|Capítulo XVIII: Conversa com um morto.|

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"Preparado para desvendar o mundo que existe bem debaixo de nossos olhos?"

|Capítulo XXIII: Conversa com um morto|

Passado um dia após Luzia começar a traçar seu plano com Mitzy, foi a vez de Jasmim acordar de seu plano astral. O melhor adjetivo para descrevê-la foi: cansada. Mesmo que tivesse dormido por quase um dia, haviam profundas bolsas em seus olhos, o rosto inchado e o nariz entupido, teoricamente, o trabalho das sombras teriam deixado Luzia e Jasmim imunes a qualquer coisa física durante o ritual, mas Jasmim jurava que foi por causa daquela chuva horrível que ela havia ficado resfriada.

Assim como quando se machucou, a bruxa rebelde havia falado pouco desde que acordou, quando Roza lhe perguntou como foi falar com suas sombras, ela apenas respondeu "foi normal." Mas era óbvio que havia algo a mais, principalmente se você tivesse a percepção para notar como seus olhos castanhos ficaram caídos por um momento, sem a luz de rebeldia de sempre, completamente inertes a algum sentimento que Jasmim Rivera recusava-se a compartilhar.

Nos dias que se seguiram, Luzia e Mitzy traçavam o plano para se comunicar com o espírito de Theodor, e por mais que as duas tentassem incluir Jasmim, a mesma raramente falava algo, apenas corrigia alguns erros e respondia as perguntas, após isso, voltaria para o seu quarto, onde ficaria lendo os livros que Lilith a emprestou e anotando em seu grimório, que já estava ficando sem páginas. A verdade era que Jasmim já tinha fantasmas o suficiente para lidar.

Foram diversos planos pelos quais ela passou, alguns tão confusos que ela não conseguia se lembrar, outros fáceis, como quando um pequeno ser cantava "má Jasmim, boa Jasmim" e a lembrava de suas crueldades, na verdade, aquele foi o mais fácil de se lidar. Ela também viu sua mãe, ou a voz dela, a única coisa que conseguia se lembrar, viu Gerald, mesmo que tivesse certeza que aquele não era o verdadeiro, mas todos pareciam desaparecer como fumaça quando ela tentava pensar mais sobre eles, apenas um continuava a assombrando, mesmo tendo uma semana se passado:

O mundo estava em caos, barulhos de sirenes ao fundo, choro de crianças e algumas lamúrias podiam ser ouvidas. O solo era seco, sem vida, o céu de Santa Mariana, sempre tão azul nessa época do ano, estava vermelho e abutres voavam por ele.


Jasmim olhou aquela bagunça.

A bagunça que ela tinha feito.

– Parabéns, pequenina. – Uma voz entrou em seu pesadelo. Usar o apelido pequenina havia a deixado sem chão, fazendo-a cair de joelhos, a areia grossa e seca a ferindo. – Você queria seu propósito? Parabéns.

E então, quando olhou para cima, teve o vislumbre de seus amigos a olhando com ânsia. Luzia, Meredith, Mitzy, Miguel, Roza, Aliah, Carmille, Michael... Lilith. As únicas pessoas que Jasmim nutre, nem que seja um pouco, empatia e afeto. Todos a olhando como um monstro, mas era isso que ela era, não é? Um monstro vil e cruel. Era para isso que ela nasceu.

De repente, Miguel surgiu com uma espada, não era a espada Skyson, uma parecida, porém com cores em dourado na bainha e prata na lâmina. Completamente mais forte e brilhante que a outra.

A dor pareceu real quando a espada atravessou-a.

Não sabia direito quando foi que Lilith chegou em seu quarto. Nos gritos que soltou enquanto dormia ou nos gritos que soltou quando acordou. Porém, antes mesmo de Jasmim voltar para a realidade, a primeira mulher já se encontrava do seu lado.

– Jasmim, está tudo bem. Eu estou com você. Você não tem que temer nada. – O abraço e a forma qual Lilith mexia no cabelo de Jasmim foi o suficiente para que ela se acalmasse ou pelo menos parasse de gritar.

A Filha Do Caos - saga A Capa livro 1Where stories live. Discover now