CAPÍTULO 22

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Ficamos sem saber o que fazer enquanto aguardamos, ansiosas e preocupadas, pelo horário de visitas no hospital. Desse modo, depois que tomamos café da manhã, Ana e eu buscamos por alguma atividade capaz de distrair nossos pensamentos e canalizar todo aquele nervosismo que estamos sentindo. Para mim, nada funciona melhor do que encontrar alguma coisa para organizar. Já para Ana, nada como uma leitura de um dos seus romances favoritos, ou até mesmo, um novo romance aguardando para ser lido em sua estante repleta de outros livros novos.

Com a autorização da minha melhor amiga, assumo a tarefa de colocar seu armário em ordem de acordo com os meus padrões de organização. Ana pega um exemplar e acomoda-se na cama ao mesmo tempo em que eu me coloco a trabalhar em seu guarda-roupa.

Algumas horas se passam quando enfim termino de arrumar seu armário. Todas as peças estão separadas por cores organizadas em ordem alfabética; dessa vez, até eu me surpreendo com o resultado: amarelo, azul, branco, cinza, laranja, marrom, preto, rosa, roxo, verde e vermelho; dispostas em cabides seguindo suas variações de tonalidades.

Com Ana ainda absorta em sua leitura, passo a organizar sua estante de livros, demorando-me na distribuição dos livros e recolocando-os de acordo com a ordem alfabética.

"O que você está fazendo?" Ana questiona, atraindo a minha atenção. Volto-me para minha amiga, encontrando-a boquiaberta encarando sua estante. Interrompendo a leitura, Ana salta da cama e vem até mim. "Não se separa os livro de uma série", diz reorganizando os livros. "Você vai arrumar tudo como estava", ordena quando percebe que meu trabalho já estava quase terminado.

Solto uma risada da reação dela, que apesar de estar furiosa comigo, me ajuda a voltar a estante na organização inicial.

"Você deveria buscar ajuda, sabia?" Ana pergunta, passando mais alguns livros para serem colocados na ordem correta.

"Para encontrar mais armários para arrumar?" Rebato, indicando por sobre o ombro na direção do guarda-roupa da minha amiga, que balança a cabeça incrédula.

Ana abandona a tarefa, deixando-me sozinha para terminar a organização dos livros, para avaliar o meu outro trabalho; percorrendo com os dedos suas roupas penduradas em cabides.

Ela puxa uma peça, trazendo-a para mim. Posicionando o vestido frente ao meu corpo, Ana insiste até que eu aceite provar a peça de roupa. Apenas para agradá-la, decido atender seu pedido. Porém, esqueço-me que os hematomas ainda estão perceptíveis na minha pele e sou lembrada da presença das marcas deixadas nos meus braços no instante em que Ana me encara com os olhos arregalados.

"O que aconteceu aqui?" Ana pergunta tocando meu braço. "E aqui? Aqui e aqui?", ela questiona aprontando para as marcas mais visíveis em tons amarelados; tanto nos braços quanto na lateral esquerda da minha coxa.

"Não foi nada", digo na tentativa de convencê-la a esquecer do assunto.

A última coisa que eu quero é trazer as lembranças da briga que tive com o general. No entanto, minha amiga não se dá por satisfeita e cruza os braços enquanto espera pela verdade.

Respiro fundo e solto um longo suspiro.

"É uma longa história", digo reunindo coragem para começar o relato.

Ana fica horrorizada quando eu termino de contar todos os acontecimentos que causaram os hematomas no meu corpo.

"Por que você não me contou isso?" Ela pergunta visivelmente irritada.

Dou de ombros.

"Você já tem problemas demais para eu acrescentar os meus", respondo.

"Meu Deus, Lisa! Nós somos amiga há quase duas décadas para você esconder algo tão sério assim de mim."

Um Grito de Liberdade (CONCLUÍDA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora