VII - O naufrágio da nau Santa Rosa

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Olhei feio para ela, que ria descaradamente de mim. O sol reproduzia uma aura ao redor de seus cabelos cacheados e volumosos, enquanto ela me sombreava, ajoelhada em minha frente. Eu sentava de modo desajeitado, após tomar um imenso susto com sua aparição repentina. Quase espalhei pela areia as moedas que estavam no saquinho de pirata dela.

-Você não vai me contar de onde essas moedas vieram, não é? - Perguntei quando me recompus, apontando para o saquinho de couro, mas ela fez um biquinho contrariado e revirou os olhos.


-Para que queres saber? Se estás a ir contar para aquela rapariga que te acompanha? Não hei de dizer-te mais nada! - E cruzou os braços como uma criança emburrada. Minha vez de revirar os olhos.

-Tu sabes que tens pelo menos trezentos anos, não é mesmo? - retruquei baixinho com severidade. -Estás a agir como criança!

-Prometeste não contar para as Marias Antonietas! - Ela se referia a todas as pessoas brancas comigo.

-Perdoa-me! Tens que compreender que preciso provar pra eles que não podemos retornar ao leprosário! - Expliquei com as palmas das mãos estendidas pra frente. Ela pareceu pensar por alguns momentos, até fazer expressão de decidida.

-Certo. Podes contar para tua sinhá favorita, mas somente para ela! - Ela provocava, zombeteira.

-Não é assim mais, ok? O racismo continua existindo mas a escravidão já acabou, e essas pessoas são minhas amigas.

-Eu tenho conhecimento. Os pescadores possuem aquela caixa que mostra atualidades. - Ela deu de ombros, e eu sabia que estava falando da televisão. Sorri com carinho, mas ela não.

-Então sabes que dependo deles e de tua ajuda para não voltarmos ao perigo, mesmo que me tente. - Afirmei com veemência, e ela estreitou aqueles olhinhos amarelados que tinha.

-Te interessas mais por aquela porta antiga do que pelo resto do tesouro?


Fiquei em silêncio encarando-a. Então era verdade? Não podia ser real. Porém as moedas pesando em meu bolso eram definitivamente reais. Ela piscava para mim, aguardando uma reação.

-Teu tesouro? - Perguntei ainda em incredulidade.

-Sim. Mas se quiseres, pode ser teu. Só precisas removê-lo do fundo do oceano. - Ela me informou como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Arregalei os olhos.

-Não é tão fácil assim! Sabes onde naufragou teu navio? - Questionei vendo que Joey já começava a caminhar novamente em nossa direção, então era urgente coletar aquelas informações.

-Não me recordo. - Ela respondeu como se fosse desimportante, cínica do jeito que era.

-E sabes qual era o nome de tua embarcação? - Questionei, mas ela negou com a cabeça.

-Não me recordo. - Respondeu novamente, de modo irritante.

-Sabes alguma coisa que possa me ajudar a localizar teu navio? - Perguntei por último, já vendo que Josephine chegaria antes de eu poder fazer uma próxima pergunta.


Ela pensou sinceramente, eu podia ver que se esforçava, mesmo com aquele sorrisinho desafiador no rosto.

-Vejamos... Havia uma grande quantidade de tabaco a bordo? - Disse sem certeza.

-Não sei se ajuda. - Cocei a nuca com ansiedade.

-Estávamos indo para Portugal. - Ela disse, mas Josephine chegou e ela desapareceu. Ok, era um começo saber o destino do navio. Joey sentou-se ao meu lado com o notebook em mãos, porém notou que eu estava falando com alguém. Nessa altura ela já voltava usando apenas a parte de cima de um biquíni, sua pele muito tatuada já bastante queimada. Brancos.

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