CAPÍTULO 15

54 18 32
                                    

Evito voltar para o meu quarto, onde as lembranças de Toni estão por toda a parte. Sigo pela parte externa da casa, em direção à piscina apenas para me sentar em uma das espreguiçadeiras e respirar um pouco de ar.

No meio do caminho, passo em frente à academia; pelas paredes de vidro, avisto Cadú no meio de um treinamento. Decido entrar. 

Passo pelas portas duplas de vidro, caminhando na direção de onde ele está sentado levantando enormes alteres de ferro. Sento-me em um banco estreito com estofamento azul royal, enquanto observo as artérias do braço do meu irmão saltarem a cada levantamento.

"O que você veio fazer aqui?" Ele pergunta, mas dessa vez, meu irmão não utiliza seu usual jeito grosseiro de dirigir à palavra a mim.

Dou de ombros.

"Não queria ficar sozinha."

"Por que não foi procurar a nossa mãe?"

"Se você não quer a minha companhia é só falar."

"É que como eu não sou o seu irmão favorito, me surpreende que você venha buscar logo a minha companhia", ele comenta.

"Eu nunca disse que você não é o meu irmão favorito."

"E nem precisava, eu sei que você sempre gostou mais do Zeca."

"Cadú, você colocava fogo no cabelo das minhas bonecas", digo lembro-o de suas traquinagens. "Talvez, seja por isso que eu procurava o Zeca para brincar comigo e não você. Mas, isso não quer dizer que eu não gosto de você. Você é o meu irmão caramba!"

"Eu colocava fogo no cabelo das suas bonecas porque não podia bater em você."

"Ou colocar fogo no meu cabelo", comento e nós dois caímos na gargalhada.

"Mais ou menos. Você é bem irritante às vezes, mas bater em mulheres vai contra os meus princípios", ele diz e o seu comentário traz a lembrança do general me sacudindo violentamente.

Passo os olhos pelas marcas deixadas nos meus braços e um tremor percorrer todo o meu corpo.

"Sinto muito por isso", Cadú diz indicando os hematomas. "Eu não queria machucar você."

"Não foi culpa sua. Foi ele quem fez isso comigo", digo voltando minha atenção para Cadú. "Obrigada por me salvar do general", levanto-me do banco para estalar um beijo na bochecha do meu irmão. "Você é o meu herói."

"Parece que até para isso eu tenho concorrência", ele diz e o seu comentário me deixa confusa. "O Schmidt", Cadú explica e suas palavras aumentam ainda mais aquele vazio dentro de mim.

"Acho que ele está mais para príncipe encantado", murmuro. "Bom, acho que vou deixar você terminar seu treino."

"Você pode ficar", Cadú diz.

"Obrigada", digo assumindo meu lugar no banquinho outra vez.

"Quer dar uma volta mais tarde? Vou me encontrar com alguns amigos e você pode ir junto, se quiser."

Essa é a primeira vez em todos os meus dezoito anos que Cadú me convida para me juntar aos seus amigos. Não resisto e acabo rindo daquela situação.

"O que foi agora?"

"Você nunca foi tão bonzinho comigo, Cadú", digo em meio aos risos.

"Então acho que é melhor eu voltar a ser malzinho, antes que você diga que eu também sou um rapaz adorável", ele diz imitando a voz da nossa mãe dizendo o mesmo que disse de Toni.

Um Grito de Liberdade (CONCLUÍDA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora