Capítulo 14

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Darcy decidira colocar um ponto final naquela indecisão de uma vez por todas e tirar a limpo o que Elizabeth sentia por ele. E seria hoje, mais precisamente, depois de marcarem a data do casamento.

Era melhor deixar tudo em pratos limpos, antes de estarem morando sob o mesmo teto. Ou a situação ficaria insustentável. Visto que Darcy claramente não podia mais negar ou fingir não sentir-se atraído, além do que deveria por sua noiva. Poderia até ser irônico, apaixonar-se pela própria noiva, que coisa horrível, não é? Seria cômico, não fosse desesperador. E se Elizabeth não o correspondesse? O que faria com aquele sentimento, tendo-a todos os dias em seu apartamento, desafiando sua sanidade? Aguentaria? Resistiria? Porém, após relatar a Charles toda a verdade referente aquele relacionamento até então de fachada, já não era possível manter-se na zona de conforto em que encontrava-se anteriormente. Era hora de agir ou jamais saberia o que era estar genuinamente apaixonado, como o amigo mesmo o aconselhara.

— Diga o que sente e mande para o inferno essas regras idiotas que criou. — Charles argumentou, ao final de seu relato. — Elizabeth é um mulherão, não pense que ficará para sempre disponível. Seja homem e assuma que está apaixonado! Já estava na hora de ter alguém que valesse a pena em sua vida e tenho certeza de que essa pessoa é Lizzie. — concluiu ao telefone em um tom incisivo, que raramente usava, diga-se de passagem. No entanto, mais animado do que deveria para aquela hora da madrugada.

Aliás, contrariando suas expectativas, Charles não ficou bravo por Darcy mentir sobre o casamento. Pelo contrário, achou que foi a coisa mais absurda e inacreditável que já fizera na vida, graças a isso, ele foi facilmente perdoado. Com a condição de que tornasse o noivado real, pois estava na cara que Darcy estava irrefutavelmente apaixonado. Antes mesmo de saber a verdade, Charles alegou enxergar nos olhos do amigo, o sentimento que já sentia por Elizabeth.

Portanto, após desabafar e finalmente reconhecer os próprios sentimentos, Darcy resolveu dormir. Afinal, no outro dia pela manhã, eles marcariam a data do casamento, o que mudaria para sempre suas vidas. De uma forma ou de outra, isso ele já sabia, porque, obviamente, Elizabeth fez questão de esfregar em sua cara que verdadeiramente mudaria tudo o que Darcy até então planejara para si. E, um pouco mais aliviado, mas, ainda incrivelmente nervoso, ele conseguiu pegar no sono.

Na manhã seguinte, mal se alimentou, apenas engoliu um café preto e foi buscar a noiva e Jane; que seria, juntamente com Charles, as testemunhas de casamento.

Charles, por sinal, fez questão de reforçar sua opinião referente àquela situação nada ortodoxa. Apesar de um tanto surpreso pela ousadia do amigo — em pedir para Elizabeth casar-se com ele, em tais termos — demonstrava uma felicidade genuína por estarem a caminho do cartório.

— Charles, é um acordo comercial até o presente momento, por que está tão alegre? — Darcy quis saber, não entendendo a euforia desenfreada do amigo.

— Hoje é um grande dia, meu querido Darcy. — devolveu sorrindo de orelha a orelha. — Você logo será amarrado por aquela mulher maravilhosa e creio que em breve esse casamento não será mais apenas um acordo. — ponderou convicto.

— Não afirmaria com tanta certeza, nem sei se Elizabeth me ouvirá — Darcy imediatamente rebateu —, se a conhecesse como eu conheço, saberia o quanto ela é arisca e teimosa, não me dá chance alguma de expor meus sentimentos. — sorriu ao dizer isso, lembrando das bochechas coradas de Lizzie e do nariz que enrugava um pouquinho quando ficava suficientemente brava.

Apesar de estar um bocado chateado e enciumado por conta do almoço de Elizabeth com Wickham, ele não conseguia aprofundar-se em tal sentimento. Mesmo agindo um pouco frio com Lizzie na tarde anterior e esclarecido com o olhar, que não aprovara tal atitude, já tinha deixado para trás e estava ansioso por vê-la.

Contudo, não menos importante, os irmãos chineses e sócios das indústrias Chun também estariam presentes. Ambos não perderiam aquele evento por nada, ainda que não fosse o casamento propriamente dito. Desse modo, Darcy seguiu em direção ao apartamento de sua noiva.

— Acalme-se. — Charles pediu, dando um sorrisinho zombeteiro.

— Para você é fácil falar. — Darcy revidou, sentindo o coração cada vez mais acelerado, a medida que chegava perto do apartamento das irmãs.

— Um dia eu estarei em seus sapatos, meu caro Darcy. — Bingley protestou e outro sorriso singelo surgiu em seus lábios.

— Ora ora, já está até pensando em se casar? — Darcy devolveu, olhando-o de esguelha.

— Quem sabe, meu amigo. Tudo pode acontecer. — deixou a ideia no ar e ambos sorriram juntos.

E, logo em seguida, chegaram ao destino.

Elizabeth, que tentava em vão conter o nervosismo, estava a ponto de explodir feito um ovo que passou do ponto no fogo. Tentando disfarçar o máximo que podia às emoções, cumprimentando ambos com naturalidade.

Darcy, por sua vez, achou que Elizabeth mais parecia uma fada, de tão linda que estava naquele vestido azul turquesa. Que era muito propício para o que a ocasião pedia.

"Que mulher.", pensou e abriu um sorriso involuntário, quando sentiu os lábios coloridos de Elizabeth tocarem suavemente sua bochecha.

— Todos prontos? — Jane jogou uma indireta, constando que Darcy não conseguia se mover do lugar.

— Prontos nós estamos, só dê um tempinho ao Darcy. Ele precisa respirar um pouco, antes de seguir, sabe como é... — Bingley, como sempre brincalhão, não perderia a oportunidade de zombar do amigo.

Elizabeth, em contrapartida, também estava boquiaberta, observando aquele homem tão lindo e imponente, ali, parado em sua frente. Completamente absorto, encarando-a com os olhos brilhando, enquanto segurava a ponta de seus dedos com delicadeza.

"Estaria Darcy apaixonado por mim?",   questionou-se e sacudiu a cabeça na sequência, quebrando assim o encanto.

— Precisamos ir, do contrário chegaremos atrasados. — apontou e Darcy pareceu voltar a si também.

— Tem razão. — concordou. — Você está realmente linda.

Elizabeth abriu um sorriso de canto e gracejou:

— Obrigada, você também não está nada mal.

Ele coçou a nuca, denotando certo embaraço, enquanto um sorriso preguiçoso e despreocupado surgia em seus lábios.

— Vamos, então. — disse por fim e entrelaçou os dedos aos de Elizabeth.

Fazendo o peito de Lizzie arder com aquele gesto. Darcy a guiou até o banco do carona e abriu a porta para que ela entrasse. Ao passo que Charles foi com Jane atrás, lhe enchendo de carícias sutis e singelos beijinhos na bochecha, disposto a não borrar a maquiagem elaborada da namorada.

— Vocês duas estão um arraso de tão lindas. — Charles elogiou, mas, estava claro que sua atenção recaia principalmente em Jane.

No que ela apenas sorriu em resposta.

— Você é muito gentil, Charles. — ficou para Elizabeth a incumbência de agradecer, olhando pelo retrovisor central do carro.

E, um segundo após, os quatro partiram para o cartório, onde encontraria os chineses para finalmente marcarem a data do casamento.

Procura-se uma esposaWhere stories live. Discover now