Hallucination or... Not?

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"Nunca sei se quero descansar porque estou realmente cansada, ou se quero descansar para desistir.

Clarice Lispector"

Marian e eu estávamos sentadas de costas para uma árvore, esperando ela recuperar o fôlego. Eu não queria ficar quieta por muito tempo, pois eu iria acabar pensando em coisas que não tenho tempo, não antes de achar minha família.

— Vamos, Marian!

-— Vamos.

Nos levantamos e eu fui na frente, a gente conseguia ver o deserto logo a frente, acho que em menos de um quilômetro nós chegaríamos lá.
Marian disse que, talvez, em dois ou três dias sem parar, passamos o deserto até a primeira cidade. Ela é tão inteligente para uma garota tão nova.

— Não vejo a hora de te apresentar o Eugene, ele vai ficar no chinelo perto de você. - Falei e até a fiz rir.

— Eliza, eu gosto de você. - Ela falou.

— Também gosto de você. - Sorri.

— Eu quero água, mas pouco, pra dar para atravessar o deserto.

A pequena pediu água, e eu, obviamente, mesmo com pouca água, parei e coloquei a mochila no chão. Foi somente em um segundo de descuido, ouvi um grito e vi o mesmo errante que eu não matei com os dentes no pescoço de Marian, enquanto ela se afogava no próprio sangue tentando respirar.

Eu gritei, mesmo sabendo que nada ia impedir que a menina morresse.
Não sabia o que fazer, era tarde pra fazer algo, os gritos abafados da menina faziam as batidas do meu coração cada vez mais forte. Minha reação foi correr em direção a ela, e atirar no errante.
Caminhei até Marian, que tinha lágrimas nos olhos e sangue jorrando de seu pescoço, ela não conseguia respirar.

Como eu não vi aquele maldito caminhante?
— Me desculpa, Marian, me desculpa. - Falei limpando as lagrimas que desciam.

Ela colocou a mão na minha arma, parecia pedir "por favor", e com meus olhos encharcados pelas lágrimas, eu fiz o que tinha de fazer. Fechei os olhos e tentei poupa-la da dor, atirando na cabeça dela.

Chutei o errante pra trás e me sentei ao lado do corpo da menina, com lágrimas nos olhos.

— Isso... isso foi tão rápido. Me perdoa por ter matado toda sua família... eu... eu queria tanto te levar a Alexandria.

Levantei e de tristeza, meu sentimento foi pra raiva, comecei a bater no meu próprio rosto.

— Tudo culpa sua. Tudo sua culpa. Você é uma inútil.

Eu não poderia fazer mais nada. Eu estou com tanta saudades da minha casa, eu quero morrer, mas eu não posso fazer isso, ou eu posso.

Eu tenho duas opções;
O deserto está a minha frente, eu posso seguir viagem.
Eu tenho somente uma bala, eu posso me matar.

Se não sirvo para salvar a vida de um inocente em perigo, não mereço minha própria.

—Você não merece viver. - Falei a mim mesma.

— Você vai mesmo desistir?! - Ouvi alguém gritar e logo depois dar risada.

A voz tinha vindo do deserto.

Levantei a cabeça e corri seguindo a voz até sentir areia em meus pés. Eu já estava no deserto. O vento me empurrava pro lado, eu estava quase caindo, mas continuava andando.

— Quem falou? Por favor, apareça! - Gritei.

— Primeiro me diz, você vai desistir? - A pessoa perguntou, mas eu não consigo o ver.

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