| 031 | Anjo Salvador - Parte 1

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Lucy González

Amanda, Fin, Sonny e Olivia passaram horas interrogando o assassino, estuprador e sequestrador de Vanessa. Eu não conseguia nem mesmo encará-lo. Durante todo tempo, eu fiquei com Ruby. Ela só conseguia ficar comigo e eu ganhei a missão de cuidar dela e tentar fazê-la falar. Entramos na sala de interrogatório infantil que é cheia de brinquedos, folhas e lápis para desenhar. É uma sala leve. A mais leve de toda a delegacia.

Eu me sentei no chão, ao seu lado, enquanto ela se sentava na pequena cadeira amarela de plástico e pintava o desenho de uma princesa. Ela estava em silêncio, mas não recuava quando eu me aproximava e acariciava seus cabelos que agora têm o cheiro do meu shampoo. Ela usava uma roupa que Olivia comprou e havia tomado banho no vestiário feminino. Eu penteei seus cachos ruivos e os deixei soltos. Ela era tão linda que chegava a aquecer meu coração por inteiro.

— Ruby, a gente pode conversar um pouco? — pergunto e ela me olha, ainda em silêncio, esperando que eu falasse — Você conhecia aquele moço? O que estava com sua mãe?

Ela faz um aceno com a cabeça, concordando e volta a pintar. Tudo isso em silêncio. Eu sinto meu coração apertar. Tenho vontade de abraçá-la, mas me contento apenas com acariciar seus cabelos.

— Kyle ia lá em casa quase todos os dias. — ela diz baixinho, enquanto risca o vestido do desenho de verde — Nessie me trancava no armário sempre que ele ia e me dava um fone de ouvido, onde eu ouvia músicas bem alta. Ainda assim, eu conseguia ouvir o que acontecia.

— Nessie? — franzo o cenho ao anotar e gravar tudo o que ela diz

— Ela não gostava que eu a chamasse de mamãe. Dizia pras pessoas que éramos irmãs.

— Ah, sim.

Engulo em seco. Qual o problema dessas mães que não querem ser mães? Então por que têm filhos?

Contenho a vontade de chorar por ela e sigo com meu trabalho.

— Kyle levava alguma coisa pra sua mãe?

— Ele chamava de coca. Era branco e ardia o nariz da Nessie quando ela o cheirava. Deixava ela agitada e a fazia sair de casa e só voltar uns dois dias depois. Eu ficava no armário. Comia miojo cru.

Sinto minha garganta se fechar. Preciso de alguns segundos antes de continuar. Não quero assustá-la. Eu sigo conversando com ela e ela me conta detalhes um tanto quanto pesados demais para a sua idade, mas parece não se dar conta disso. Ela diz que Kyle Rogers nunca a tocou como namorada — maneira dela de se referir a estupro — e diz que passou mais tempo trancada no armário do que no apartamento em si ou passeando. Pouco saía na rua e poucas vezes tinha mais de duas refeições completas por dia.

Ao final do depoimento dela, já passam das sete da noite e ela já coloriu mais de três desenhos impressos. Peço licença e ela diz para que eu não demore, pois não quer ficar sozinha. Eu prometo que retorno logo e saio dali com meu bloco em mãos, chegando na sala da tenente Olivia Benson, onde todos discutiam com Barba a respeito da busca no apartamento.

— Com licença. — digo entrando na sala

— Ei. — Liv me olha e parece tão exausta como eu. Existem casos que nos destroem em poucas horas — Já ia pedir para o Carisi ir te chamar. Você está lá com ela desde às duas da tarde.

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