| Capítulo XIX: A casa da família Harper |

307 43 117
                                    


"Preparado para desvendar o mundo que existe em baixo de nossos olhos? "


|Capítulo XIX: A casa da família Harper|

A rua na qual a família Harper morava estava extremamente vazia, resultado de ser uma tarde de quarta-feira onde a maioria dos adultos está trabalhando e as crianças na escola. Luzianna parou na esquina, sua casa era a penúltima do quarteirão, apenas uma parte do jardim podia ser vista, mas já era o suficiente para fazer cada um dos pelos da garota se arrepiarem.

Sentiu as pernas trêmulas e não sabia dizer se era pelo terceiro teleporte em vinte quatro horas ou pelo nervosismo que sentia. Ela pulou ao ouvir um barulho atrás dela, mas se acalmou ao ver que era apenas a Fox Terrier Penny, cachorrinha de estimação da Senhora Lewis, que havia possivelmente esquecido a portinha do cachorro destrancada antes de ir trabalhar. Luzianna sorriu para a cadela, que a reconheceu e batia em sua perna para pedir carinho.

Foi uma sensação estranha tocar no pelo claro do animal, ele continuava macio e cheiroso como Luzianna se lembrava desde os treze anos – quando uma Penny ainda filhote, correu até o quintal dos Harper com sua dona gritando seu nome. – mas ainda havia algo que não parecia certo. Luzia começou a se sentir mal por estar ali, a rua que ela cresceu parecendo menos aconchegante que em suas lembranças. Ela pegou a cachorrinha no colo, já havia feito isso diversas vezes, ela só precisava deixar a cachorra na varanda da casa e fechar o portãozinho da frente, havia sido o tempo que isso não funcionava e o animal saia pelas frestas da cerca. Quando pisou na grama do terreno de Lewis sentiu um arrepio percorrer seu corpo, ela ficou um tempo parada na varanda, olhando para a porta da casa e massageando o pelo de Penny. A sensação de estranhamento ainda permanecia, ela lembrou de Agnes, a primeira dona de Penny, que havia morrido ano passado, ela não conhecia muito bem sua filha, que veio morar na casa no fim da vida da mãe, mas sabia que ela tinha a mesma falta de memória da mãe e se chamava Alice ou Agatha.

Com cuidado, ela colocou a cachorra na varanda, pensou em abrir a porta usando a chave que ficava no vaso, como fazia na época que Lewis era viva, colocava a cachorra para dentro e fechava a portinha, algumas vezes Agnes a ligava, pedindo para ver se havia colocado comida para a pequena. Por um momento, Luzia apalpou a terra do vazo, apenas sujando suas unhas de terra, depois olhou embaixo do tapete, nada.

Muita coisa mudou, não acha?

A voz novamente em sua cabeça. Após meses foi estranho escutá-la, mas é claro, ela não estava mais na Capa ou na casa de Lilith, sem energia sagrada ou demoníaca se sobrepondo a ligação macabra entre ela e seu... pai.

– Tá fazendo o que aí, doida?!

A voz de Jasmim fez Luzia se virar para o portão, a bruxa acompanhada de uma Mitzy contrariada a olhava.

– Você tem que ver a sua casa, é sério.

– Eu tô indo...

Ela olhou mais uma vez para a cachorra, que latia e rosnava para Mitzy, como resposta, a gata emitiu um miado estridente e seu cabelo se arrepiou. Luzianna revirou os olhos, caminhando até as garotas.

– Você tá cheirando a cachorro, que nojo. – Reclamou Mitzy.

– Você cheira a mijo de gato e ninguém fala nada. – Retrucou Jasmim.

Luzia ignorou a provocação entre as amigas. Olhando mais uma vez para a casa da senhora Lewis, Penny havia parado de latir, mas olhava para o grupo como se pudesse atacá-las a qualquer momento.

A sensação de estranheza ainda ali, mas se tornando cada vez mais compreensível. O bairro da rua das Rosas continuava o mesmo, as pessoas trabalhando, as crianças na escola e as flores no jardim se renovando a cada primavera. Era ela que havia mudado.

A Filha Do Caos - saga A Capa livro 1Where stories live. Discover now