CAPÍTULO 20

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Levo adiante a ideia dos bolos, aproveitando a primeira oportunidade para conversar com Rosa sobre o assunto.

Combino de nos encontrarmos no final do expediente de trabalho dela antes de seguirmos para a casa onde ela mora com a filha e a neta, a fim de termos uma conversa mais tranquila, já que na cozinha da minha casa não é viável.

"Preparei um lanchinho para você", ela diz, entregando-me uma sacola de papel com dois sanduíches. "Um para você e outro para o seu namorado", Rosa diz e eu sinto meu rosto, levemente, corar.

"Ele não é o meu namorado", corrijo-a.

"Não foi o que me pareceu."

"Somos... mais do que amigos", digo usando as mesmas palavras que Toni usou. "Pode, por favor, fazer mais dois? Para minhas colegas da faculdade."

Ou serei obrigada a aguentar  os comentários irritantes da Cecília - acrescento para mim mesma.

Rosa assente e se ocupa do preparo.

"Bom dia, filha", minha mãe diz entrando na cozinha já cedo.

"Bom dia", respondo, estranhando vê-la acordada assim tão cedo.

"Você já sabe o que vai fazer no feriado?" Ela pergunta parando ao meu lado.

"Ainda não", respondo. "Ana quer que eu vá para São Paulo visitá-la, mas ainda não me planejei para isso."

Minha mãe abre um sorriso ao me entregar um envelope. Lanço um olhar desconfiado para ela enquanto recebo o envelope, abrindo-o e expondo o conteúdo: duas passagens para São Paulo.

"Como você sabe, seu pai e eu vamos viajar de cruzeiro e o seu irmão estará em Salvador. Então, não vejo muito sentido você permanecer sozinha aqui em casa".

Como seu eu não passasse por isso todos anos nesse mesmo período.

Não é novidade para mim, meus pais aproveitarem o feriado prolongado para passar sete noites a bordo de um luxuoso cruzeiro, navegando pela costa brasileira, desde Santos até Angra dos Reis, em comemoração às bodas de casamento.

E assim como todos os anos, eu ficava em casa sob os cuidados do meu irmão Cadú. Que por sua vez, não gostava nem um pouco da ideia.

Apesar da confusão do final de semana, os planos para meus pais e meu irmão não se alteraram. Pelo menos para eles, o céu continua azul e o sol brilhando.

Por mais que a ideia de viajar sozinha pela primeira vez na minha vida para passar cinco dias aproveitando a companhia da minha melhor amiga me agrade, hesito em aceitar as passagens. Pelo simples fato de que foram comprados com o dinheiro do general.

"São presentes!" Minha mãe diz, como se lesse meus pensamentos. "E presente não se devolve", ela acrescenta.

"Então vamos combinar: daqui para frente, nada de presentes", advirto-a.

Ela sorri e lança uma piscadela para mim.

Rosa termina de preparar os dois sanduíches extras, entregando-os para mim. Guardo-os na minha mochila, juntamente com as passagens aéreas.

"Tenho uma novidade que deixará a senhora bem contente", digo fazendo uma pausa dramática de suspense. "Vou dar aulas de balé para as crianças do Instituto Luís Fernando Schmidt", anuncio.

Pega de surpresa, minha mãe demora a processar a informação até finalmente, exclamar animada com a notícia.

"Agradeça ao Toni por ter me convencido a dar aulas."

"A Alice ficará eufórica quando souber disso", Rosa diz.

"Eu sei, e esse foi um dos motivos que me fez aceitar o convite."

Um Grito de Liberdade (CONCLUÍDA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora