Klaus, você está ai?

Era Lis.

— Estou. — Gritei quando alguém passou aos berros pelo lado de fora.

— Posso entrar? Isso aqui está impossível. — Ela gemeu e eu ri.

— Pode. Só estamos nos três.

Lis desfilou do jeito etéreo dela até a pia. Estava num vestido xadrez antigo, que mais parecia algo da avó dela. Uma galocha nos pés e óculos de grau com uma armação da Janis Joplin.

Ninguém podia dizer que Lis não era autêntica.

Ela parecia meio afetada quando sentou na pia, ao lado de Dominic.

— Está tendo uma confusão no centro da cidade. — Sua voz soou cansada.

— Que tipo de confusão? — Perguntou Samuel ganhando mais uma vez.

— Alguém se deitou na frente de um trator para evitar que eles derrubassem uma árvore.

Eu congelei.

— Por acaso esse alguém, é o nosso alguém? —Perguntei sentindo a alfinetada no peito.

— Acho que sim. — Ela continuou olhando para mim com reserva. — Felipe do segundo ano passou por mim e disse que era uma garota daqui. Não conheço ninguém tão maluca ao ponto de se jogar na frente de um trator, além da nossa maluca.

Joguei as cartas na pia e andei até a porta. Avistei Adônis a uma distância considerável e gritei até ele se virar para mim. Passei perto de levar uma ovada quando uma garota pequena me viu tão limpo ali, dando bobeira. Adônis correu e me salvou da ovada quando ela bateu em suas costas. Ele estava sujo da cabeça aos pés, mas sorria como se fosse criança brincando na lama. O puxei para dentro e fechei a porta atrás da gente.

A Mais Bela MelodiaWhere stories live. Discover now