CAPITULO II

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_Está deliciosa.

Elogio o garoto, que mesmo depois da caça esteve disposto a prepara-la enquanto eu acendia o fogo. O vento bate contra as ruínas, provocando ruídos de dar medo, mas já nos acostumamos ao ambiente.

_Então, como acha que se chama? -Ele me pergunta.

_Haam, não sei.

_Precisamos de um nome para chamarmos um ao outro, não acha?

_Você não disse que íamos encontrar respostas? Não acha que nosso nome seja uma?

Ele dá de ombros.

_Só acho que precisamos de um nome - ele diz.

_Você reparou que em nossa roupa está estampado um número? - Agora que pude reparar, estamos vestidos com roupas pretas de malha, em nossa camiseta está estampado um número. O meu é o cinco e o do garoto é o dois.

_Você acha que estes números sejam nossos nomes? -ele retruca demonstrando desgosto.

_Não. Mas podemos considera-los como um, pelo menos até descobrirmos nossos nomes verdadeiros.

Ele assente com a cabeça.

_Tudo bem Cinco.

Nós rimos.


***


 O dia passou-se sem novidades. Dois e eu combinamos de procurar lenha e construir um abrigo para passar a noite. E assim nos ocupamos em boa parte da tarde. Antes do por do sol já tínhamos uma boa fogueira e uma simples cabana sob uma imensa coluna.

_O que acha que nos acontecerá nas próximas horas? -pergunto um tanto preocupada.

_Tudo pode acontecer. Devemos estar preparados para o que vier -é o que Dois diz.

Assinto com a cabeça, sabendo que ele está certo. Não sabemos o que pode acontecer nas próximas horas, por isso precisamos ficar atentos a qualquer ruído ou coisa do tipo.


A escuridão logo chega sem dar trégua. Se não fosse a fogueira estaríamos agora desprevenidos no frio e escuro. 

Ainda temos algumas peças da caça de Dois e é dela que nos alimentamos.

Dois e eu ainda não nos lembramos de nada, e isso ainda me provoca certo pavor.


_Eu deveria ter uma família -Diz Dois de repente- ,com certeza eu tinha uma família. Uma mãe, pai, irmãos. Mesmo não me lembrando deles, sinto saudades.

Faíscas sobem pelo ar quente transmitidas pelas chamas, se juntando as estrelas no céu escuro.

_Estamos aqui por algum motivo, seja lá qual for -digo.

_Não sente curiosidade em saber quem é você? O que significa estes números? Onde estamos e por que?

_Sabe, tenho medo de descobrir -digo isso e nos calamos, ouvindo só o estalar da madeira ao se queimar. 

As estrelas brilham fortemente no céu negro acima de nós. Como o sol, a lua ilumina o topo das mais altas árvores. Se não fosse a situação, tenho certeza de que estaria amando este lugar. No vento, o aroma de terra e folhas se misturam ao da fumaça. Ouve-se o cantar de grilos e o chiar do vento.

Me aconchego em nosso abrigo. Meu corpo se encolhe ao me deitar sobre a relva. O abrigo não é lá estas coisas, mas pelo menos nos protege do vento forte da noite.

Dois continua lá fora, diante da fogueira. Ele arremessa uma pedra e a pega no ar. Do abrigo o observo até adormecer.


ESCOLHIDOS - EARTH CHILDREN - Livro Um - #Wattys2015Where stories live. Discover now