Capítulo 22

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Darcy entrou no carro, após enxugar as muitas lágrimas teimosas que caíam, e seguiu para o hospital. Precisava conversar com Beatriz e entender aquela situação, apesar de não culpá-la pelo ocorrido. Na sequência, falaria com Elizabeth e colocaria seu plano em prática. Era melhor deixá-la livre, assim, quem sabe, sua burrada não a prejudicaria tanto. Era seu último pensamento e ponto final. Não queria de forma alguma afastar-se de Lizzie, não agora que sentia-se tão pleno e feliz, como nunca ousara sentir-se antes. Por que a vida tinha que ser tão injusta e amarga, afinal? Só queria amá-la e conseguir aquele bendito contrato, não era muito, era? Tanto sofrimento por causa de uma decisão infundada!

Não obstante, a melhor decisão de sua vida. Jamais voltaria atrás, se significava não ter Elizabeth por perto. Tocá-la, beijá-la, poder abraçá-la e confortá-la quando ela precisava, fazia o mundo de Darcy ter novamente sentido e nunca abriria mão disso, nem por sua empresa. Mais lágrimas escorreram de seus olhos, agora já inchados e vermelhos, devido ao choro não contido.

Droga, ele era um homem, não podia se render assim, ou podia? Homens podiam chorar e choravam! Respirou fundo, sentindo a visão turva devido às muitas lágrimas, mas continuou. Se fosse para seu apartamento antes perderia toda a coragem. Ele, pragmático e metódico, mais uma vez, estava indo de encontro à uma decisão impensada. Poderia rir, se não fosse trágico. Só que era, Darcy estava a um passo de abrir mão de seu maior presente, o amor de Elizabeth.

Ao chegar ao hospital, em vão, tentou disfarçar a cara de sofrimento para não assustar Elizabeth. Só que era impossível, lavou o rosto no banheiro, antes de anunciar sua presença à recepcionista. Sendo direcionado ao quarto onde Beatriz estava, não antes de receber um sorriso cheio de dentes da atendente, que Darcy se quer percebeu. Se tinha Elizabeth para que prestar atenção em outras mulheres? Nenhuma chegava aos pés dela. Seguiu andando, crente que provavelmente encontraria Elizabeth e sua coragem vacilou. Faria isso realmente? Terminaria tudo por causa de um momento crítico?

Que tipo de homem seria se não fizesse? Estaria Elizabeth fadada a sofrer as consequências de seus atos? Ela mesma que há meses havia alertado sobre a gravidade de inventar tal mentira. Era o mínimo que poderia fazer, poupá-la de tudo o que ele teria de enfrentar, para "limpar" seu nome. Decidido, caminhou em direção ao quarto, ciente de que depois não poderia voltar atrás. Encontrou Jane, Charles e Elizabeth vindo de encontro a ele no corredor e travou. Charles o mataria se soubesse sobre sua decisão e pensamentos e não poderia culpá-lo. Era merecedor de todos os castigos possíveis e imagináveis, por se quer cogitar abrir mão de Elizabeth. Mas era preciso.

— Oi, eu preciso falar com a Beatriz. — anunciou, abatido, tentando inutilmente disfarçar ainda mais seu estado emocional.

— Você está bem, meu amigo? Como foi na empresa? — Charles quis saber, colocando a mão sobre o ombro dele.

— Depois eu explico. — desconversou, baixando os olhos.

Charles assentiu, relutante e Lizzie se jogou nos braços de Darcy.

— Meu amor, que bom que está aqui! — exclamou, com os olhos cheios de lágrimas.

Nesse instante seu coração trincou um pouco mais, como seria capaz de fazer o que era necessário? Nem em um milhão de anos se perdoaria por terminar com Elizabeth.

— Eu preciso falar com a Bia, depois conversamos. — e, com certa frieza, ele beijou o topo da cabeça de Elizabeth.

Quase desistindo da ação.

Elizabeth, que já estava fragilizada, sentiu imediatamente a falta de calor em suas palavras. No entanto, preferiu ignorar, compreendendo que a situação era crítica o bastante e por certo Darcy precisava assimilar tudo aquilo. Mesmo que em seu interior pensasse que ele tinha outros motivos para estar tão abatido e triste.

E ele, sem mais demora, avançou em direção ao quarto, deixando-os para trás. Completamente lúcida, Beatriz encarou Darcy e sentiu seus olhos marejarem, sabia que havia feito algo imperdoável e se pudesse voltar atrás, voltaria. Contudo, nada mais poderia ser feito, a não ser tentar minimizar os males e pedir perdão, foi o que fez.

— Darcy, me perdoe... — foi dizendo, eu estava chateada por causa das suas constantes recusas e acabei aceitando tomar um drink com o George, só que ele praticamente me embebedou, me dando diversas misturas uma atrás da outra, enquanto fingia que bebia comigo. Foi quando eu comecei a contar tudo, sobre o casamento arranjado que eu tinha quase certeza, sobre seu desejo de fechar aquele contrato... — soluçou — Eu não queria, não fiz por mal, só desabafei e causei o maior estrago na sua vida.

— Tudo bem — Darcy aproximou-se de sua cama, algo lhe dizia que Beatriz havia sido tão vítima quanto ele. — George sabia aonde procurar e encontrou o que queria, eu só preciso me certificar de que você está bem.

— Não, não estou nada bem, eu estraguei tudo pra você. Eu me sinto culpada, agora Elizabeth pensará que eu sou uma víbora, sendo que ela foi tão gentil comigo hoje. Como posso olhar para vocês dois depois do que eu fiz? — e seus ombros começaram a sacudir, devido ao choro.

Darcy, sendo cavalheiro, acabou por consolá-la, acariciando seus cabelos loiros. Um pouco reticente, querendo não ser mal interpretado.

— Está tudo bem, de verdade. Eu vou dar um jeito — garantiu e sorriu fraco. — Eu sempre dou.

— É diferente, Darcy — fungou — Eu vi as notícias sensacionalistas nos programas de fofocas, todos falando de você e de Elizabeth, de como tentaram enganar aqueles malditos chineses! Eu sempre soube que seu noivado era de fachada e tentei me aproveitar disso, mas, quando percebi que era real, aceitei. Jamais quis prejudicá-lo, muito menos Elizabeth. Sim, eu sentia muito ciúmes dela e ainda sinto, só que eu me convenci de que você estava feliz e isso me bastava. Foi um momento de fraqueza que eu aceitei sair com George, ele devia ter premeditado tudo e eu fui tola suficiente para cair em sua armadilha. — e se aninhou ainda mais em Darcy.

— Ei, Bia! — Darcy chamou sua atenção para si, buscando seu olhar e quando continuou, foi olhando bem dentro dos olhos verdes de Beatriz: — Não se culpe, George teve seus motivos para me prejudicar, você não pode e não deve carregar esse peso. Se perdoe, eu não estou bravo com você, nem Elizabeth, posso garantir. Ela é a mulher mais incrível desse mundo e eu gostaria que vocês fossem amigas. Porque você é sim especial para mim, como uma amiga querida, mas ela é a mulher que eu amo e sempre amarei. — declarou, querendo colocar um ponto final naquilo.

Não queria que Elizabeth o visse e imaginasse coisas, ainda que estivessem em uma situação complicada e nada ortodoxa. Não gostaria de magoá-la além do necessário.

— Obrigada — disse por fim, afastando-se de Darcy. — Espero que vocês superem isso e que a empresa não seja prejudicada, nem sua carreira.

— Eu vou dar um jeito — Darcy afirmou, forçando um sorriso. — Se cuide, eu preciso ir agora, mas te ligo para saber como você está.

— Não se preocupe comigo. — respondeu, limpando o rosto. — E obrigada por me trazer ao hospital, minha avó deve ter ficado muito preocupada, eu vou ligar para ela agora e tranquilizá-la.

— Está bem, se precisar de alguma coisa me avise. — adicionou, girando os calcanhares para sair do quarto, quando Beatriz acrescentou:

— Elizabeth é uma mulher maravilhosa, mas você já sabe, não faça nada de que irá se arrepender depois.

Darcy assentiu, com o coração sangrando e virou-se.

Estava justamente indo fazer algo de que se arrependeria amargamente depois.

Procura-se uma esposaWhere stories live. Discover now