CAPÍTULO 30

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Meu quarto está mais claro do que deveria. Pisco alguma vezes para afastar o sono e quando meu olhar foca na janela, me dou conta que, de fato, o dia já amanheceu. O que significa que perdi a hora de me levantar. Pulo da cama e saio em busca do meu Iphone até me lembrar que o maldito – e único meio de despertar pela manhã – ficou esquecido no porta-luvas do carro.

Droga!

Abro meu Macbook, a fim de conferir quanto é o meu prejuízo e quando meus olhos pousam no canto da tela, onde o relógio digital marca 7:30 da manhã, disparo para o meu closet.

Droga!

Visto a primeira roupa que encontro: um jeans qualquer que apanho no cabide, uma t-shirt branca de malha e meu All Star.

Prendo os cabelos em um coque frouxo, sem nem ao menos penteá-lo, ao mesmo tempo em que tento escovar, apressada, meus dentes.

Uma única olhada no espelho do banheiro só comprova o quanto minha aparência está péssima. E depois de passar horas a fio deitada, abafando o choro com as almofadas da cama, as olheiras debaixo dos olhos inchados pelas lágrimas se destacam na palidez do meu rosto.

E começar o meu dia pulando meu sagrado ritual matinal não é um bom sinal. Sem tomar café da manhã e ignorando tanto o semblante de poucos amigos do meu irmão quanto o "bom dia" apreensivo da minha mãe, corro para a garagem.

Insisto no meu iPhone esquecido apenas para me certificar que não há nenhum sinal de bateria; completamente descarregado.

Droga!

Como se o universo conspirasse contra mim, todos os semáforos do trajeto da minha casa até a faculdade estão fechados, atrasando-me ainda mais. Finalmente, depois de perder tempo demais com o trânsito, consigo chegar ao estacionamento. Meu atraso também implica em conseguir encontrar uma vaga disponível. Rodo o estacionamento e nada. Depois de dar três ou quatro voltas, consigo localizar uma única vaga escondida do outro lado do campus e completamente afastado do bloco 5.

A chuva que já dura alguns bons dias molha meus cabelos assim que desço do carro. Por mais que não seja uma chuva muito forte, é o suficiente para umedecer minha roupa, me fazendo concluir que essa não foi uma das melhores escolhas para encarar essa frente fria atípica para esta época do ano. Pelo menos minha t-shirt é de mangas longas.

Atravesso o campus correndo e quando adentro ao prédio da Escola de Artes e Comunicação, meus tênis está todo molhado, assim como parte do meu jeans, molhado até os joelhos; minha blusa branca, parcialmente transparente.

Por um momento, me arrependo de ter colocado os pés para fora da cama quando um arrepio percorre meu corpo e eu estremeço.

Assim que coloco os pés dentro do bloco, deparo-me com um Toni visivelmente preocupado - de um jeito que eu nunca vi - caminhando na minha direção.

Tento ignorar a agitação em mim ao vê-lo e o aperto no peito, que dura desde o dia anterior, não me ajuda em nada, quando sigo na direção da minha sala de aula, sabendo que não será possível concluir meu trajeto sem passar por ele.

Quando, enfim, me alcança, Toni não diz nada. Ele apenas me abraça e me aperta para junto dele, me desarmando completamente quando respiro fundo aquela sua intrínseca fragrância; enterrando meu rosto na curva do seu pescoço, onde o aroma é ainda mais intenso.

"Você não faz ideia de como eu fiquei preocupado", ele sussurra de encontro ao meu cabelo. "Pensei que alguma coisa tivesse acontecido", sua voz falha e Toni me aperta ainda mais.

"Como pode ver, estou bem", sussurro em resposta. "Só um pouco atrasada."

"Você nunca se atrasa."

Um Grito de Liberdade (CONCLUÍDA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora