Capítulo 12: Lorena

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     Não imaginei que minha semana pudesse ficar mais louca do que ela já estava. Isso até Ranyele Torres entrar na minha sala, sentar na cadeira à minha frente, parecendo ansiosa em esperar eu acabar uma ligação. A todo o momento fiquei encarando-a de modo inquisidor e perigoso, mas ela era resistente e apenas roia as unhas roxas enquanto segurava meu olhar com audácia e descontração.

Quando a ligação acabou eu soltei um suspiro longo.

— O que?

Ela continuou a roer a unha em silêncio, mas sorrindo para mim. Se ela continuasse daquele jeito por muito mais tempo eu teria que usar o extintor de incêndio para coloca-la para fora. Seria no mínimo engraçado, e me faria tirar o lacre que há tanto tempo eu queria. Então ela tirou um papel dobrado da bolsa e me estendeu. Abri desconfiada, achando que poderia encontrar qualquer coisa ali dentro, mas me surpreendi quando só vi o anúncio que fiz para substituição do Novato.

— Quero a vaga.

Franzi a sobrancelha e a encarei, séria. Será que aquilo seria algum tipo de brincadeira? A roqueira não tinha cara de quem escrevia ou fazia qualquer coisa que exigisse coordenação motora, a não ser que tenham baquetas no meio. Pois é, consigo pensar em coisas bem criativas que se podem fazer com baquetas.

— Por quê? — Perguntei voltando a dobrar o papel e devolvendo para ela por cima da mesa.

— Tenho que dar uma resposta científica ou verdadeira?

Escondi o sorriso que quis aparecer no meu rosto e me inclinei para frente, me aproximando mais da forma desleixada de Ranyele jogada na cadeira.

— Me surpreenda. — Falei dando de ombros.

— Bom, você só precisa de um assistente por algum tempo, e acho que isso pode ficar legal no meu currículo praticamente vazio. Acho que meus dedos não vão cair se eu trabalhar em um jornal por alguns dias.

— Essa é a explicação cientifica, eu suponho — Ela balançou a cabeça em concordância. — E qual a explicação verdadeira?

— Gosto do seu jeito.

Fiquei aérea alguns segundos, realmente sem entender o que ela tinha dito.

— O que?

— Gosto do seu jeito. — Repetiu — Acho que podemos nos dar bem trabalhando juntas.

Não vou mentir, fiquei bastante surpresa. Não fazia questão de ser legal para ninguém, nunca precisei disso. Mas ainda assim tinha uma garota na minha frente dizendo que gostava do meu jeito, mesmo que eu fosse uma vaca, às vezes. Ou ela vinha de outra galáxia, o que não seria de se estranhar visto o cabelo colorido e a aparência de "menina suicida", ou...

— Eu espero de verdade que isso não seja uma cantada porque eu estou fugindo de romances nesse momento.

Primeiro ela franziu a sobrancelha grossa, depois começou a gargalhar. Ficou assim por tempo suficiente para eu terminar de escrever um email e enviar. Quando finalmente não ouvi mais os soluços de hiena dela rindo, eu larguei o computador e a olhei.

— Não se preocupe, eu jogo no mesmo time que você.

Ela colocou o pé na minha mesa e eu o tirei batendo nele com um grampeador.

— Isso quer dizer que você gosta de garotos? – Perguntei

— Totalmente gosto de garotos. Mas se eu gostasse de garotas, isso seria um problema?

Ranyele jogou charme no olhar e me mostrou seu sorriso sarcástico. Revirei os olhos num suspiro.

Lembrei-me de Diego e do tanto que ele iria se complicar voltando para uma cidade pequena no meio do nada, com o pastor mais ortodoxo do mundo como pai e sendo gay. Claro que eu não tinha problema algum com ela gostar de meninas.

A Mais Bela MelodiaWhere stories live. Discover now