Capítulo 20

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Darcy recusava-se a assistir a qualquer reportagem abordando seu casamento fajuto, foi direto para a empresa, juntamente com Elizabeth, que só teve tempo de trocar de roupa. Darcy, porém, nem isso fez. Precisava tirar aquela história a limpo, enquanto deixara Charles e Jane se acertando em seu apartamento, ele e Lizzie seguiam para a Darcy's company, já sabendo o que os aguardaria. Darcy sentia que os chineses agiram como ratos, pelas costas, se quer conversaram antes de espalharem a notícia sobre o falso casamento. Preferiram expô-lo ao ridículo daquela forma. Todavia, estranhou não ter recebido nenhuma ligação até aquele momento, mesmo com o assunto correndo na mídia como cupim se espalhando. Temeu que o senhor Chan estivesse tramando algo pior, já que de todos os acionistas, ele era o que mais o preocupava.

Foi quando um pensamento ocorreu à Elizabeth, que, por mais que notasse os sentimentos de Beatriz. Se recusava a acreditar que ela os teria delatado, Beatriz fazia o tipo leal, que jamais trairia Darcy. Já Wickham... Ele sim teria motivos, suas múltiplas recusas, ele podia estar querendo se vingar. Amaldiçoou-se em pensamento, suas atitudes por certo colocaram tudo a perder. Se tivesse aberto o jogo com Darcy, contando-lhe que era sempre rondada por George nas últimas semanas. Talvez as coisas não estivessem saindo do controle daquela forma, foi o que pensou. Era tudo sua culpa. Decidida, virou-se minimamente para Darcy, que dirigia em silêncio, mergulhado em suas próprias divagações. Elizabeth achou que conseguiria lidar com um assediador sozinha, mas entendeu que, se estava em uma relação, era para compartilhar qualquer assunto. Inclusive aqueles que ela não queria compartilhar. 

— Darcy, preciso te contar uma coisa... — iniciou, temerosa. — Eu acho que não foi Beatriz a culpada de tudo isso, acredito que George teria muito mais motivos. Considerando o caráter de Beatriz, ela jamais o trairia assim. — puxou o ar com força, para em seguida completar — George estava me assediando há algum tempo e eu sempre o recusava, talvez ele tenha conseguido achar um jeito de descobrir a verdade. Para me afetar.

— Está me dizendo que guardou esse segredo de mim todo esse tempo? — Darcy ousou espiar Elizabeth de canto, que apenas fez que sim com a cabeça. — Pensei que fossemos parceiros, eu te conto tudo, até mesmo o que eu sei que você não gostaria de saber. Sou completamente claro com você, mesmo tendo a mesma dificuldade de me abrir totalmente.

— Me desculpe, pensei ser bobagem e achei que conseguia lidar sozinha. — suspirou, arrependida. — Eu simplesmente não quis causar um conflito sem necessidade, já que George é assistente de um dos chineses mais insuportáveis e... — não tinha mais desculpas, fora imatura e preferiu esconder de Darcy aquele assunto, por julgar bobo demais aos seus olhos.  

Frustrado, bateu a mão sobre o volante e emburrou, estava visivelmente chateado, mas não era o momento para tratar daquele assunto. O culpado era o de menos, se não fosse Beatriz tão melhor, apesar de tudo, ele não gostaria de saber que foi apunhalado pelas costas daquela maneira, sobretudo por alguém próximo. Em contrapartida, saber que Elizabeth escondera algo dele era ainda pior, sentia-se um tolo, abriu o coração como nunca, para descobrir que ela ainda guardava segredos dele. Era bobagem, sabia, mas, na atual conjectura dos fatos, aquilo o magoou ao extremo. 

— Está tudo dando errado, mas descobrir que você ainda não confia em mim, da mesma forma que eu confio em você. Foi a pior notícia que recebi. — deu meia volta e fez o caminho inverso, seguindo para outro lugar, algo lhe dizia que Beatriz não estaria na empresa.

— Darcy, eu sinto muito... — Lizzie desviou os olhos, sentindo às lágrimas  se formarem como uma forte tempestade que se aproximava, sempre estragava tudo.

Era seu destino.

— Tudo bem, Elizabeth. — Darcy garantiu, mas seu tom não demonstrava convicção. — Temos coisas mais importantes para resolver.

Lizzie sentiu o coração trincar, ao ouvi-lo chamá-la de Elizabeth tão friamente, mas ele estava certo. Aquele não era o momento para discutirem.

(...)

Ao chegarem a pequena casa onde Beatriz morava com a avô, os portões foram abertos ás pressas. A senhorinha, dona Henriqueta, estava aflitíssima, pois Beatriz mergulhara em um estado catatônico, segundo ela, desde que vira a notícia sobre o falso casamento do patrão. Que seria Darcy.

— Aonde ela está, dona Henriqueta? — Darcy quis saber, preocupado.

— No quarto, a menina Beatriz não comeu nada o dia todo, só fica repetindo minha culpa, minha culpa. — e a senhorinha começou a chorar, foi quando Lizzie partiu em seu consolo, abraçando-a com carinho.

— Vai ficar tudo bem, vamos ajudar sua neta, está bem? — Elizabeth proferiu, alisando os cabelos ralos e brancos da senhora.

— Vamos, vou levá-los ao quarto dela. — dona Henriqueta, tentando se recompor, guiou o casal até o local em que Beatriz encontrava-se.

E, ao abrir a porta, Darcy sentiu até um aperto no coração, Beatriz se balançava sem parar na cama, repetindo desconexamente a mesma frase.

— Ela está em choque. — Darcy foi entrando, parando ajoelhado em frente à Beatriz. Ele pegou delicadamente sua mão e recebeu o olhar apavorado dela em resposta. — Está tudo bem, Bia. — garantiu, sorrindo de canto. — Não foi sua culpa, está tudo bem. — e, olhando para Elizabeth, que sentia extrema compaixão por Beatriz, completou — Precisamos levá-la ao hospital, pode ter acontecido alguma coisa que não sabemos. 

Dona Henriqueta ajeitou Beatriz e, quando os três já estavam no carro, ela agradeceu:

— Obrigada, senhor Darcy, cuide da minha neta. Eu já não tenho mais forças... 

— A senhora podia ter me ligado, quando qualquer coisa de ruim acontecer, pode me contatar, tudo bem? — pediu, tentando soar amistoso, mas firme e seguro principalmente.

Dona Henriqueta apenas fez que sim com a cabeça, abençoando os três, que se foram.

— Meu Deus, o que será que aconteceu com ela? — Elizabeth divagou, aflita.

— Eu não sei, mas agora acho que estou começando a entender. — Darcy finalmente montava o quebra-cabeças. — George deve ter se aproximado de Beatriz para conseguir informações privilegiadas, ele provavelmente sabia aonde procurar. Levando em conta que ela não abriria para imprensa, talvez Wickham tenha feito algo para que Beatriz contasse a ele, não sei ao certo. Mas é o que me parece. Só não compreendo porque nenhum dos acionistas chineses entraram em contato comigo ainda, querendo tirar a história a limpo. Nenhum dos acionistas menores da empresa me contatou também, isso não está me deixando mais seguro. — respirou fundo, estreitando os olhos e se recordando de uma cláusula que ele mesmo estabelecera, quando formaram a nova diretoria da empresa. — Eu tô ferrado!

— O que houve? — Elizabeth quis saber.

— Entendi porque ninguém me contatou até agora, devem estar nesse mesmo momento me destituindo do cargo de CEO. — sua voz soou baixa e grave.

— Como poderiam fazer isso? Você é o acionista majoritário!

— Mas eu cometi um deslize e graças ao meu erro, os acionistas menores, que sempre quiseram minha cabeça. Enfim conseguirão o que querem, minha empresa. — Darcy sentia que o cérebro pesar, o controle de sua vida acabara de escapar de suas mãos. — Lizzie, preciso ir urgentemente até a empresa, eu mesmo assinei uma das clausulas da diretoria, em caso de escândalo ou corrupção por parte de qualquer acionista, este será destituído da diretoria. Quer escândalo maior do que nosso falso casamento? Sinto te colocar no meio disso, eu poderia dizer que me arrependo, mas, se não fosse esse acordo eu não teria me envolvido com você. Então, se o meu deslize custar minha empresa, ainda assim, eu quero que saiba que não mudaria nada. Se significa tê-la ao meu lado. — não era o momento ideal, mas precisava dizer o que sentia.

Apesar de estar chateado com Lizzie, Darcy a amava.

— Vai dar tudo certo, eu te amo. — Elizabeth declarou, sorrindo timidamente, por ouvi-lo dizer que ela valia a pena.

Mesmo diante daquela situação crítica.

Dito isso, Darcy selou os lábios de Lizzie e a deixou cuidando de Beatriz, no hospital mais renomado de São Paulo. Partindo para a empresa, disposto a salvar sua cabeça, custe o que custasse. 

Procura-se uma esposaWhere stories live. Discover now