Capítulo 29: Klaus

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  Tive um sonho safado com Lorena dançando para mim. Provavelmente a cena dela tirando a roupa na beira da piscina tinha provocado sensações e lembranças suficientes para uma vida inteira. Logicamente que acordei suado e sorrindo.

Tomei um banho demorado, já prevendo as coisas que poderíamos fazer durante o dia inteiro. Eu nunca consegui fazer um programa normal com Lorena, e Deus sabe que ela merece um pouco de normalidade. Meus planos incluíam passeio a cavalo, banho de rio e comida semipronta. Nada que nos desse trabalho e qualquer coisa que a fizesse rir.

Ontem tínhamos chegado a um consenso que tinha me agradado bastante, apesar de fazer minha espinha esfriar. Ficaria com ela até o dia em que fosse embora, e depois veríamos como resolver a situação. Uma coisa era certa, ficar sem Lorena não era uma opção. Pelo menos não enquanto ela me quisesse por perto. Mesmo ela dizendo que não, seus olhos e seu corpo diziam que sim. Eu acreditava mais neles do que nas palavras que vinham da sua boca.

Estava assoviando quando me vesti e ouvi a porta batendo no andar de baixo. Provavelmente o turno do meu pai tinha acabado. Ultimamente ele andava trabalhando mais do que o normal. A visita de minha mãe tinha mexido muito comigo, mas para ele tinha sido totalmente louco.

Em momento algum o delegado tinha conversado comigo sobre como essa visita o afetou, e nem o faria. Conhecia tão bem o meu pai, que sabia que ele iria preferir morrer com isso engasgado a contar alguma coisa a alguém. Eu nem podia dizer nada, afinal de contas, eu era igualzinho a ele.

Ouvi o barulho da máquina de café e desci animado.

Ele estava sentado, de costas para mim e de frente para a porta dos fundos. De onde eu estava, vi o reflexo do sol de logo cedo brilhando através dele. Os ombros curvados e a roupa amassada. Era a imagem de um delegado, e também de um pai cansado.

— Bom dia! — Falei empolgado, indo pegar uma xícara no armário.

Não respondeu. Então me virei para ele e percebi de cara que tinha alguma coisa errada. Seus olhos estavam aflitos e vermelhos. Perdi o meu sorriso na mesma hora.

— O que aconteceu? — Perguntei largando a xícara na pia e me virando totalmente em sua direção.

Ele olhou para toda a cozinha antes de voltar os olhos para mim.

— Sente-se, Klaus.

Ele me pedindo para sentar? Tinha acontecido alguma coisa com certeza.

A primeira imagem que me veio à cabeça foi Adônis bêbado em um acidente qualquer.

Meu sangue congelou.

As pernas tremeram quando puxei a cadeira e sentei bruscamente.

— Fala logo, pai! — Minha voz saiu perigosa, e ele levantou a cabeça para mim, nitidamente agoniado.

— Ocorreu um acidente ontem à noite. — Ele parou de falar e senti minhas pernas balançando nervosas. Prendi a respiração por um instante.

— Porra, pai, o que houve? Foi Adônis?

Ele suspirou e passou a mão no cabelo, negando.

— Izabel Sanchez foi encontrada pendurada por uma corda na cozinha de casa ontem.

Senti quando meus olhos se arregalaram. Abri a boca em choque e encostei-me à cadeira, prendendo o palavrão que se formou na minha garganta.

— Tem mais. — Meu pai continuou, me avaliando com os olhos preocupados. — Lorena a encontrou.

Levantei antes mesmo que pensasse sobre o que estava fazendo, e me apoiei na pia, fazendo pressão nela para dissipar minha angústia dilacerante. Senti o ar faltar lentamente, e levantei a cabeça exigindo que o oxigênio não me abandonasse agora.

A Mais Bela MelodiaWhere stories live. Discover now